LARISSA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um dos efeitos da pandemia do novo coronavírus foi a queda drástica dos investimentos diretos de estrangeiros no Brasil. Em comparação com 2019, o volume de aplicações caiu pela metade no ano passado, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (27) pelo Banco Central.
Ao todo, foram aportados US$ 34,1 bilhões no país no acumulado de 2020, contra US$ 69,1 bilhões no ano anterior. O número é o menor desde 2009, quando foram investidos US$ 31,4 bilhões.
“É uma redução [no fluxo de investimentos] importante que decorre do caráter global da pandemia e da recessão, com incertezas ainda muito elevadas”, explicou o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.
Os investimentos diretos, diferentemente das aplicações em ações e títulos públicos, são feitos por empresas que estabelecem um relacionamento de médio e longo prazo com o país e são menos voláteis em crises momentâneas por envolver decisões mais duradouras.
Em dezembro, o ingresso líquido (diferença entre entradas e saídas) foi o menor desde julho de 2016, com US$ 738 milhões, menos da metade do registrado em novembro (US$ 1,5 bilhão).
“É uma redução [no fluxo de investimentos] importante que decorre do caráter global da pandemia e da recessão, com incertezas ainda muito elevadas”, explicou o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.
Ao longo da pandemia, os níveis de investimento deste tipo caíram no país, mas não ficaram abaixo de US$ 1 bilhão. Os menores patamares foram registrados em julho (US$ 1,5 bi) e novembro. Em abril, um dos meses mais críticos da crise, os investimentos somaram US$ 1,6 bi.
Em dezembro, no entanto, os ingressos foram os maiores desde a chegada do vírus no Brasil, com entrada de US$ 12,8 bilhões. As saídas -empresas que retiraram dinheiro do país- também foram elevadas, com US$ 12,1 bilhões, maior valor desde janeiro de 2017.
Para Rocha, dois movimentos explicam o alto volume de entradas e saídas no mês: a conversão de empréstimos entre companhias do mesmo grupo com o pagamento da dívida (e entrada desse recurso no patrimônio da empresa) e a rolagem maior desses empréstimos.
“São operações que se anulam em termos líquidos, porque geram o mesmo valor em saídas e entradas. As conversões representaram US$ 2,3 bilhões em dezembro e tivemos rolagem de 100%”, disse.
Na prática, a conversão é feita quando a empresa precisa ter dinheiro livre em caixa, ou se capitalizar. Já a rolagem é feita quando a empresa empresta novamente o valor à subsidiária, renovando a dívida.
Os investimentos de empresas brasileiras no exterior também foram afetados pela pandemia e fecharam o ano com resultado negativo em US$ 16,4 bilhões, o que caracteriza desinvestimento. Isso significa que as empresas retiraram mais dinheiro do que aplicaram lá fora em 2020. Em 2019, o resultado foi positivo em US$ 22,8 bilhões.
Em contrapartida, o volume aplicado em ações e títulos públicos brasileiros mostrou recuperação. Em dezembro, houve ingresso líquido de papéis negociados no mercado doméstico de US$ 6,3 bilhões.
“No ano, tivemos saída líquida de US$ 8 bilhões. Nos primeiros meses da pandemia, tivemos saídas expressivas nesse mercado. Depois, tivemos recuperação com a diminuição de incertezas, mas não foi integral”, afirmou Rocha.
Esse tipo de aplicação tende a oscilar mais em momentos de crise ou eventos pontuais porque normalmente são investimentos de curto prazo.
Após oito meses de superávit puxados pela balança comercial, as contas externas ficaram deficitárias em US$ 5,3 bilhões no mês. No ano, o resultado foi negativo em US$ 12,5 bilhões, 75% menor que o registrado no ano passado.
A melhora nas transações correntes no ano se deu em decorrência dos resultados positivos da balança comercial durante a pandemia, da diminuição dos déficits de serviços, especialmente de viagens internacionais, e de lucros e dividendos de empresas.
“É o menor déficit [anual] desde 2007, com redução de US$ 38 bilhões. A razão econômica para isso é que a pandemia global causou recessão no país e houve diminuição na demanda de bens e serviços importados, de viagens internacionais e lucros e dividendos”, explicou.
A balança comercial tradicionalmente apresenta superávit em momentos de baixa atividade econômica, já que o país importa mais nas épocas de expansão.
Na prática, todo o nível de comércio exterior diminuiu com a crise. Tanto as exportações quanto as importações caíram, mas a redução no fluxo de entrada de produtos estrangeiros no país foi mais acentuada.
As exportações somaram US$ 210,7 bilhões em 2020, redução de 6,7% em relação ao ano anterior, e as importações ficaram em US$ 167,4 bilhões, um recuo de 9,7%.
Houve, porém, melhora em dezembro, com US$ 18,5 bilhões em exportações, mesmo nível de 2019, e US$ 19,5 bilhões em importações, aumento de 44,8% no período.
Além disso, houve diminuição do déficit em serviços, que inclui viagens internacionais. Como os brasileiros gastam mais lá fora que os estrangeiros no país, a rubrica normalmente tem números negativos elevados, porque os desembolsos lá fora caracterizam despesas.
Com a crise sanitária, as viagens internacionais despencaram e os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 5,3 bilhões, redução de quase 70% em relação a 2019. Turistas estrangeiros desembolsaram US$ 3 bilhões no país, queda de 49%.
Com isso, a conta de viagens internacionais ficou negativa em US$ 2,3 bilhões, número muito menor que o registrado no ano anterior. Em 2019, o resultado foi deficitário em US$ 11,5 bilhões.
Além do medo de contágio e dólar alto, alguns países impuseram restrições para viajantes brasileiros diante da gravidade da pandemia no país, como quarentena, exame negativo para Covid-19 e controle de temperatura, o que também desencoraja os turistas.
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