DANIELA KRESCH
TEL AVIV, ISRAEL (FOLHAPRESS) – Se, em dezembro do ano passado, a Terra Santa recebia o maior número de visitantes de sua história, as festas de fim de ano de 2020 serão como tudo mais na era coronavírus: estranhas e com muito distanciamento social.
Nada de celebrações de Natal para milhares de peregrinos cristãos, procissões e multidões de fiéis em missas nas Igrejas da Natividade, do Santo Sepulcro e da Anunciação. Nada de encontros das famílias cristãs para a ceia de Natal e judaicas para acender as velas de Chanucá (a Festa das Luzes). Nada de festas de Ano-Novo em bares e restaurantes.
No dia 28 de novembro, o padre franciscano Francesco Patton, custódio da Terra Santa, deu o pontapé inicial para o Natal na região com uma missa numa quase deserta Igreja da Natividade, em Belém.
O patriarca latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, admitiu que o Natal deste ano será “menos festivo” por causa das restrições. “Mas nada nos impedirá de expressar o verdadeiro significado do Natal que é fazer um ato de amor”, ponderou ele.
Em 2019, israelenses e palestinos se regozijaram com um aumento histórico no turismo após anos de conflito regional que afastou peregrinos e turistas em geral. Os hotéis nas cidades santas de Jerusalém, Nazaré e Belém bateram 100% de lotação.
Neste 2020, porém, tudo isso parece estar num passado distante. De um eufórico auge de recordes turísticos, a montanha-russa da Covid-19 levou a indústria da peregrinação religiosa ao fundo do poço.
A situação só pode ser comparada a 2002, no auge da Segunda Intifada palestina, quando atentados terroristas afugentaram os turistas da Terra Santa, e a região era considerada altamente perigosa. Naquele ano, cerca de 860 mil turistas visitaram Israel e os territórios palestinos.
Em 2020, Israel deve fechar o ano com só um pouco mais do que isso: cerca de 1 milhão –mas apenas porque janeiro e fevereiro foram meses excelentes. Em março, com o fechamento das fronteiras por causa da pandemia do coronavírus, a queda foi absoluta.
Desde o fim da Segunda Intifada, em 2005, o turismo na região da Terra Santa galgava patamares cada vez mais altos em meio a uma queda drástica nos números de atentados e da violência em geral.
Em 2019, Israel registrou um total de 4,5 milhões de turistas –grande parte deles peregrinos cristãos que também visitaram Belém, na Cisjordânia, contribuindo com a indústria do turismo palestina.
Só para celebrar o Natal do ano passado, desembarcaram ali cerca de 165 mil peregrinos –de um total registrado de 350 mil turistas no mês de dezembro. Neste ano, em contraste, nem existem estatísticas oficiais, já que o número deve ser próximo a zero.
“O ano de 2019 estabeleceu que o turismo é um motor de crescimento econômico muito significativo para a economia local. É por isso que a crise deste ano é extremamente severa”, diz o diretor-geral do Ministério do Turismo de Israel, Amir Halevi. “Todos os envolvidos no turismo passaram de uma atividade de alta intensidade a nada.”
Entre os palestinos, a situação é ainda mais trágica. Em Belém, onde, segundo a tradição cristã, nasceu Jesus, cerca de 80% dos residentes dependem do turismo para viver. Em 2019, a cidade recebeu mais de 100 mil peregrinos só para a época do Natal e 1,5 milhão de janeiro a dezembro. Novos hotéis e pousadas foram construídos para abrigar tanta gente.
Desde março, no entanto, quase nenhum peregrino ou fiel visitou a praça da Manjedoura e Igreja da Natividade.
“Trabalho com turismo há 30 anos. Já tivemos altos e baixos por causa do conflito israelense-palestino, mas nunca algo assim”, afirmou o empresário palestino Elias al-Arja, presidente da Associação Árabe de Hoteis.
Segundo o Ministério do Turismo palestino, as perdas com a queda total no turismo serão de US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 7,8 bilhões). Pela primeira vez em décadas, a árvore de Natal oficial da cidade foi inaugurada, dia 5, sem a presença de público.
“Doeu muito ver o vazio na praça da Manjedoura”, disse o prefeito de Belém, Anton Salman. “Estávamos acostumados a ver nossas famílias, colocar um sorriso no rosto de nossas crianças e receber milhares de peregrinos estrangeiros. Mas, à luz das condições sanitárias e da difícil realidade epidemiológica em Belém, tivemos que tomar a decisão correta de transmitir a celebração através da mídia e das redes sociais. Não foi fácil, mas necessário.”
Além de Jerusalém, a cidade de Nazaré (a maior cristã de Israel) também sofre os efeitos do Natal do ano da Covid-19. Nos arredores da Igreja da Anunciação, pouca gente tem circulado, o que afetou os comerciantes locais. “Se você viesse no ano passado aqui, não teria lugar para andar”, disse o vendedor de sucos Abu Maruf. “Agora está tudo fechado. Quase todos os cafés e restaurantes não aguentaram a crise e fecharam.”
A única esperança, neste momento, é que a vacinação em massa prometida para os próximos meses leve ao fim do pesadelo do coronavírus e à volta da normalidade a partir de 2021. Israel recebeu nesta quarta-feira (9) o primeiro carregamento de vacinas da farmacêutica Pfizer e anunciou que a vacinação começará em 27 de dezembro.
Enquanto isso, seguem em vigor as medidas para evitar aglomerações e manter o distanciamento social.
Para celebrar a festa judaica de Chanucá (entre 10 a 18 de dezembro), as famílias costumam se encontrar e acender oito velas –uma por dia– para relembrar a vitória dos macabeus contra os gregos em 164 a.C, cantando e comendo comidas típicas.
Neste ano, o governo israelense orientou as pessoas a festejarem em suas casas –sem visitar família ou amigos.
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