Política
Terça-feira, 5 de novembro de 2024

Ciro diz que Moro e Huck não têm legitimidade para ocupar Presidência, mas que 2022 ainda está distante

JOELMIR TAVARES
SÃO PAULO, SP (FOLHPRESS) – O ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) reagiu nesta segunda-feira (9) à possibilidade de união entre o ex-juiz Sergio Moro, o apresentador Luciano Huck e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), para a formação de uma candidatura que representaria a centro-direita na eleição presidencial de 2022.
Ciro esteve em São Paulo para declarar presencialmente apoio ao candidato a prefeito Márcio França (PSB), que está com 13% no Datafolha e tenta na reta final conseguir uma vaga no segundo turno. O PDT faz parte da coligação e ocupa a posição de vice, com o sindicalista Antonio Neto.
“A fraude que campeia no Brasil não cede espaço. No dia em que Doria, Huck e Moro forem de centro, eu sou de ultraesquerda, o que eu nunca fui”, afirmou Ciro a jornalistas na saída do evento de campanha, em um galpão na Barra Funda (zona oeste).
O ex-ministro, que ficou em terceiro lugar na eleição de 2018, vencida por Jair Bolsonaro (sem partido), disse que nem Moro nem Huck tem legitimidade para ocupar a Presidência por serem inexperientes em cargos públicos. Sobre Doria, disse que o tucano ao menos tem um histórico de gestão.
Como revelou a Folha, a articulação de uma frente ampla contra a reeleição de Bolsonaro foi tratada por Moro e Huck em uma conversa em outubro. Doria também faz parte dos diálogos e recebeu o ex-ministro da Justiça e ex-juiz da Operação Lava Jato em setembro.
Pré-candidato à corrida de 2022, o ex-ministro disse aos apoiadores que debater o pleito é prematuro e que muita coisa pode acontecer até lá, mas declarou estar pronto para enfrentar uma candidatura articulada pelos três. “Agora, se apresentar de centro? Não vai não. Na minha frente, nem um dia.”
“Moro vendeu a toga em troca de um cargo e é um cara da extrema direita. O Moro se veste como os fascistas italianos da década de 30. O Moro é fascista”, afirmou Ciro à imprensa.
Aludindo ao fato de Moro ter ido para o governo Bolsonaro após ter condenado o ex-presidente Lula (PT), ele disse: “Isso é uma lesão ética que transforma o Moro para mim num grande malandro, num corrupto que durante o governo Bolsonaro tudo o que pôde fazer fez para acobertar os filhos ladrões do Bolsonaro”.
“O Luciano Huck é um apresentador de televisão. Ok, é uma tarefa das mais dignas. Isso o prepara para enfrentar a maior crise social e econômica do Brasil? Isso o habilita a ser [presidente]? Só a irresponsabilidade de algumas pessoas da elite brasileira é que permite a gente acreditar nisso”, disse o pedetista.
Embora se declare adversário político de Doria, Ciro afirmou que o governador tem legitimidade para a disputa porque “já entrou aí na luta”.
“Foi um prefeito que mentiu para o povo, ele disse muitas vezes que não deixaria [a prefeitura] e largou. Foi eleito governador, está fazendo um governo muito ruim. Mas tem legitimidade, pode chegar e dizer: eu não sou um apresentador de televisão que nunca administrou nada.”
Indagado pelos jornalistas sobre o encontro que teve em setembro com o ex-presidente Lula, Ciro disse que os dois -que vinham com a relação estremecida desde a eleição de 2018 e trocaram críticas nos últimos tempos- tiveram “uma conversa muito franca, muito franca mesmo”.
“Usando uma expressão popular, lavamos a roupa suja pra valer. Sob o ponto de vista das compreensões da questão brasileira, para trás e para a frente, continuamos como estávamos antes de conversar. Mas a mim me agrada a ideia de que a gente faça política conversando”, afirmou o pedetista.
Nas falas desta segunda, recheadas de referências à vitória do democrata Joe Biden na eleição nos Estados Unidos, Ciro discursou contra o que considera um ambiente de ódio e divisão política e afirmou que a eleição de França em São Paulo daria um sinal na direção de uma fuga dos extremos.
Para ele, o cenário da eleição municipal em várias cidades brasileiras dá indícios de que a população se cansou do clima de divisão e busca alternativas que possam resolver os problemas cotidianos e, principalmente, deem um tratamento rápido ao agravamento da crise econômica a partir de 2021.
“Parece que o bolsonarismo boçal e o lulopetismo corrompido vão levar uma grande surra no Brasil inteiro”, disse. “Isso quer dizer que o eleitorado brasileiro, por esmagadora maioria, como segunda razão para o seu voto nas grandes cidades, está banindo esses dois extremos.”