ARTUR RODRIGUES E JOELMIR TAVARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Candidato à reeleição para prefeito de São Paulo e atual líder das pesquisas, Bruno Covas (PSDB) cometeu um ato falho ao comentar a ausência do governador João Doria (PSDB) em sua campanha, durante sabatina Folha de S.Paulo/ UOL, nesta quinta-feira (5).
Covas também defendeu seu vice, Ricardo Nunes (MDB), e atacou o adversário Celso Russomanno (Republicanos), que luta para ir ao segundo turno contra o tucano.
“Não tenho nenhum problema em esconder o apoio do governador João Doria, mas o candidato sou eu”, afirmou Covas, que na sequência repetiu o discurso que vem apresentando sempre que questionado sobre o tema. “Eu não escondo nenhum apoio que eu tenho”, disse.
O aliado do prefeito é rejeitado por 39% dos moradores da capital, segundo pesquisa Datafolha feita em setembro. Levantamento do instituto também mostrou que 59% dos paulistanos disseram não votar de jeito nenhum em um candidato apoiado pelo governador, rejeição maior que a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de 57%.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, Doria virou alvo preferencial de ataques dos rivais de Covas e não apareceu até hoje nas propagandas do tucano. O candidato à reeleição, que era vice-prefeito até 2018, assumiu a cadeira quando Doria renunciou ao cargo para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes.
Covas usou a pergunta na sabatina para alfinetar Russomanno, que busca garantir uma vaga no segundo turno contra ele, ao mesmo tempo em que derrete nas pesquisas.
O candidato à reeleição disse que “estranho seria o governador João Doria deixar o governo do estado para se dedicar à campanha na cidade de São Paulo”.
E completou: “Estranho seria secretários estaduais deixarem seus afazeres para passar o dia no comitê do candidato Bruno Covas, como a gente vê ministros saindo de Brasília para fazer campanha para outros candidatos aqui em São Paulo”.
Russomanno, que tem o apoio de Jair Bolsonaro (sem partido), teve reuniões em São Paulo nos últimos dias com auxiliares do presidente como o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Fabio Wajngarten, e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Deputados, empresários e líderes de movimentos de rua alinhados ao bolsonarismo também se engajaram na reta final na candidatura do deputado e apresentador de TV, reforçando a nacionalização da eleição paulistana, com o pano de fundo da briga entre Bolsonaro e Doria.
Em outra crítica a Russomanno, Covas reagiu às declarações do adversário sobre sua saúde. O tucano, que faz tratamento contra um câncer desde o ano passado, reiterou na sabatina que, embora não esteja curado, tem boa condição de saúde e foi liberado pelos médicos para suas atividades normais.
Na semana passada, o deputado colocou em dúvida a recuperação do tucano e disse que, se ele for reeleito, será o candidato a vice, Nunes, quem assumirá a prefeitura.
“Lamento as declarações do meu concorrente, porque acho que elas não são prejudiciais a mim. Eu estou em campanha e preparado para qualquer tipo de agressão. Acho que são uma agressão para todos aqueles que se encontram em tratamento oncológico na cidade de São Paulo, para todos os seus familiares”, afirmou Covas.
“A gente precisa virar essa página de que um diagnóstico de câncer é uma sentença de morte”, completou.
O candidato do PSDB também defendeu Nunes das suspeitas que pesam contra ele por sua atuação no setor de creches do município e afirmou que não há nada que desabone seu colega de chapa.
A Folha de S.Paulo publicou uma série de reportagens mostrando a ligação de Nunes com locadores de creches e direção de entidade conveniada. De acordo com Covas, “o fato de ele conhecer pessoas do bairro dele em nada limita a sua atuação”.
“Não há nenhum problema em defender a sua região, não há nada que desabone o meu candidato a vice, não há nenhuma condenação”, disse.
“Todos os contratos que envolvem o vereador Ricardo Nunes mencionados por vários jornais são contratos da administração anterior. Nenhum contrato é desta administração.”
Covas saiu em defesa do vice também no caso do boletim de ocorrência registrado contra Nunes pela mulher dele, Regina Carnovale, que, conforme mostrou a Folha de S.Paulo, acusou o vereador de violência doméstica e ameaça.
“Tanto o Ricardo quanto a Regina negam que houve qualquer tipo de violência física. São denúncias de 2011 que não geraram nenhum tipo de ação contra um ou contra o outro”, disse, minimizando o assunto.
Covas aproveitou a resposta para citar uma série de ações de sua gestão para coibir a violência doméstica e para alfinetar Márcio França (PSB), outro adversário na corrida à prefeitura. Ele adotou o mesmo expediente quando comentou o tema pela primeira vez, logo após sua revelação, no mês passado.
“Não sou daqueles candidatos a prefeito que acham que polícia não precisa intervir em caso de violência doméstica”, disse o tucano. A frase é uma indireta a França, que falou em 2018, quando era governador, que brigas de casal sobrecarregam a polícia.
O tema foi trazido à tona no início da campanha pelo candidato Guilherme Boulos (PSOL) e tem sido desde então objeto de embate entre o líder de movimentos de moradia e o ex-governador.
O tucano ainda defendeu a política de indicação de aliados na Prefeitura de São Paulo, ao ser questionado sobre a ingerência de aliados, incluindo a atuação do vereador Milton Leite (DEM).
“Todos os partidos que estão coligados conosco vão poder apresentar nomes. Desde que sejam nomes que tenham currículo, preparo. A cidade de São Paulo é heterogênea. Seria muito pouco para a cidade de São Paulo ter pessoas relacionadas e amigas do prefeito Bruno Covas”, disse.
Ao longo da sabatina, ele exaltou resultados de sua gestão e apresentou promessas de melhoria e ampliação de programas e obras. “Fico muito feliz com as conquistas que atingimos, mas ainda não estou satisfeito”, disse, ao citar números de áreas como saúde, educação, zeladoria urbana e habitação.
O candidato à reeleição, que faz parte de uma família de políticos e se inspira no ex-governador Mário Covas (1930-2001), seu avô, também é advogado e economista. Foi deputado federal, entre 2015 e 2016, e estadual, de 2007 a 2014.
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