LUCIANA COELHO
PIEDADE, SP (FOLHAPRESS) – É o coronavírus, estúpido.
Desde que o marqueteiro democrata James Carville cunhou o grande clichê da política americana, em 1992, economia e questões em sua órbita nunca haviam deixado de ser a maior preocupação do eleitor americano. Até 2020.
Levantamento da Universidade de Chicago para a agência de notícias Associated Press e para o canal de TV Fox News com 140 mil eleitores registrados de 28 de outubro a 3 de novembro mostra que a crise da Covid-19 e a forma como o governo Trump lidou com ela determinou o voto de 39% dos participantes.
Para outros 44%, a pandemia influenciou o voto, mas não foi a questão central (mais 11% citaram peso menor). No primeiro grupo, 78% declararam que votariam em Joe Biden, ante 21% para Donald Trump.
No total dos que deram alguma importância ao vírus (94%), o placar ficou em 53% a 45% para o ex-vice.
Numa projeção conservadora de que 140 milhões de americanos tenham votado até este 3 de novembro, a margem do democrata sobre o republicano entre os 39% que citaram o patógeno como determinante significa 31,1 milhões de votos a Biden. A pesquisa não cruza o dado com preferência partidária prévia.
Desde o primeiro momento, Trump negou a seriedade da pandemia e, embora não tenha chegado a chamar o vírus de “gripezinha”, insistiu que a situação estava sob controle –o país cruzou nesta quarta (4) a marca dos 100 mil novos casos em um só dia– e manteve um comportamento de risco, sem máscara e com muita aglomeração, inclusive durante a campanha.
Entre os respondentes, 19% afirmaram ter perdido um parente ou amigo próximo devido à doença, que até o dia da eleição tinha matado mais de 230 mil pessoas nos EUA, e 68% dizem ter sofrido algum efeito da pandemia. Metade diz acreditar que o vírus continua descontrolado no país, ante 4% que acham que a questão está resolvida (o restante cita algum grau de controle).
Ao todo, 41% apontaram a Covid-19 como o tema mais importante da eleição, diante de 28% que citaram a economia. Outros 9% mencionaram a assistência a saúde; 7%, o racismo (outro tema custoso à imagem de Trump); e 4%, a segurança pública, percentual idêntico ao dos que elegeram a mudança climática e um ponto acima dos que assinalaram imigração ou aborto.
Política externa, outrora um tema de peso, foi lembrada por 1%. A margem de erro do levantamento é de 0,6% para ambas as direções.
O rol de temas prioritários mostra que, em quatro anos, os EUA foram absorvidos por problemas domésticos e de efeito imediato na vida do eleitor. Para 60% dos participantes, o país avança na direção errada.
Entre os 28% que se norteiam pela economia, 57% preferiram o atual presidente, enquanto 41% escolheram Biden. Fatia mais gorda, porém, é a dos que veem a situação da economia de modo negativo (57%), e, entre estes, a preferência por Biden chegou à proporção de 3 para 1.
Embora o levantamento não tenha sido conduzido em outros anos, a leitura de pesquisas de outros institutos indica uma mudança radical: em 2016, quando Trump venceu, foram 52% os que citaram a economia como tema principal; em 2012, 60%, e em 2008, 62% (todos os índices se referem à pesquisa da CNN, não publicada neste ano).
Mesmo em 2000 e 2004, quando os chamados “temas morais” assumiram o protagonismo, a soma de respostas “economia” com “empregos”, “impostos” ou “previdência” colocava a questão em primeiro lugar.
Além do coronavírus, sobressai o impacto das questões raciais, pouco presentes em outras eleições (inclusive as de Barack Obama), ante a explosão de protestos pelo país após o assassinato de um homem negro, George Floyd, por um policial branco.
Dos 7% que a elegeram como principal fator para seu voto, 79% afirmaram preferir Biden, ante 19% que citaram Trump. Em uma pergunta separada, 91% disseram que a violência policial influenciou seu voto, e 52% deles preferiram o democrata.
Há, ainda, nuances entre os estados. Na Geórgia, crucial nesta eleição, o racismo é o tema principal para 11%, e 91% no estado disseram que a questão afetou seu voto –52% dos quais preferiram Biden.
Em geral, o democrata leva vantagens maiores sobre Trump nos temas em que é mais bem avaliado do que o oposto. Mas há mais americanos que não veem o democrata como um líder forte (52%, contra 47%).
Neste quesito, Trump divide o eleitorado, para o qual seus déficits são outros: 60% não o acham honesto (50% dizem o mesmo de Biden) e 54% disseram crer que ele não se importa com gente comum (contra 45% de Biden).
Esse efeito emerge também na divisão demográfica do eleitorado. Trump vai melhor entre os brancos (74% do eleitorado) por margem de 12 pontos. Biden supera o republicano entre os negros (90% a 8%) e os latinos (63% a 35%).
O republicano prevalece com o eleitorado com 45 anos ou mais, que compõe dois terços de quem de fato vota, mas apenas por 2 pontos; já Biden é preferido por quem tem até 44 (por 25 pontos percentuais entre aqueles com até 29; por 11 pontos na faixa seguinte).
Os homens (47% do eleitorado) preferiram Trump por 6 pontos de diferença, e as mulheres (53%), Biden, por 11 pontos. Como em 2016, quanto menor a escolaridade, maior a preferência por Trump: 53% a 46% entre aqueles que concluíram só até o ensino médio; 42% a 56% entre quem terminou a faculdade.
Quando se divide os estratos por renda, os mais pobres preferem Biden por 8 pontos, mas a classe média e os mais ricos se inclinam a Trump por, respectivamente, 2 e 4 pontos. Curiosamente, tanto com Biden quanto com o republicano, praticamente metade do eleitorado (49% com o republicano e 48% com o democrata) diz faltar capacidade mental ao candidato para exercer a Presidência.
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Sábado, 18 de janeiro de 2025
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