Economia
Domingo, 13 de outubro de 2024

Depois de comprar a Reserva, Arezzo mantém apetite para aquisições

Após anunciar hoje a compra da grive carioca Reserva, num negócio de 715 milhões de reais, quais os próximos passos da Arezzo&Co?

A ação da companhia subiu mais de 16% no dia, num sinal de otimismo dos investidores. A compra da marca de estilo de vida carioca abre um novo mercado para a Arezzo — e a companhia tem apetite para crescer ainda mais. Além de calçados e bolsas, a Arezzo&Co passará a comercializar itens de moda masculina, feminina e infantil, incluindo roupas e acessórios, aumentando o tamanho do mercado potencial em que atua em 3,5 vezes. A Reserva também vendia calçados licenciados, responsáveis por 12% das receitas. Agora, a ideia é trazer essa categoria para dentro da marca.

A transação, que contempla as seis marcas do grupo — a própria Reserva, Reserva Mini, Oficina Reserva, Reserva Go, Eva e Ink, depois de concluída, ampliará o portfólio da Arezzo&Co para 13 marcas, ampliando a intenção da companhia de ser uma house of brands, ou “conjunto de marcas”. Até então, a Arezzo atuava com sete marcas. A marca mais recente no portfólio é a americana Vans — em outubro do ano passado, a Arezzo passou a ser distribuidora exclusiva de calçados, vestuário e acessórios da marca Vans em todo o território brasileiro. Outras marcas são Schutz, Anacapri, Alexandre Birman, Fiever e Alme.

A expansão não para por aí. Depois de incorporar a operação brasileira da Vans, em janeiro, e a da Reserva, a Arezzo acredita que há espaço para mais. “A ideia da house of brands não é apenas trazer novas marcas, mas também soluções e tecnologias novas”, diz Alexandre Birman, presidente da Arezzo. “Em termos de consolidação, vemos o que deu certo para a Arezzo. Não é só trazer marcas, mas criar uma plataforma que fere eficiência para as marcas”, afirma Rony Meisler, presidente e cofundador da Reserva. 

A aquisição da Reserva

A Reserva foi fundada em 2004 pelos empresários Rony Meisler e Fernando Sigal, conta com 78 lojas próprias e 32 franquias, além de estar presente em 1.500 multimarcas. Em 2019, o Grupo Reserva faturou 400 milhões de reais. A Arezzo irá pagar 225 milhões de reais em dinheiro — 175 milhões de reais à vista e 50 milhões de reais um ano após a conclusão da transação — além das ações da companhia, no valor de 8,7% do capital.

Fontes do mercado de vestuário acharam o negócio barato, embora a Reserva tenha uma estratégia de propaganda poderosa que acaba fazendo a marca parecer maior do que realmente é. Pelas contas dessas fontes, a Reserva deve ter gerado 80 milhões de reais de caixa no ano passado, com margem de 25%. Ou seja, deve valer de 15 a 16 vezes a geração de caixa, mas a Arezzo pagou cerca de nove vezes. “A Arezzo pode ter apresentado algum plano estratégico que prevê crescimento muito grande”, diz um empresário do setor que prefere não ser identificado.

A Reserva cresceu com foco nas classes B e C, mas nos últimos anos estava fazendo um esforço para ganhar espaço entre os consumidores da classe A. Como a Arezzo tem mais penetração nesse segmento, deve ajudar a Reserva a se reposicionar.

Unidades independentes, mas integradas

Apesar de construir um portfólio cada vez maior de marcas, o presidente da Arezzo&Co, Alexandre Birman, afirma que o objetivo é manter cada uma das marcas independente. As marcas da Reserva, assim como outras do grupo, “são unidades de negócio distintas. Apesar de ser mais custoso, isso é muito mais eficiente para que as pessoas responsáveis por cada marca se sintam mais donas do negócio”, diz o presidente da Arezzo. 

Com a aquisição da Reserva, deve haver sinergias no backoffice, ou seja, nas áreas administrativas e financeiras, assim como na logística de distribuição, “mas o objetivo é que os clientes não saibam que as marcas são do mesmo grupo”, diz Birman. A aquisição também cria uma nova divisão, a AR&Co, focada em estilo de vida e administrada pelo presidente e cofundador da Reserva, Rony Meisler. As iniciais são de Arezzo e Reserva, mas também se encaixam em Alexandre e Rony, brincam os executivos. Com essa nova divisão, o portfólio da Arezzo pode crescer ainda mais. 

Para o Credit Suisse, a aquisição é positiva, ainda que enxergue o desafio de liderar uma marca de roupas, o que está fora de sua zona de conforto.

“Vemos essa transação como positiva, dava a clara indicação da Arezzo de perseguir sua estratégia de expandir seu portfólio de marcas, com o alvo de ser uma house of brands, consolidando o mercado de moda de classe alta, além do histórico extraordinário de desenvolver, consolidar e gerenciar marcas, como a empresa efetivamente fez nos últimos anos, construindo e fortalecendo sua posição de liderança no mercado de calçados brasileiros”, escreve o banco em relatório. 

Fonte: Exame