PATRÍCIA CAMPOS MELLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Naquele que provavelmente foi um dos debates presidenciais mais caóticos da história dos EUA, as frases mais ouvidas foram “senhor presidente, não interrompa”, “senhor presidente, deixe-me terminar minha pergunta” e “senhor presidente, deixe-o terminar de falar”.
O eleitorado mais fiel de Donald Trump comemorou o fato de o presidente ter dominado o primeiro debate da campanha eleitoral americana. De fato, ele não deixou nem seu rival, o democrata Joe Biden, nem o moderador, Chris Wallace, falarem. Mas as malcriações do republicano talvez tenham sido uma ducha de água fria para os eleitores indecisos que ele precisa conquistar.
Em um comentário no Twitter, o estrategista republicano Frank Luntz, que conduz pesquisas qualitativas com eleitores indecisos de estados-pêndulo, resumiu: “O debate conseguiu convencer alguns eleitores indecisos a simplesmente não votar”.
Nos EUA, onde o voto não é obrigatório e o comparecimento nas eleições presidenciais gira em torno de 55%, não basta cativar o eleitor -é preciso que ele esteja empolgado o suficiente para sair de casa e votar ou enviar sua cédula pelo correio.
Na pesquisa qualitativa, parte dos indecisos rechaçou o comportamento agressivo de Trump, e o desempenho apenas morno de Biden tampouco arrebatou muitos eleitores. Mas como o democrata está na liderança há meses, com 7 pontos à frente de Trump na média das pesquisas compilada pelo site FiveThirtyEight, essa notícia é pior para o republicano.
Segundo pesquisa mais recente da NBC News/Wall Street Journal, cerca de 11% dos eleitores aptos a votar ainda não decidiram seu voto. E Trump precisa muito desses eleitores para reduzir a vantagem de Biden.
A agressividade exibida por Trump no debate é aplaudida por sua base, principalmente pelos eleitores que acham graça em bullying no ensino médio.
“Ele foi um dos piores da classe na faculdade. Nunca use a palavra ‘inteligente’ comigo”, disse Trump.
Em outro momento, quando Biden se referiu à perda do filho Beau, que foi condecorado após servir no Iraque e morreu precocemente de câncer, Trump respondeu atacando o outro filho do democrata, Hunter, que foi dependente de drogas.
Trump continuou recorrendo aos “dog whistles” (apitos de cachorro), termo político que se refere à linguagem cifrada usada para se comunicar com certos grupos, para apelar aos eleitores racistas.
“Nossos subúrbios acabariam” em um governo Biden, disse Trump, mais uma vez acenando para parte da classe média branca moradora de subúrbios que se ressente das habitações populares em suas áreas.
Quando foi questionado pelo moderador se estaria disposto a condenar “os supremacistas brancos e milícias e dizer que eles precisam” abandonar esses movimentos, Trump se recusou. “Proud Boys, recuem e esperem –mas olha, alguém precisa fazer alguma coisa em relação aos antifas e à esquerda”, disse, referindo-se ao grupo de supremacistas brancos envolvido em episódios de violência.
Mas há dúvidas se essa insistência em manter os apelos a grupos extremistas ajudará Trump a reconquistar parte dos votos que perdeu entre as mulheres do subúrbio, os republicanos moderados e os independentes que votavam nele por causa da economia.
O desempenho de Biden não foi estelar, mas não corroborou a campanha negativa de Trump, que insiste em dizer que o democrata, aos 78 anos, estaria senil, esquecendo as palavras, e que ultimamente teria melhorado por estar usando drogas.
E Biden pareceu bastante assertivo ao perder a paciência já aos 20 minutos do debate, que durou intermináveis 90 minutos de bate-boca. “Dá para calar a boca, cara?”, explodiu Biden, ao ser interrompido pela enésima vez por Trump. Depois, ele chamou o presidente de “palhaço”.
O moderador, exasperado, teve que lembrar a Trump que a campanha dele havia concordado com as regras de que cada candidato teria sempre dois minutos inteiros, sem interrupção, para as respostas. “Acho que você serviria ao país melhor se não interrompesse”, disse Wallace, a certa altura. “Ele também!”, retrucou Trump. “Bom, francamente, o senhor tem interrompido muito mais.”
Ao final, ficou claro que nem Trump, nem Biden, nem o moderador haviam saído ilesos. O debate foi tão grotesco que, logo que acabou, gerou discussões como: será que vão cancelar os próximos debates?. Estão programados mais dois entre os candidatos à Presidência.
E, se houver mais debates, é urgente mudar as regras, para que os moderadores possam colocar o microfone dos candidatos no mudo quando necessário.
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