DANIELLE BRANT, ISABELLA MACEDO E FÁBIO PUPO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Representantes da bancada evangélica começaram nesta segunda-feira (14) a se articular para tentar derrubar o veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao dispositivo que anulava dívidas de igrejas com a Receita Federal, em renúncia que se aproximaria de R$ 1 bilhão.
Mesmo a oposição admite, nos bastidores, que pode haver pressão dentro da bancadas para derrubar o veto. Na votação da emenda que determinou a anulação das dívidas, só o PSOL e Rede votaram integralmente contra o texto.
O dispositivo vetado por Bolsonaro na sexta-feira (11) foi inserido em um projeto sobre litígios com a União por emenda apresentada pelo deputado federal David Soares (DEM-SP). Ele é filho de R.R. Soares, pastor fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus, uma das principais devedoras.
O texto, aprovado pela Câmara em julho e pelo Senado, em agosto, altera a lei de 1988 que instituiu a CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido).
O dispositivo vetado por Bolsonaro excluía templos de qualquer denominação religiosa da lista de pessoas jurídicas sobre as quais a contribuição incidia e anulava as autuações da Receita que descumprissem a premissa.
Ao vetar o item, Bolsonaro argumentou que buscava evitar incorrer em crime de responsabilidade, em justificativa alinhada com a interpretação da equipe econômica.
Se abrisse mão da receita bilionária, o presidente precisaria apontar uma fonte de financiamento para compensar a renúncia a esses recursos.
“O crime de responsabilidade é em relação a isso. Como ele vai aprovar a norma que fere a Lei de Diretrizes Orçamentárias?”, questiona o advogado Douglas Mota, sócio de direito tributário do escritório Demarest.
“A Constituição prevê imunidade de cobrança de impostos. A CSLL é uma contribuição. A imunidade não abrange contribuição.”
Apesar da justificativa oficial, Bolsonaro fez questão de acenar para sua base evangélica. Ele afirmou que, se fosse deputado ou senador, “por ocasião da análise do veto que deve ocorrer até outubro, votaria pela derrubada do mesmo”.
Na bancada evangélica, a articulação para a derrubada do veto teve início nesta segunda. Os líderes e representantes do grupo vão se reunir nesta terça-feira (15), às 17h, para decidir qual a estratégia será adotada.
Presidente da frente parlamentar evangélica, o deputado Silas Câmara (Republicanos-AM) disse ter recebido com surpresa a notícia do veto.
“Todos os grandes advogados tributaristas do Brasil, incluindo Ives Gandra Martins, gravaram vídeos e fizeram matérias afirmando que o projeto não precisava ser objeto de veto, porque a matéria era plenamente constitucional e tranquila”, disse.
Câmara afirmou que, hoje, seu “sentimento é de derrubada do veto, com certeza”.
“Temos voto para derrubar o veto. Somos 130 deputados e deputadas federais. E posso te garantir que o resultado de 340 votos que tivemos na Câmara [na aprovação da emenda] se repete facilmente na matéria.”
Autor da emenda vetada por Bolsonaro, David Soares avaliou que Bolsonaro não recebeu uma boa orientação jurídica.
“O presidente recebeu uma instrução jurídica míope. Quem lê o texto vê claramente que estamos totalmente balizados com o ordenamento jurídico já existente, e segundo o entendimento já aplicado pela Corte Suprema de nosso país”, disse.
Na oposição, o discurso oficial é que a decisão de Bolsonaro tem de ser mantida.
“Tem de ser cobrada a dívida das igrejas”, afirmou o deputado Enio Verri (PR), líder do PT na Câmara. Para ele, o presidente quis “ficar de bem com o mundo evangélico, que é a base social dele”.
“Para nós, não se trata apenas de ser base do Bolsonaro ou não. Nós achamos que é imoral esse tipo de isenção”, disse.
Outros líderes veem resistência ao assunto.
Sâmia Bomfim (PSOL-SP), líder do partido na Câmara, disse ter dúvidas sobre a manutenção do veto, após a repercussão pública negativa. Porém, ela ressaltou ainda que há congressistas que querem obter apoio de líderes religiosos nas eleições municipais. “Derrubar o veto seria um acordo muito relevante”, disse.
Mesmo com as declarações do presidente a favor da derrubada do veto, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), disse que vai atuar para manter a decisão de Bolsonaro. “Vamos propor uma solução até a hora da votação, mas vou trabalhar para que o veto seja mantido.”
Na equipe econômica, o veto de Bolsonaro foi bem-recebido. Os técnicos recomendaram veto total aos artigos ligados às igrejas e o presidente vetou apenas parcialmente, mas o trecho liberado é considerado inócuo.
Já se o Congresso derrubar o veto de Bolsonaro, a situação é considerada complexa.
O entendimento do TCU (Tribunal de Contas da União) é que não pode haver criação de despesas ou diminuição de receitas sem que haja uma medida compensatória, o que até agora não foi feito.
Por isso, até que se indique uma fonte de compensação, a lei sobre igrejas deve ser considerada ineficaz.
Em outra frente, para tentar contornar a controvérsia legal futuramente, Bolsonaro afirmou que pretende enviar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) ainda nesta semana, para encontrar uma “possível solução para estabelecer o alcance adequado para a imunidade das igrejas nas questões tributárias”.
Para Mota, do Demarest, uma alternativa seria revogar o dispositivo que prevê imunidade tributária aos templos de qualquer culto na Constituição e inserir um novo item ampliando esse benefício para outros tipos de tributos, como contribuições sociais.
“Ou vem o Supremo e decide isso, dizendo que nenhuma instituição sem finalidade lucrativa tem de pagar CSLL, ou coloca na legislação”, disse.
Já o deputado Marcelo Ramos descarta a necessidade de uma PEC para pacificar o tema. “O Supremo já decidiu sobre isso. Se aprovar a PEC, a Receita vai arrumar outro jeito de tributar”, afirmou.
Política
Quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025
Dólar | R$ 5,18 | 0,000% |
Peso AR | R$ 0,03 | 0,164% |
Euro | R$ 5,59 | 0,000% |
Bitcoin | R$ 114.180,92 | 0,096% |
Alta dos alimentos vai se propagar e meta será descumprida, avisa o BC
O Banco Central sob a presidência de Gabriel Galípolo avisou na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça, 4, que deve descumprir a meta de inflação já na largada, agora sob o regime de “meta contínua”. Em outras palavras, isso quer dizer que a inflação anualizada vai ficar acima...
Economia
Nissan sofre queda na Bolsa após notícia de que descartou fusão com a Honda
As ações da Nissan registraram forte queda nesta quarta-feira (5) na Bolsa de Tóquio depois que o jornal econômico Nikkei informou que a montadora abandonou as negociações para uma fusão com a concorrente Honda. O jornal e outros meios de comunicação japoneses informaram que a Honda propôs transformar a Nissan em uma subsidiária, ao invés...
Negócios
Santander Brasil registra lucro de R$ 3,85 bi no 4º trimestre, salto de 75%
O Santander Brasil reportou nesta quarta-feira, 5, lucro líquido gerencial de 3,85 bilhões de reais para o quarto trimestre de 2024, um salto de 74,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, em resultado marcado por expansão de margem financeira e melhora na rentabilidade. Previsões compiladas pela Lseg apontavam lucro de 3,72 bilhões de...
Negócios
Voa Brasil chega a 28,5 mil reservas; saiba como comprar passagem a R$ 200
Programa do governo para facilitar o acesso de aposentados à passagens aéreas, o programa Voa Brasil alcançou a marca de 28.500 voos reservados em seis meses, apontam dados divulgados pelo Ministério de Portos e Energia nesta terça-feira, 4. O mês de janeiro teve recorde de reservas, com 5.308 bilhetes, quantia 15% melhor que o recorde...
Política
Serviço Postal dos EUA suspende encomendas recebidas da China e Hong Kong
Trump se moveu para fechar a “brecha de minimis” que permite que importadores e compradores dos EUA não paguem tarifas O Serviço Postal dos EUA (USPS) disse que suspenderia temporariamente as encomendas da China e de Hong Kong, depois que o presidente Donald Trump fechou uma brecha comercial esta semana usada por varejistas, incluindo Temu...
No Mundo
Recompras de ações batem recorde em 2024 e tiram bilhões da Bolsa brasileira
O mercado de ações brasileiro teve um recorde de programas de recompra de ações por parte de empresas em 2024. Foram 126 pedidos de recompra aprovados pela B3 no ano passado, envolvendo 4,8 bilhões de papéis, ambos recordes históricos da Bolsa de Valores brasileira. Os números representam um salto em relação a 2023, que teve...
Economia
Lula concede entrevistas e se reúne com presidentes de bancos públicos nesta quarta-feira
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concederá, nesta quarta-feira, 5, entrevista às rádios Itatiaia, Mundo Melhor e BandNewsFM BH, de Minas Gerais. O compromisso será às 7h30. Às 10h, Lula fará reunião com bancos públicos no Palácio do Planalto. Participarão o vice-presidente, Geraldo Alckmin; o ministro da Casa Civil, Rui Costa; o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; a...
Política