FERNANDA PERRIN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A recuperação da construção civil deve sustentar uma melhora dos investimentos a partir do do 3º trimestre, mas o indicador deve encerrar o ano em patamares baixos – em torno de 15% do PIB (Produto Interno Bruto), avaliam economistas.
Embora os resultados da construção estejam vindo melhores do que o esperado, a alta taxa de ociosidade na indústria, o endividamento das empresas e as incertezas quanto à recuperação da demanda seguram a retomada dos investimentos.
Segundo dados divulgados IBGE nesta terça (1º), a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador que mede investimentos em máquinas, equipamentos, construção e pesquisa despencou 15,4% entre o primeiro e segundo trimestres deste ano, quando a pandemia eclodiu no país. O PIB caiu 9,7% no mesmo período.
Na comparação com igual trimestre do ano anterior, o tombo foi de 15,2%, o maior desde os primeiros três meses de 2016, quando a FBCF registrou queda de 18,8%. Nos últimos dois anos, o indicador vinha seguindo uma trajetória de recuperação tímida, na faixa dos 3% por trimestre, em média.
“Foi uma recuperação muito incipiente nesses anos. Havia um problema de ociosidade na indústria antes mesmo da Covid-19 que agora se aprofundou ainda mais”, diz Rafael Cagnin, economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Segundo ele, mesmo com a normalização da atividade observada no setor de construção civil, o problema da incerteza associado à pandemia continua presente, o que restringe a retomada da FBCF.
Para além da ociosidade, que desmotiva as empresas a investirem, Cagnin aponta ainda o alto nível de endividamento. Com o fluxo de caixa praticamente zerado durante a quarentena, muitas indústrias se viram obrigadas a tomar crédito para bancar necessidades de liquidez de curto prazo.
Outro problema, segundo ele, é a redução do papel do BNDES nos últimos anos, cujo espaço como agente de financiamento não foi totalmente ocupado pelo mercado de capitais.
“O investimento vai voltar a um patamar positivo mas com uma recuperação muito fraca, a ponto de permanecer em patamares historicamente baixos”, avalia.
O economista Rodrigo Nishida, consultor da LCA, também prevê uma trajetória de melhora gradual da FBCF, mas insuficiente para compensar as perdas observadas durante a pandemia. A estimativa da consultoria é que a taxa de investimento fique em 15,3% do PIB em 2020.
“O investimento tem ficado em torno de 15% do PIB nos últimos anos, isso mostra porque a economia não cresce. A retomada deve acontecer apenas quando a demanda começar a reaparecer e as expectativas melhorarem”, afirma José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.
Na estimativa de Gonçalves, a FBCF deve encerrar o ano com uma queda de 8%.
Nishida, da LCA, alerta ainda para a dependência desse movimento das medidas de sustentação da renda e do emprego implementadas para combater a crise. “Na virada do ano já surgem dúvidas quanto a continuidade dessa trajetória de recuperação com a diminuição ou retirada desses estímulos”, afirma.
Já Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, tem uma visão mais positiva da trajetória dos investimentos até o fim do ano. Ela destaca, por exemplo, que a retração no segundo trimestre se concentrou principalmente no mês de abril, sendo que maio e junho já mostraram sinais de recuperação.
“Vemos uma forte retomada na construção. Os indicadores de vendas de materiais de construção e o aumento do saldo de vagas do setor no Caged mostram essa volta”, avalia a economista.
Em julho, o setor teve um saldo positivo de 41 mil vagas de trabalho formais, segundo dados do Ministério da Economia.
Para ela, o investimento está num bom momento para a recuperação, tendo em vista a redução das taxas de juros tanto no curto quanto no longo prazo, bem como o crescimento do mercado de capitais.
“O investidor estrangeiro ainda não tem voltado, mas temos visto o investidor local mais disposto a dar financiamento”, diz. Ela aponta por exemplo a taxa de poupança recorde observada no segundo trimestre, de 15,2%, a maior dos últimos cinco anos.
Já do lado da indústria, Vitória é menos otimista. Dada a elevada capacidade ociosa, a recuperação dos investimentos no setor deve demorar mais para se recuperar.
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