ARTUR RODRIGUES E GUILHERME BOTACINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O prefeito do São Paulo, Bruno Covas (PSDB), afirmou nesta quinta-feira (27) que definirá na segunda quinzena de setembro se aulas presenciais voltarão nas escolas na capital paulista neste ano.
Segundo inquérito sorológico na cidade, 18,3% dos estudantes da rede municipal já possuem anticorpos contra coronavírus.
Covas afirmou que a rede municipal está preparada para voltar no ano que vem, se a área da saúde assim definir, ou ainda neste ano. Após a primeira fase do inquérito sorológico, o prefeito dissera que as aulas não voltariam em setembro, possibilidade aberta pelo governo João Doria (PSDB) quando ele permitiu a abertura das escolas para ministrar aulas de reforço, entre outras atividades.
No início do mês, o governador anunciara que a retomada das aulas presenciais nas escolas públicas e privadas do estado só ocorreria a partir do dia 7 de outubro, quase um mês após a data inicialmente prevista pelo chamado Plano SP, porque as condições impostas para a retomada do ensino presencial não foram cumpridas.
Agora, a decisão na capital deverá ser tomada após a terceira fase do inquérito sorológico para estudantes, que será feita por volta da segunda quinzena do mês. Nessa fase, estudantes de escolas privadas e estaduais na cidade também serão incluídos.
“A decisão de retorno ou não é da área da saúde. A partir do momento que a área da saúde decidir, vale para a rede municipal, privada e estadual. A rede municipal está preparada para qualquer que seja a decisão, seja para retomar neste ano, seja retomar no ano que vem”, disse. Há uma pressão grande da rede privada para reabrir antes, possibilidade vetada pelo prefeito.
Segundo o inquérito sorológico, a estimativa é que mais de 123 mil estudantes (18,3%) tenham anticorpos para a doença. Comparando com a fase anterior do inquérito sorológico, houve um aumento da taxa de prevalência, que antes era de 16,1% (108 mil crianças e adolescentes).
Covas afirmou que ainda não é possível saber se há tendência de alta entre os estudantes. “Esse aumento de 16,1% para 18,3% pode ser uma tendência de aumento ou que estamos operando na mesma faixa. Por isso, só o terceiro inquérito vai confirmar se trata de um aumento ou se é o mesmo número”, disse Covas.
O estudo mostra que 69,5% dos estudantes são assintomáticos, e ainda que 26,3% convivem com idosos em casa, o principal grupo de risco para o coronavírus. Esse ponto está entre os destaques do inquérito, uma vez que pode afetar a disseminação da doença entre a parte da população mais vulnerável.
A fatia da população mais atingida são as classe D e E, que têm prevalência acima da média, de 19,5%. O inquérito foi feito com 6.000 mil alunos.
Também foi apresentado inquérito sorológico para adultos, em que foi mantida a prevalência de 11% da população com anticorpos.
“Se por um lado há a confirmação dessa tendência do coronavírus, que jogou luz sobre a desigualdade na cidade de São Paulo, há também uma certa confirmação de tendência que é a manutenção do índice de prevalência em 11%”, disse o prefeito. “A prefeitura começou a promover flexibilização aqui na cidade, as pessoas estão mantendo a preocupação, o controle e o respeito às normas sanitárias e a gente tem conseguido reabrir sem um segundo pico da doença na cidade de São Paulo.”
Para o médico Márcio Sommer Bittencourt, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP, o inquérito sorológico não deve ser o principal critério para decidir se as escolas voltam ou não às aulas. Ele diz que é difícil saber o patamar de prevalência que seja razoável para definir como parâmetro e que, além disso, os testes têm limitações, com falsos positivos e negativos.
“Não sei o que a prefeitura espera de valor para liberar as crianças para terem aula. Tem várias formas de se interpretar esse número, eu posso dizer que as crianças mesmo estando em casa podem pegar infecção também”, disse.
Um ponto que Bittencourt ressalta e pode pesar na decisão é a alta convivência com idosos indicada na pesquisa. “Minha pergunta não é só se a criança viu bastante um idoso na pandemia, pois acho que o número é alto, a minha pergunta é se ela poderia não ter visto. Se voltar a aula, a família consegue se adaptar para que essa situação não ocorra?”.
O médico ressalta, sobretudo, a necessidade de criar um ambiente seguro para os estudantes.
“O mais importante para a abertura das escolas é estruturar as escolas para receber as crianças, com protocolo de distanciamento, barreira, quer seja máscara, painéis, face shields, escalonamento de entrada, de saída”, diz. Ele inclui aí a criação de um protocolo de entrada, que afastaria das salas crianças com sintomas, e a realização de testagem.
O Sinpeem (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo), defende que a volta às aulas ocorra apenas em 2021, com reorganização dos ciclos de ensino e das escolas.
“A questão da reprovação não é simples, e vetá-la não resolve o problema”, afirmou José Donizete Fernandes, presidente em exercício do sindicato. “Em que pese o ensino remoto, o ano em andamento ficou muito prejudicado pela pandemia”.
O Sinpeem propõe que as escolas avaliem o que foi feito neste ano e reorganizem os próximos anos a partir do que foi possível cumprir do currículo em 2020.
“Somos contra o retorno até o fim do ano e gostaríamos que a Secretaria Municipal de Educação preparasse pedagógica e infraestruturalmente as escolas ao longo dos próximos meses para que a volta seja a mais segura possível”, disse. “Sem essa adequação, a volta pode ser catastrófica, mesmo no ano que vem”, completou.
O Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo), que representa as escolas particulares e vem se posicionando a favor da volta às aulas ainda em 2020, não foi encontrado para comentar.
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