ADRIANO MANEO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Militares do Mali amotinados desde a manhã desta terça-feira (18) detiveram o presidente, Ibrahim Boubacar Keita, e o primeiro-ministro do país, Boubou Cissé.
Não há acusações formais contra ambos os políticos e não está claro quem está no comando do país no momento. Durante a tarde, a televisão estatal ORTM foi tirada do ar.
De acordo com o grupo de oposição M5-RFP, que lidera os protestos pela renúncia de Keita e Cissé desde o dia 5 de junho, o que está ocorrendo no país “não é um golpe militar, mas uma insurreição popular”.
O motim começou na base militar de Kati, a 15 quilômetros de Bamako. Segundo a embaixada brasileira no Mali, “houve tiros dentro da base”, e o comércio foi fechado devido ao temor de um golpe de Estado.
Além da tomada da base, rumores de que havia um golpe em curso e informações de que ministros e militares de alto escalão foram detidos fizeram com que milhares saíssem às ruas para celebrar. Imagens da agência AFP mostram caminhonetes de militares sendo recebidas com festa pelos manifestantes.
As prisões de Keita, Cissé e outras autoridades do país foram condenadas por diversos países e organismos internacionais. O secretário-geral da ONU, o português António Guterres, e o presidente da União Africana, Moussa Faki Mahamat, pediram a liberação imediata do presidente e de seus aliados.
O Conselho de Segurança da ONU também anunciou que dará nesta quarta (19) uma reunião de emergência sobre a crise no país. Em comunicado divulgado por meio de seu porta-voz, Guterres exigiu a restauração da ordem constitucional e do estado de direito no Mali.
Faki seguiu a mesma linha. Condenou “veementemente qualquer tentativa de mudança anticonstitucional” e apelou “aos amotinados para que cessem o uso da violência e respeitem as instituições republicanas”.
Antes da confirmação sobre a prisão dos líderes do país, o embaixador brasileiro para o Mali, Rafael Vidal, afirmou à reportagem que o Brasil segue apoiando a “ordem institucional” e o “presidente legitimamente eleito do país, Ibrahim Keita”. Segundo Vidal, “Keita tem sido hábil negociador e tem trabalhado duro pela estabilidade política, preservação da democracia e retorno da segurança na luta contra o terrorismo”.
A base de Kati é a mesma onde teve início um golpe militar que, em 2012, derrubou o então presidente Amadou Toumani Toure, gerando a instabilidade que abriu espaço para que radicais islâmicos assumissem o controle de vastas regiões no norte do Mali e em países vizinhos.
Os conflitos na região persistem desde então, com a presença de uma coalizão internacional liderada pela França. Esse é um dos motivos pelo qual os líderes do país são pressionados a renunciar desde junho, quando grandes protestos tomaram as ruas de Bamako, deixando ao menos 14 mortos.
Os manifestantes reclamam da corrupção no governo e da ineficiência da coalizão que tenta combater os extremistas islâmicos há oito anos. Quem lidera os protestos é o grupo de oposição M5-RFP, cujo nome faz referência ao dia 5 de junho, data de início das manifestações, e o clérigo muçulmano Mahmoud Dicko.
Apesar de os protestos serem heterogêneos, unindo diferentes grupos religiosos e políticos, Dicko é visto como a força que galvanizava os atos -ele ainda não se pronunciou sobre os acontecimentos desta terça.
A importância estratégica do Mali para o conflito na região oeste do Sahel torna a instabilidade no país um motivo de preocupação para as nações vizinhas e para a comunidade internacional.
O temor é que a crise política prejudique o combate a extremistas islâmicos que protagonizam conflitos no Sahel -faixa de clima semi-árido abaixo do deserto do Saara e acima da floresta tropical africana.
A Cedeao (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental) tentou apaziguar a situação no Mali em três oportunidades. Na última, após uma conferência extraordinária com todos os Estados-membros, o bloco fez uma série de recomendações para pacificar a oposição e os manifestantes.
Entre as recomendações estavam a formação de um governo de união nacional que incluísse a oposição e a renúncia de 31 deputados eleitos após uma controversa decisão do Tribunal Constitucional do país que favoreceu o governo de Keita, além da recomposição da próprio tribunal, dissolvido em resposta aos atos.
O governo tentou colocar as recomendações em prática, mas a oposição não cedeu e seguiu pedindo a queda do presidente e de seu governo. Keita foi eleito presidente em 2013 e reeleito em 2018.
Internacional
Domingo, 19 de janeiro de 2025
Dólar | R$ 5,18 | 0,000% |
Peso AR | R$ 0,03 | 0,164% |
Euro | R$ 5,59 | 0,000% |
Bitcoin | R$ 114.180,92 | 0,096% |
Termina nesta sexta prazo para prefeito explicar muro na Cracolândia
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, deve se manifestar ainda nesta sexta-feira (17), junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), sobre os motivos que levaram a prefeitura a construir um muro na Cracolândia, confinando, no local, pessoas em situação de vulnerabilidade. A intimação, dando prazo de 24 horas para a manifestação do prefeito, foi determinada...
Política
Taxação de estrangeiros vai resolver crise de moradia da Espanha?
Em meio à alta nos preços de imóveis, premiê defende imposto de 100% sobre imóveis comprados por cidadãos não residentes de fora da UE. Como o plano se compara a outros países onde faltam moradias a preços acessíveis?O mercado imobiliário espanhol está está passando por um grande boom. Nos primeiros nove meses de 2024, os...
No Mundo
Saiba onde comprar discos de vinil e jogar fliperama para embarcar na nostalgia em SP
Em plena era digital, enquanto a humanidade acompanha a evolução vertiginosa da inteligência artificial, o hábito de consumir produtos e serviços analógicos está (novamente) em alta na capital paulista.Com algum esforço, quem anda pelas ruas de São Paulo consegue comprar discos de vinil, revelar filmes, jogar fliperama e até provar comidas que foram famosas em...
Cultura
Bolsonaro se irrita com veto de Moraes a passaporte: “Não estou indo para uma festa
Bolsonaro pediu o documento de volta ao ministro para viajar aos Estados Unidos e acompanhar a posse do presidente eleito, Donald Trump, no próximo dia 20 O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostrou irritação nesta quinta-feira, 16, por ter tido o pedido de devolução de seu passaporte negado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre...
Política
Brasil terá maior imposto do mundo com IVA estimado em 28%
País ultrapassaria carga de 27% da Hungria; trava de alíquota pode impedir isso A regulamentação da reforma tributária como foi sancionada nesta quarta-feira (16) deve resultar em um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) médio de 28% no Brasil, segundo estimativa apresentada pelo secretário extraordinário da reforma, Bernard Appy. A taxa levaria o país a ultrapassar a carga de alíquota aplicada na Hungria (27%),...
Economia
Aborto legal na França completa 50 anos como exceção mundial
Cinquenta anos atrás, estima-se que eram realizados 300 mil abortos clandestinos por ano na França. “Abortava-se em condições assustadoras, em cima de mesas de cozinha, frequentemente com hemorragias e sequelas para toda a vida”, lembra à reportagem a diplomata Claudine Monteil, na época uma jovem feminista.Tudo mudou em 17 de janeiro de 1975, quando foi...
No Mundo
BYD anuncia fim de contrato com construtora chinesa e cria comitê para obras em Camaçari
A BYD anunciou nesta quinta-feira, 16, que encerrou oficialmente o contrato com a construtora chinesa Jinjiang após o resgate de 163 trabalhadores que trabalhavam em condições análogas à de escravos na obra da fábrica de Camaçari (BA) no final de 2024. Foi contratada uma construtora brasileira que será responsável pelos ajustes exigidos pelo Ministério do...
Negócios