MÔNICA BERGAMO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal concluiu que as acusações feitas pelo ex-ministro Antonio Palocci sobre um caixa milionário de propinas para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) administrado pelo banqueiro André Esteves, do BTG, não têm provas e foram todas desmentidas pela investigação -inclusive em depoimentos de testemunhas e de delatores que incriminaram o PT em outros processos.
Na semana passada, o delegado Marcelo Daher encerrou o inquérito sem indiciar os acusados e afirmando que as informações dadas por Palocci em sua delação “parecem todas terem sido encontradas em pesquisas de internet”, sem “acréscimo de elementos de corroboração, a não ser notícias de jornais”.
De acordo com Daher, “as notícias jornalísticas, embora suficientes para iniciar o inquérito policial, parece que não foram corroboradas pelas provas produzidas, no sentido de dar continuidade à persecução penal”.
Ele encaminhou o resultado ao Ministério Público Federal.
O inquérito foi aberto para investigar declarações de um dos anexos da delação premiada de Palocci, homologada pela Justiça.
Palocci havia dito que, a partir de fevereiro de 2011, André Esteves “teria passado a ser o responsável por movimentar e ocultar os valores recebidos” por Lula, “a título de corrupção e caixa dois, em contas bancárias abertas e mantidas no BTG Pactual S/A, em nome de terceiros”.
O banqueiro teria depositado para Lula, num primeiro momento, R$ 10 milhões “de vantagens indevidas” para garantir influência no governo federal.
Em troca, receberia informações privilegiadas de decisões do Banco Central sobre taxas de juros. Depois, dividiria parte dos lucros bilionários em operações com Lula, depositando os recursos em contas de terceiros.
O esquema, segundo Palocci, teria sido bolado em 2009, em uma reunião informal “em uma mesa ao lado da piscina do Palácio da Alvorada”.
Nela, afirmou o ex-ministro, estariam Lula, o então ministro da Fazenda Guido Mantega e o pecuarista e amigo do ex-presidente José Carlos Bumlai.
Lula teria comunicado que demitiria Henrique Meirelles do Banco Central. Guido e Bumlai armariam o esquema com André Esteves e o novo presidente da instituição.
Esteves faria as operações por meio do Fundo Bintang, administrado pelo BTG.
Em agosto de 2011, o esquema teria sido colocado em prática: segundo Palocci, Guido Mantega teria avisado Esteves de que o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central baixaria abruptamente a taxa de juros Selic em 1 de setembro.
Até então, ela seguia tendência de alta.
De posse da informação, Esteves teria atuado para que o Fundo Bintang tivesse lucros astronômicos, de 400% no ano. Parte dos ganhos teria sido destinada a Lula.
Palocci afirmou também que André Esteves queria administrar, em seu banco, R$ 300 milhões de propinas que seriam dados ao PT pela Odebrecht.
O ex-ministro “acreditava” que o banqueiro teria conversado sobre isso com Marcelo Odebrecht, numa reunião que ele, Palocci, havia marcado.
No relatório de conclusão do inquérito, a Polícia Federal relata que foram feitas operações de busca e apreensão e que o sigilo do Fundo Bintang foi quebrado.
Análises técnicas foram feitas pelo Laboratório de Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro da PF de São Paulo.
Os dados, segundo a PF, mostraram que o fundo, apesar de ter lucrado no mês apontado por Palocci, não teve ganhos em outras operações feitas com base em decisões do Copom.
“Restou afastada eventual utilização de informação privilegiada quanto a outras datas de reuniões do Copom”, diz o relatório do delegado Daher.
Intimado novamente para explicar o motivo de ter indicado especificamente o fundo Bintang como instrumento de operações com uso de informações privilegiadas, Palocci admitiu que “acompanhou as notícias do mercado na época” e que o “o nome Bintang foi o que ficou na memória”.
Os jornais, na época, haviam feito reportagens sobre os ganhos astronômicos do Bintang em setembro de 2011.
Já Marcelo Odebrecht afirmou que “houve uma certa confusão” de Palocci sobre o destino de propinas pagas pela empreiteira ao PT.
Segundo ele, André Esteves nunca administrou esses recursos. Apesar de os dois terem boa relação, o banqueiro nunca teria comentado nada com ele sobre contas que administraria para o PT.
Em depoimento, André Esteves negou as acusações. Disse que nunca administrou recursos para Lula e afirmou que conheceu Bumlai apenas em 2012 –três anos depois, portanto, da reunião na piscina apontada por Palocci em que o esquema teria sido arquitetado.
Além disso, o BTG não teria nenhuma ingerência sobre o Fundo Bintang, gerido por um único cotista, Marcelo Augusto Lustoza de Souza, que administrava seus próprios recursos. Lustoza também afirmou que não conhecia Esteves.
A defesa de Palocci diz, em nota, que há, sim, provas das acusações feitas pelo ex-ministro.
“É natural que investigados neguem o fato delatado, como já ocorreu em diversos inquéritos da operação Lava Jato”, afirma o advogado Tracy Reinaldet. “Há na investigação da PF prova pericial que comprova a veracidade da colaboração de Palocci. Além disto, existem outros fundos indicados pelo colaborador que ainda não foram investigados pela PF e que confirmam a versão do ex-ministro”.
Política
Sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
Dólar | R$ 5,18 | 0,000% |
Peso AR | R$ 0,03 | 0,164% |
Euro | R$ 5,59 | 0,000% |
Bitcoin | R$ 114.180,92 | 0,096% |
Termina nesta sexta prazo para prefeito explicar muro na Cracolândia
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, deve se manifestar ainda nesta sexta-feira (17), junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), sobre os motivos que levaram a prefeitura a construir um muro na Cracolândia, confinando, no local, pessoas em situação de vulnerabilidade. A intimação, dando prazo de 24 horas para a manifestação do prefeito, foi determinada...
Política
Taxação de estrangeiros vai resolver crise de moradia da Espanha?
Em meio à alta nos preços de imóveis, premiê defende imposto de 100% sobre imóveis comprados por cidadãos não residentes de fora da UE. Como o plano se compara a outros países onde faltam moradias a preços acessíveis?O mercado imobiliário espanhol está está passando por um grande boom. Nos primeiros nove meses de 2024, os...
No Mundo
Saiba onde comprar discos de vinil e jogar fliperama para embarcar na nostalgia em SP
Em plena era digital, enquanto a humanidade acompanha a evolução vertiginosa da inteligência artificial, o hábito de consumir produtos e serviços analógicos está (novamente) em alta na capital paulista.Com algum esforço, quem anda pelas ruas de São Paulo consegue comprar discos de vinil, revelar filmes, jogar fliperama e até provar comidas que foram famosas em...
Cultura
Bolsonaro se irrita com veto de Moraes a passaporte: “Não estou indo para uma festa
Bolsonaro pediu o documento de volta ao ministro para viajar aos Estados Unidos e acompanhar a posse do presidente eleito, Donald Trump, no próximo dia 20 O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostrou irritação nesta quinta-feira, 16, por ter tido o pedido de devolução de seu passaporte negado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre...
Política
Brasil terá maior imposto do mundo com IVA estimado em 28%
País ultrapassaria carga de 27% da Hungria; trava de alíquota pode impedir isso A regulamentação da reforma tributária como foi sancionada nesta quarta-feira (16) deve resultar em um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) médio de 28% no Brasil, segundo estimativa apresentada pelo secretário extraordinário da reforma, Bernard Appy. A taxa levaria o país a ultrapassar a carga de alíquota aplicada na Hungria (27%),...
Economia
Aborto legal na França completa 50 anos como exceção mundial
Cinquenta anos atrás, estima-se que eram realizados 300 mil abortos clandestinos por ano na França. “Abortava-se em condições assustadoras, em cima de mesas de cozinha, frequentemente com hemorragias e sequelas para toda a vida”, lembra à reportagem a diplomata Claudine Monteil, na época uma jovem feminista.Tudo mudou em 17 de janeiro de 1975, quando foi...
No Mundo
BYD anuncia fim de contrato com construtora chinesa e cria comitê para obras em Camaçari
A BYD anunciou nesta quinta-feira, 16, que encerrou oficialmente o contrato com a construtora chinesa Jinjiang após o resgate de 163 trabalhadores que trabalhavam em condições análogas à de escravos na obra da fábrica de Camaçari (BA) no final de 2024. Foi contratada uma construtora brasileira que será responsável pelos ajustes exigidos pelo Ministério do...
Negócios