Cultura
Domingo, 19 de maio de 2024

Game com Mário de Andrade permite passear por SP em plena pandemia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Esqueça por um instante a pandemia do novo coronavírus. Imagine agora o escritor Mário de Andrade (1893-1945) perambulando pelo centro da capital, no começo do século passado, atrás das frases perdidas do livro “Paulicéia Desvairada”.
Na história, que ultrapassa os limites do surreal, o poeta pretende mostrar sua obra, no dia seguinte, aos amigos e ao público na Semana Moderna de 1922.
Contudo, o livro é roubado por um homem que viajou no tempo e acaba, após uma confusão, tendo as suas partes espalhadas pelo centro histórico.
Esse é o enredo do game que o redator e designer Fifo Lazarini, 37 anos, lança para celular até o fim do ano. A ideia principal é que a novidade ajude como complemento ao conteúdo escolar, mas que possa interessar também aos entusiastas da literatura em geral.
O cenário reconstrói a cidade em três dimensões e mostra monumentos históricos como o Theatro Municipal, a praça Ramos, o vale do Anhangabaú, a rua Direita, a igreja da Sé (ainda em construção) e o páteo do Colégio.
Bondinhos e carros da época também ganham uma nova versão no game. Seguindo uma certa estratégia, o jogador deve ser muito preciso para obter todas as frases perdidas de “Paulicéia Desvairada” em um curto espaço de tempo.
O produto custará R$ 5 reais e já tem etapas desenvolvidas na internet. O Instagram @osandradesgame possui o link para a campanha de financiamento coletivo promovida por Lazarini.
“A intenção do game não é apenas estar inserido no cenário da pandemia, mas, sim, ultrapassá-lo”, afirma o criador. “Com muitas crianças, adolescentes e pré-vestibulandos aprendendo dentro de casa e utilizando meios digitais para aprender a distância, também será possível aprender via videogame. A intenção é que ele não substitua as aulas, mas que seja uma suplementação educacional barata e acessível para todos”, completa Lazarini.
O projeto completo do game inclui ainda mais dois jogos, com outros dois importantes escritores da literatura brasileira: Oswald de Andrade (1890-1954) e Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). O segundo tem início quando acaba o primeiro e mostra Oswald, por sua vez, atrás das frases de seu livro “Os Condenados”. Já o jogo com Drummond será ambientado na cidade natal do mineiro, Itabira.
É um boa oportunidade para reler alguns dos maiores clássicos da literatura nacional.
Ruy Castro recomenda o seu recente e melhor livro É só começar a reparar nos livros que aparecem atrás das videochamadas com jornalistas, artistas, intelectuais e famosos: quase sempre há um que foi escrito pelo escritor Ruy Castro entre eles. Maior biógrafo da literatura nacional, o autor nem repara.
“Exceto esporte, vejo pouco televisão. Lembro-me de que, da Guerra do Golfo, em 1991, ao ataque às torres gêmeas, em 2001, fiquei sem assistir até ao noticiário, acredita? Falta de tempo!”, conta ele, em papo por email com a coluna. De todos os seus livros, ele recomenda ao leitor “Metrópole à Beira-Mar – O Rio Moderno dos anos 20” (R$, 79,90, 504 págs., Cia. das Letras).
“É o meu melhor livro. Pelo menos, o que me deu mais trabalho”, conta. “Meu interesse agora são os de reconstituição histórica, como ‘Metrópole à Beira-Mar'”, completa.