MARINA DIAS
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Joe Biden costuma dizer que é um negociador. Com quase meio século de vida pública, não abandonou a ideia de que é preciso construir pontes com os dois lados da política americana mesmo em um cenário de extrema polarização.
A cem dias da eleição nos EUA, o candidato democrata à Casa Branca tem distensionado a relação com a esquerda de seu partido ao mesmo tempo em que atrai eleitores independentes e republicanos moderados que votaram em Donald Trump em 2016.
Agora, parte deles se diz cansada da retórica agressiva do presidente e vê no centrismo de Biden uma opção para os próximos anos.
O amplo arco eleitoral tem mantido o ex-vice de Barack Obama à frente nas pesquisas nacionais e em estados-chave -em algumas delas, por margem de mais de dez pontos percentuais- e colocou em risco a reeleição de Trump, que insiste na retórica divisionista como forma de permanecer mais quatro anos no cargo.
“Biden fez carreira como unificador. Cria grandes coalizões, que incluem jovens e mais velhos, pessoas negras e pessoas brancas da classe trabalhadora”, afirma Mark Feierstein, que foi assessor especial da Casa Branca durante o governo Obama.
“A intenção de Trump é dividir o país, enquanto Biden quer restaurar, como ele diz, uma nação sólida. Ele sempre foi capaz de trabalhar com democratas, republicanos e independentes, e agora não é diferente.”
Em um cálculo político minucioso, Biden levou para o centro de sua campanha expoentes da ala progressista do Partido Democrata, como Bernie Sanders e Elizabeth Warren, em uma tentativa de atrair o apoio de jovens e latinos, entusiastas dos senadores, mas que não se animavam com a candidatura do ex-vice-presidente.
Muitos desses eleitores têm se movido principalmente pelo sentimento anti-Trump, que pode beneficiar a oposição no comparecimento às urnas -o voto não é obrigatório nos EUA-, mas, de acordo com assessores, Biden entendeu que não era suficiente.
Ele decidiu lançar mão de medidas mais efetivas no aceno à esquerda, porém, sem abraçar completamente propostas que costumam assustar moderados, como o desmantelamento da polícia, a legalização da maconha e saúde e educação grátis para todos.
Criou seis grupos de trabalho com especialistas indicados por Sanders e fez de Warren uma de suas principais conselheiras, estabelecendo uma dinâmica de conversas a cada dez dias com a senadora.
Sanders e Warren disputaram a indicação democrata à Presidência dos EUA, mas desistiram justamente por não conseguirem ampliar seu arco de apoiadores.
Entre os temas discutidos, estão alguns de grande apelo entre os progressistas: clima, saúde, imigração, educação, economia e reforma do sistema judicial.
Mas há limites. Apesar de ter à frente a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, uma das estrelas jovens democratas, o plano climático de Biden, por exemplo, não adota o “Green New Deal” -em que a parlamentar propunha reformas radicais na economia americana para que 100% da demanda por energia fosse atendida por meio de fontes limpas e renováveis.
No atual projeto, há o compromisso de zerar emissões de carbono decorrentes da produção de energia elétrica em 15 anos e investir US$ 2 trilhões (R$ 10,5 trilhões) até 2025 para aumentar o uso de energia limpa nos setores de construção civil, transporte e eletricidade.
Na educação, Biden propõe pré-escola grátis, bem como universidade pública para estudantes de famílias que ganham menos de US$ 125 mil (R$ 654 mil) por ano, mas não chega ao plano de Sanders de ensino superior gratuito para todos os americanos.
O equilíbrio entre progressistas e moderados tem surtido efeito, inclusive, entre empresários e investidores, importantes pilares de apoio do governo nos EUA.
“Há um reconhecimento de que Biden não é Sanders ou Warren, mas todos sabem que ele vai ter que acenar à esquerda. Esse aceno é real, ele terá uma agenda mais progressista tributária, por exemplo, para poder financiar seu ambicioso plano de meio ambiente”, afirma Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da consultoria Eurasia. “Essa agenda pode gerar ruído no mercado, mas não é um cenário de pânico.”
Do ponto de vista prático, as propostas ainda precisam passar pelo aval do núcleo de campanha e dos delegados do Partido Democrata para serem incorporadas de vez ao programa de governo, mas o gesto político foi capaz de conquistar eleitores e neutralizar qualquer tipo de oposição pública a seu nome da ala mais à esquerda da sigla.
Segundo pesquisa divulgada pelo New York Times/Siena poll, 87% dos eleitores que tinham Sanders como primeira opção dizem que vão votar em Biden. No caso dos apoiadores de Warren, o índice chega a 96%.
Biden não quer repetir o erro de Hillary Clinton, que, em 2016, depois de vencer Sanders nas primárias, desdenhou dos entusiastas do senador e não foi capaz de motivar muitos deles no dia da eleição.
Além disso, Hillary afastou moderados que haviam votado em Obama em 2008 e 2012 e, depois, dizendo-se abandonados pelos democratas, escolheram Trump em 2016 e foram decisivos para a vitória do presidente.
Com a esquerda unida e motivada pelo sentimento anti-Trump, o maior desafio de Biden passou a ser recuperar esses dissidentes.
De acordo com levantamento feito pelo instituto Gallup no mês passado, 25% dos americanos se consideravam republicanos, 31%, democratas e 40%, a maior fatia, independentes.
A popularidade de Trump caiu sete pontos no último grupo, chegando a 39%, um bom sinal para Biden.
O principal apelo para esses eleitores era a economia, hoje mergulhada em uma crise que resultou em taxa de desemprego recorde, de cerca de 13%.
O presidente tem sido mal avaliado por sua condução da pandemia e custa a encontrar uma estratégia assertiva para reverter o quadro.
Diante do cenário favorável, a ordem na campanha democrata, dizem assessores, é “keep boring”, expressão em inglês que, neste caso, significa manter o estilo considerado entendiante de Biden na construção de um arco eleitoral diverso, sem surpresas ou radicalismos.
Internacional
Quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025
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