JULIA CHAIB E GUSTAVO URIBE
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A nomeação do deputado Fábio Faria (PSD-RN) para o Ministério das Comunicações, recriado sob medida para o parlamentar, foi lida por aliados do presidente e por parlamentares como um gesto de Jair Bolsonaro para reorganizar sua política de comunicação, diminuir a influência de militares na área e acenar para setores do Legislativo.
Num primeiro momento, no entanto, o movimento não foi bem recebido por uma ala do chamado centrão. Integrantes de algumas das legendas que compõem o grupo, como PP, PL e Republicanos, relataram a pessoas próximas desconforto com o fato de o presidente ter dado um cargo no primeiro escalão do governo a um deputado do PSD.
Apesar de Bolsonaro e expoentes do PSD assegurarem que Faria foi indicação pessoal do presidente, e não partidária, dirigentes de partidos do centrão avaliam que o presidente do PSD, Gilberto Kassab, estava sim ciente da movimentação e foi contemplado com a nomeação do deputado.
Kassab foi ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicações no governo Temer e mantém interesses no setor.
Com o movimento, Bolsonaro ainda tirou o Secretaria de Comunicação do guarda-chuva dos militares -a Secom era subordinada à Secretaria de Governo, comandada pelo general Luiz Eduardo Ramos.
A secretaria, comandada por Fabio Wajngarten, foi incorporada ao Ministério das Comunicações. Wajngarten foi nomeado secretário-executivo, por ora, mas deverá depois cuidar apenas da comunicação.
Pessoas próximas ao secretário avaliam que ele estava perdendo gerência sobre sua área para os fardados, que queriam imprimir ritmo e políticas próprias para a comunicação.
Além de tirar oficialmente a estrutura da Secom dos militares, outra mudança deve representar a perda de poder dos integrantes das Forças Armadas na área. A expectativa é que o presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), o general Luiz Carlos Pereira Gomes, seja substituído. A EBC acaba de ser incorporada ao ministério.
Fábio Faria também deverá trocar o presidente dos Correios, o general Floriano Peixoto Vieira Neto.
Segundo caciques do centrão, o desconforto com a escolha de Faria não resultará em abalo forte com o governo -até porque eles também foram contemplados com cargos- e sobretudo pelo perfil agregador de Faria.
Ao dar o ministério a Faria, por exemplo, Bolsonaro agradou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), amigo do deputado, e o grupo ligado ao comandante da Casa. Faria telefonou na noite de quarta (11) para Maia e informou que seria nomeado ministro.Em seguida, esteve em sua casa.
Para parlamentares, a nomeação de Faria foi um dos gestos mais robustos de Bolsonaro para a classe política até aqui.
A avaliação é a de que o presidente precisou agir de modo mais agressivo para mais uma vez garantir apoios num momento em que enfrenta protestos nas ruas, é alvo de ações que pedem a cassação de sua chapa no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e vê o inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal (STF) atingir seus aliados.
Bolsonaro também ouvia reclamações de radiodifusores sobre as políticas para a área.
Em outra frente, com o perfil agregador de Faria, Bolsonaro tenta imprimir novo modelo de comunicação no governo, buscando inclusive, estabelecer nova relação com emissoras.
O novo ministro é genro de Silvio Santos, dono do SBT. Considerado habilidoso, teria como missão melhorar o relacionamento com outras empresas do setor.
A aliados nesta quarta (10) Faria disse que uma de suas missões será pacificar relações com a imprensa e políticos.
De acordo com integrantes do governo que acompanham o tema, a indicação de Faria e a transferência da Secom para as Comunicações fazem parte de um gesto de Bolsonaro de tentar melhorar sua interlocução com a Globo, a maior emissora do país.
Tanto o presidente quanto Wajngarten são críticos do grupo carioca. Faria, embora genro do dono do SBT, é visto pelos diretores da empresa como alguém político aberto para o diálogo.
As tratativas para a nomeação foram intensificadas no dia 3, quando Bolsonaro reclamou a Faria da forma como estava sendo tocada a área de comunicações e disse que queria reformulá-la.
Com o desmembramento do Ministério das Comunicações, a pasta de Ciência e Tecnologia seguirá comandada pelo astronauta Marcos Pontes.
Com isso, o governo Bolsonaro passa a ter 23 ministros, oito a mais do que os 15 prometidos durante a campanha eleitoral. O 24º ministério pode ser criado ainda neste ano, com o desmembramento do Ministério da Justiça e a criação da pasta da Segurança Pública.
Na distribuição de cargos para siglas do centrão, parte da negociação para formar uma base no Congresso, o presidente já fez outras sinalizações ao PSD.
Ele entregou ao partido a presidência da Funasa ao partido, chefiada pelo ex-comandante da PM Giovanne Gomes da Silva. Ele também nomeou Carlos Roberto Fortner, ex-presidente dos Correios, para Instituto Nacional de Tecnologia da Informação.
Legendas como o PP e PL também já foram contempladas, mas até o momento com postos no segundo escalão. Pela primeira vez desde a aproximação com o bloco um parlamentar de partido do centro chega a um ministério.
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