A cidade de São Paulo já teve aquele que foi considerado o maior cortiço vertical do Brasil: o edifício São Vito ou, como ficou mais conhecido: o Treme-Treme. A origem desse nome, segundo especialistas, vem da marginalização dos moradores, de classe baixa, tidos pelas representações da mídia como criminosos. O edifício que era localizado em frente ao Mercado Municipal e ao lado da Avenida do Estado, foi projetado pelos arquitetos Kogan & Zarzur. Essa dupla de arquitetos foi muito famosa para a história da cidade de São Paulo, sendo que esses profissionais foram os responsáveis por projetar outros edifícios conhecidos na cidade, como o Racy, na Avenida São João; o Mirante do Vale, no centro da cidade; entre outros.
Em 1959, na época da inauguração do edifício São Vito, ele foi considerado a solução para o problema da moradia popular. O prédio, com forte influência da escola de arquitetura de São Paulo, sempre se destacou na paisagem da cidade. Quando inaugurado, contava com 25 pavimentos residenciais totalizando mais de 600 quitinetes. O local, por oferecer moradia em um preço relativamente baixo, era alvo de muitos imigrantes e trabalhadores em más condições financeiras que buscavam, em São Paulo, uma vida mais digna.
A estrutura do São Vito era composta de concreto armado, com brises horizontais. Ele possuía três elevadores originais do prédio e o último andar era uma área livre de 800 metros quadrados que chegou a ser usada para eventos em 1960. Os corredores dos andares tinham cerca de oitenta centímetros de largura e as escadas internas 1,20 metro. O prédio não recebeu reformas durante muito tempo e, aos poucos, foi sofrendo irreversível processo de deterioração, acabando por ficar ocupado apenas por famílias de baixa renda. Sua situação o transformou em uma ilha urbana, cercado pelo alto tráfego de carros e elevado índice de poluição sonora e do ar.
Essa degradação foi acentuada pela divisão de diversas quitinetes em duas, pela instalação de diversas “gambiarras” na rede elétrica (80% dos pontos de ligação do prédio eram clandestinos em 2002) e até pela suspensão da coleta de lixo, o que levou muita gente a atirar sacos de lixo das janelas, além de água suja e restos de comida.
Foram por esses motivos, aliás, que surgiu o apelido de “Treme-Treme”: devido à grande bagunça e problemas que ocorriam dentro do edifício. Além disso, por atrasos no pagamento das contas, a Sabesp interrompeu o serviço de abastecimento de água no edifício em 1973. Durante seu processo de ocupação, o São Vito ainda conquistou outro apelido: a maior favela vertical da América Latina.
A primeira proposta de implosão surgiu em dezembro de 1987, quando Jânio Quadros então prefeito da cidade, leu em uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo que a polícia tinha dificuldades para entrar no prédio. É dele, também, a fala de que o edifício era “(…) uma favela vertical, um valhacouto para desocupados, marginais e até criminosos”.
A violência dentro do próprio edifício fez com que aos poucos os moradores deixassem-no. No ano de 2002 havia 150 apartamentos abandonados e no ano seguinte a prefeitura declarou a intenção de desapropriar o edifício o que aconteceria um ano depois. Nesse mesmo ano, apenas um dos três elevadores originais estava em funcionamento, o que gerava filas de até meia hora para os moradores em horário de pico.
Após ser fechado, como todo espaço sem uso e ou manutenção, o prédio teve a maioria de seus vidros quebrados, suas paredes pichadas e começou a ser frequentado por usuários de crack. Depois de disputas judiciais que se arrastaram por mais de sete anos, a administração municipal optou pela demolição tijolo a tijolo e não pela implosão, como idealizado inicialmente, devido ao risco de danos aos vitrais do Mercado Municipal, às construções do entorno, à Avenida do Estado e ao próprio rio Tamanduateí. Esse processo foi finalizado no dia 02 de maio de 2011 e, segundo o planejamento da época, o terreno ganharia um projeto de revitalização urbana.
Por fim, vale o destaque para a fala de Gabriel Kogan, neto do construtor do São Vito, que chegou a dizer que: “foi uma decisão política”. Para o neto do construtor, o San Vito representava para São Paulo um pensamento urbanístico mais democrático, que oferecia no centro, próximo ao local de trabalho de grande parte da população da cidade, uma opção barata para se viver. “A melhora da cidade passa necessariamente pela ideia de adensamento planejado.”.
Estima-se que seus restos foram usados para pavimentar oito ruas de Brasilândia, Rio Pequeno e Jardim Helena. A destruição do prédio e também do vizinho Mercúrio geraram 40 000 metros cúbicos de entulho, que serviram para cobrir 2 600 metros de vias. A utilização dos resíduos representou uma economia de até 40% comparada ao uso de asfalto comum.
Fonte: Site SP in foco