CLARA BALBI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As cenas que compõem “Histórias de Confinamento”, experimento virtual do Grupo Galpão em cartaz até o domingo, são quase familiares demais para aqueles que, como os retratados, continuam em quarentena nove meses depois da chegada do coronavírus ao país.
Uma velhinha conta que, depois de meses de insônia, enfim conseguiu dormir. Um homem comemora o aniversário sozinho, uma vela com o número zero espetada no bolo. Personagem após personagem pergunta a um interlocutor imaginário, no telefone ou do outro lado da tela, se ele consegue ser ouvido.
O realismo não é à toa – as cenas foram pinçadas de cerca de 500 relatos enviados pelo público a partir de uma chamada nas redes sociais. “Lançamos a campanha em maio, pensando que ela caducaria e a pandemia passaria rapidamente”, lembra Inês Peixoto, que dirige o projeto ao lado de Eduardo Moreira. Os dois são atores da trupe mineira.
O Galpão já tinha feito um apelo do tipo 13 anos atrás, na peça “Pequenos Milagres”. Então, convidou o público a narrar acontecimentos extraordinários, grandes coincidências.
Desta vez, ao contrário, o Galpão estava interessado naquilo que havia de mais ordinário do confinamento, fosse ele triste ou cômico, real ou ficcional, diz Peixoto.
Esse caráter do prosaico impregna “Histórias de Confinamento”. Ele aparece nos figurinos, roubados dos guarda-roupas pessoais dos intérpretes, e nos cenários, quartos, salas, banheiros e cozinhas dos atores na vida real. E também nas situações narradas, enviadas por habitantes de ao menos sete estados.
São monólogos curtos, “flashes”, nas palavras dos diretores, que buscam transmitir os dilemas e reflexões de pessoas comuns diante da evolução da pandemia, mês a mês.
Peixoto e Moreira comparam a experiência de assistir ao espetáculo à sensação de passear os olhos pelas janelinhas de um prédio, espiando por alguns instantes os dramas que se desenrolam em cada uma delas, um pouco como o protagonista de “Janela Indiscreta”, de Hitchcock. “Apostamos muito nesses fragmentos que contam o todo. É quase uma dramaturgia metonímica”, diz Peixoto.
Ela acrescenta que, mais do que criar personagens, os atores da companhia simplesmente se apropriaram das histórias enviadas com seus corpos, suas casas. E que o tom “sem enfeites” das suas interpretações tinha a ver com um desejo de mostrar uma “ambiguidade do real”.
“Estamos passando por um momento horrível, mas você ainda quer dormir, transar, falar com o namorado, tem problema com o bombeiro. É muito humano, nesse sentido”, afirma a diretora.
Esse realismo faz com que a sensação de assistir à peça seja como a de testemunhar uma história escrita a jato, no calor dos acontecimentos. Em especial num momento em que o coronavírus volta a encher hospitais e esgota as esperanças de quem achava que a vida – e o teatro – voltariam ao normal. Mesmo que um “novo normal”.
“De certa forma, estamos fazendo uma coisa bonita da arte, que é ser uma crônica do nosso tempo, e dividir angústias e dificuldades com o público”, afirma Moreira.
Ele diz ser um alívio poder fazer teatro, ainda que online. Em setembro, o grupo lançou um filme sobre a tentativa, um tanto fracassada, de ensaiar virtualmente uma peça inspirada em escritos de poetas brasileiros contemporâneos, mas esta é a primeira vez em que se apresentam ao vivo.
Mesmo assim, acrescenta o diretor, o Galpão já começa a discutir alternativas para voltar aos palcos fora desse universo virtual. “O teatro presencial é a essência do nosso trabalho, é do que mais sentimos falta”, diz Moreira.
“Como o Galpão tem uma tradição de teatro de rua, talvez ela seja mesmo o lugar mais possível nesse momento”, acrescenta Peixoto.
Cultura
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