IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O aumento da tensão diplomática com os Estados Unidos e a disposição do governo Donald Trump em facilitar o emprego da bomba atômica levaram os chineses a aumentar seus treinamentos para o caso de um ataque nuclear.
Desde abril, a Força de Foguetes do Exército de Libertação Popular tem feito exercícios até aqui inéditos, em conjunto com outros ramos das Forças Armadas.
O jornal honconguês South China Morning Post compilou relatos distribuídos pelos militares chineses em redes sociais das forças e do jornal PLA Daily, o diário do Exército.
Dois vídeos recentes, postados no fim de semana, chamaram a atenção. Num, quatro brigadas de primeiros-socorros vão ao socorro de soldados numa base a 2.000 km de distância que foi atacada com uma ogiva nuclear à noite.
No outro, é descrito o maior exercício já feito sobre o tema, com milhares de soldados e centenas de veículos militares protegidos contra radiação sob o sol escorchante do deserto do Gobi.
Segundo disse ao jornal o especialista Antony Wong Tong, a operação no Gobi envolveu tanques pesados, indicando também a ideia de um confronto armado dentro do cenário de ataques nucleares.
Diferentemente dos exercícios aeronavais recentes, destinados a enviar sinais de força e preparação para os Estados Unidos e rivais como Taiwan, essas simulações são vistas por analistas militares chineses como uma preocupação real do Exército de tratar de uma área subestimada.
Há duas semanas, os EUA posicionaram três bombardeiros furtivos B-2, com capacidade nuclear, na sua base na ilha de Diego Garcia, no oceano Índico.
Desde 2017, com a chegada de Trump ao poder, os países vivem um crescente conflito. Essa Guerra Fria 2.0 envolve a área econômica, tecnológica, diplomática e militar -os americanos elevaram seus exercícios no contestado mar do Sul da China, levando a uma reposta proporcional de Pequim, que reclama 85% da área para si.
A ambiguidade deliberada da política nuclear norte-americana é outro fator de estresse. Os EUA flexibilizaram os cenários em que podem empregar armas atômicas ao revisar suas diretrizes, em 2018. A ideia ampliar o leque de situações em que pode ser feito o uso tático, pontual, de armas menos destruidoras.
Por ordem de Trump, foi desenvolvida uma nova ogiva, a W76-2, de baixa potência em comparação com as armas usualmente usadas. Ela foi colocada em operação em mísseis disparados por submarinos Trident no começo deste ano.
O problema é que uma explosão nuclear é sempre catastrófica e, pior, pode levar a uma escalada que chegue à troca de fogo com as armas estratégicas -aquelas destinadas a inviabilizar o inimigo e que, considerando o arsenal existente, acabariam com a civilização.
EUA e Rússia concentram mais de 90% das bombas existentes, e têm 1.750 e 1.570 armas prontas para uso, respectivamente. Já a China vem num distante terceiro lugar, com 320 ogivas.
Ainda assim, os americanos buscaram incluir Pequim nas travadas negociações do Novo Start (sigla inglesa para Tratado de Redução de Armas Estratégicas), que vence em fevereiro de 2021.
Não deu certo, mas na semana passada Washington disse que aceitaria renovar o acordo se os russos topassem incluir mísseis de menor alcance na cesta de armas a serem verificadas de lado a lado.
Nos últimos anos, o governo Trump retirou os EUA de dois acordos importantes de controle de armas e mudou sua doutrina, enquanto o russo Vladimir Putin anunciou o desenvolvimento de uma nova família de ogivas estratégicas.
A opção americana por armas relativamente menos potentes assustou o Kremlin, que reforçou sua própria doutrina e disse que qualquer míssil disparado de submarino contra si ou aliados seria considerado uma arma nuclear e receberia retaliação atômica.
Internacional
Domingo, 28 de abril de 2024
Dólar | R$ 5,18 | 0,000% |
Peso AR | R$ 0,03 | 0,164% |
Euro | R$ 5,59 | 0,000% |
Bitcoin | R$ 114.180,92 | 0,096% |
Após detenções, Blinken diz que atos em universidades dos EUA fazem parte da democracia
Depois que protestos pró-Palestina ganharam força e se espalharam por universidades de todo os Estados Unidos a despeito de prisões em massa, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou nesta sexta-feira (26) que os atos fazem parte da democracia. Ele criticou, porém, o que chamou de silêncio dos manifestantes em relação aos atos de...
No Mundo
Para onde vão os R$ 300 milhões captados pela Boa Safra?
Companhia tem plano para fábrica na região Sul, construção de CDs, diversificação de culturas e novas aquisições Com a conta corrente recheada com novos R$ 300 milhões, a Boa Safra Sementes (SOJA3) se prepara para por em prática sua nova fase de crescimento. Depois de triplicar de tamanho nos últimos três anos, desde o IPO, a estratégia...
Negócios
Empresa matriz do TikTok descarta vender rede social apesar de ameaças nos EUA
A ByteDance, empresa chinesa controladora do TikTok, afirmou que não tem intenção de vendê-la após a aprovação de uma lei no Congresso dos Estados Unidos que ameaça proibir a rede social se ela não cortar seus laços com a China. Os congressistas americanos estabeleceram um prazo limite de nove meses para a venda da plataforma,...
No Mundo
Comando do MDB paulistano critica possível alinhamento do PSDB com ‘extrema esquerda’
O presidente do MDB paulistano, Enrico Misasi, disse ao Estadão “não querer crer” que o PSDB, que segundo ele sempre se opôs “ferrenhamente” ao PT e ao PSOL em São Paulo, “vá se aliar com quem, na eleição passada, apoiou a extrema esquerda contra o prefeito Bruno Covas”. Embora não tenha citado nomes, a declaração do dirigente...
Política
Reforma tributária: veja alimentos que terão imposto zero e produtos com alíquota menor
Quinze alimentos in natura ou pouco industrializados vão compor a cesta básica nacional e pagar imposto zero, com a reforma tributária. O projeto de lei complementar que regulamenta o tema, enviado na noite desta quarta-feira, 24, ao Congresso, trouxe ainda 14 produtos com alíquota reduzida em 60%. + Cashback, cesta básica, profissões com menos imposto:...
Economia
Sabesp: Vereadores de SP deverão votar privatização após estudo de impacto orçamentário, diz Justiça
Decisão da juíza Celina Kiyomi Toyoshima estabelece que votação na Câmara segundo turno ocorra depois da realização de audiências públicas A juíza Celina Kiyomi Toyoshima, da 4ª Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), determinou, na terça-feira (23), que a Câmara Municipal da capital paulista vote em segundo turno o...
Política
“A Europa pode morrer”, alerta Macron em discurso na Sorbonne
Presidente francês também disse que europeus não podem ficar submissos aos EUA O presidente da França, Emmanuel Macron, apelou nesta quinta-feira (25) por defesas europeias mais fortes e integradas e disse que o continente não deve se tornar um vassalo dos Estados Unidos, enquanto delineou sua visão para uma União Europeia mais assertiva no cenário global. Com apenas...
No Mundo