
Desde a sua privatização em meados de 2022, a Axia – antiga Eletrobras – teve uma valorização de 41,6%, implicando em um ganho de R$ 36,5 bilhões em valor de mercado nestes pouco mais de três anos, segundo levantamento da Elos Ayta Consultoria.
Isso porque o valor de mercado da Axia saiu de R$ 87,8 bilhões à época da privatização para os atuais R$ 124,3 bilhões.
O aumento no valor de mercado se dá por conta da expressiva valorização das ações da companhia nesta janela – refletindo ganhos operacionais substanciais, com lucros crescentes depois da privatização.
Como exemplo, em 2023, o lucro líquido foi de R$ 4,39 bilhões, um aumento de cerca de 21% sobre 2022. Em 2024, a última linha do balanço saltou para R$ 10,38 bilhões, representando alta de 136% ante o ano anterior.

Além disso, o mercado premiou a companhia por conta da redução de custos e da alavancagem, dado que a gestão teve sucesso em cortar custos, diminuir passivos e aumentar os investimentos após o processo de desestatização.
Após três anos da privatização, foi reportado corte de cerca de 18% nos custos operacionais (PMSO) e de aproximadamente 27% no quadro de funcionários, além de uma elevação do investimento de cerca de R$ 4,6 bilhões em 2021 para R$ 7,7 bilhões no ano de 2024.
Vale destacar que, em termos de performance, as ações ELET3 ostentam um retorno total de 51,9% desde a privatização – a métrica considera a alta das ações somada ao reinvestimento dos proventos distribuídos.
A rentabilidade supera o principal índice da bolsa de valores (Ibovespa) e o índice de elétricas da bolsa (IEEX), que subiram 40% e 39% no mesmo período, respectivamente.
Dividendos polpudos
Afora o ganho de capital, a antiga estatal também teve uma remuneração expressiva dos seus acionistas em um passado recente, com dividendos que saíram de R$ 0,74 por ação ordinária em 2022 para R$ 1,27 em 2024 e R$ 2,65 no ano de 2025 (até outubro).
Isso fez com que o dividend yield saltasse de menos de 1% no ano da privatização para atuais 7,7%, segundo dados da Elos Ayta Consultoria.
Em valor nominal, foram R$ 1,4 bilhão em proventos em 2022, R$ 864 milhões em 2023, R$ 1,3 bilhão no ano de 2024 e R$ 3,9 bilhões no acumulado de 2025 até então.
Resultado recente mostra lucro de R$ 1,5 bilhão
A companhia reportou lucro líquido ajustado de R$ 1,47 bilhão no segundo trimestre, 43,3% superior ao registrado no mesmo período do ano passado.
Sem ajustes, a Eletrobras apurou prejuízo líquido de R$ 1,33 bilhão no trimestre encerrado em junho, revertendo lucro de R$ 1,74 bilhão de um ano antes, impactado por um ajuste de R$ 3,43 bilhões motivado pela mudança no fluxo de pagamentos da indenização da chamada Rede Básica do Sistema Existente (RBSE) às transmissoras de energia do grupo, conforme aprovado pela agência reguladora Aneel.
O Ebitda ajustado regulatório da companhia totalizou R$ 5,5 bilhões no mesmo período, decréscimo de 8,6% em base anual, principalmente por um resultado mais desfavorável na linha de participações societárias, enquanto a receita operacional líquida regulatória ficou praticamente estável (-0,3%) em R$ 9,59 bilhões.
Em relatório que acompanha o balanço, a Eletrobras destacou um aumento de sua receita de geração no segundo trimestre, impulsionado pela estratégia de comercialização de energia do grupo, “mais que compensando o maior gasto com energia comprada para revenda”.
Em paralelo, a empresa também disse em fato relevante que seu conselho de administração aprovou a distribuição de R$ 4 bilhões aos acionistas na forma de dividendos intermediários. A nova aprovação vem após a distribuição, no início do ano, de R$ 4,1 bilhões em dividendos relativos ao desempenho de 2024.
Julgamento na próxima semana
O ministro Kássio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), marcou a análise da homologação do acordo entre a empresa e a União no âmbito de ação que discute a limitação do poder de voto do governo na empresa. O julgamento será realizado no plenário virtual entre 31 de outubro e 10 de novembro.
O acordo foi assinado em março e dá à União o direito a três das 10 vagas no Conselho de Administração da Eletrobras. Por outro lado, a Eletrobras deixa de ter a obrigação de aportar recursos para a construção da usina nuclear de Angra 3.
A União também se comprometeu a fazer esforços para apoiar a Eletrobras em uma eventual alienação de sua participação na Eletronuclear.
A ação foi ajuizada em 2023 pela Advocacia-Geral da União (AGU) para questionar a limitação do poder de voto da União a 10%.
O governo queria poder proporcional à participação na antiga Eletrobras, que é de 43%. Nunes Marques, que é relator, enviou o caso para conciliação, que foi concluída em fevereiro deste ano.
Entenda troca de nome
A empresa anunciou nesta quarta-feira, 22, que mudou seu nome para Axia Energia, destacando em comunicado que a alteração marca uma evolução da companhia nos últimos três anos para atuar com mais agilidade, inovação e foco no cliente, o que inclui crescimento por meio de leilões.
O novo nome retira a referência ao Brasil, herança do passado estatal após o processo de privatização da empresa ter sido concluído em meados de 2022, ainda que o governo brasileiro siga com participação relevante na companhia, com a União detendo diretamente quase 30% do total das ações.
Em nota, a maior geradora de energia renovável do país e líder na transmissão disse ter “ambição de crescimento inorgânico por meio da participação nos leilões setoriais e resiliência de seus ativos”.
“Buscamos o novo com respeito à história que construímos até aqui… Isso passa por disciplina, inteligência na alocação de capital e excelência organizacional e se ancora em um time de talentos que enxerga o desafio da companhia e do momento do setor”, afirmou o presidente da Axia Energia, Ivan Monteiro, em um comunicado.
Em meio à mudança de nome, a empresa ressaltou ser a maior empresa de energia renovável da América do Sul, indicando que a palavra “axia” vem do grego e significa “valor”.
A alteração vem após a elétrica ter reforçado, nos últimos anos, medidas para se desvincular de questões ligadas ao Estado. Na última semana, foi assinado um contrato para a empresa vender sua participação na estatal Eletronuclear.
Mais cedo neste ano, o governo se comprometeu a não mais questionar o limite de voto de 10% na companhia, imposto a qualquer acionista ou grupo de acionistas, acertado durante a privatização, em troca de mais representatividade no conselho da ex-Eletrobras.
Com este movimento, a companhia também conseguiu encerrar uma disputa judicial com o governo que poderia se estender indefinidamente, já que a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre se opôs à forma como a empresa foi desestatizada.
A nova identidade será incorporada gradualmente em todos os canais, comunicações e ativos da antiga Eletrobras, em todas as regiões do país, disse a companhia, cuja capacidade instalada é 100% renovável — possui 81 usinas, sendo 47 hídricas, 33 eólicas e uma solar.
Fonte: Reuters