Agronegócio
Quinta-feira, 9 de outubro de 2025

CEO da Tereos diz que ‘custo Brasil’ é uma barreira, mas que país é o melhor do mundo para ser agricultor

Com duas décadas e meia de operações no Brasil, a francesa Tereos conquistou uma posição de destaque entre as maiores empresas produtoras de açúcar e etanol do país. A dona do Açúcar Guarani alcançou no ano passado um processamento médio de 20 milhões de toneladas por ano, ocupando o posto de número cinco do ranking nacional, atrás de Raízen, Bunge, Atvos e São Martinho.

Na via oposta, o Brasil também se transformou ao longo desses anos em um ativo fundamental para a empresa. A Tereos é uma cooperativa com mais de 11 mil produtores franceses e dona de um império que opera fábricas em 15 países, posicionada em segundo lugar como maior produtor de açúcar do mundo. O grupo ainda atual nos segmentos de alimentos, defensivos químicos, papel, farmacêutico e cosméticos, praticamente tudo produzido a partir do cultivo da beterraba, cana-de-açúcar e cereais.

No comando das operações brasileiras está o francês Pierre Santoul. Há dez anos na cadeira de CEO da Tereos Brasil, o executivo acredita que o o Brasil é o melhor lugar do mundo para ser agricultor. Em entrevista à IstoÉ Dinheiro, Santoul disse que essa percepção da importância brasileira na produção agrícola foi o que motivou o desembarque da Tereos por aqui, no início dos anos 2000.

Tereos (Foto: Divulgação)

“O Brasil tem uma população jovem, com um nível de engajamento muito alto. Além disso, existem também os benefícios naturais do país, pela qualidade da terra, pelo clima, pelo ecossistema que permite realmente o crescimento do agricultor. De maneira geral, eu diria até que nós temos o melhor lugar do mundo para ser agricultor, que é o Brasil. Então, é o melhor lugar para fazer o que fazemos”, analisa.

Mas nem tudo são flores nessa trajetória. Ainda que a empresa tenha investido aproximadamente R$ 25 bilhões na operação brasileira nessas últimas duas décadas e meia, o executivo lembra que famoso “custo Brasil”, ainda paira sobre todas as decisões que precisam ser tomadas pela matriz.

“Qualquer empresa internacional vai ter que lidar com esse famoso custo Brasil. Trata-se da complexidade fiscal do país e também da complexidade da legislação trabalhista, que acaba gerando muitos conflitos”, disse Santoul.

Na contramão, o CEO aponta que o Brasil possui atrativos que destacam o agronegócio nacional, como o clima e o nível de engajamento da população com o trabalho.

Unidade da Tereos em Cruz Alta (Foto: Ismael Jales)

operação brasileira tem sido responsável por cerca de 35% a 40% do EBITDA do grupo nos últimos anos. A receita da Tereos Brasil se estabeleceu em um valor próximo de R$ 6,7 bilhões na última safra (24/25), enquanto a receita total do grupo, que opera em 14 países, se aproximou de € 6 bilhões.

Produtividade da cana preocupa o setor

cana-de-açúcar brasileira vem enfrentando muitos problemas nos últimos anos — entre eles, o clima e as queimadas se destacam. Santoul atribui à seca, inclusive, a previsão de moer 18 milhões de toneladas de cana na safra 25/26. Na temporada 24/25, foram 20,5 milhões de toneladas.

Os 15 maiores da cana-de-açucar na safra 24/25 (Crédito: FGA)

“Se você olhar para os últimos 15 anos, a produtividade da cana é bastante estável. Quando você compara com as outras grandes culturas do Brasil, a produtividade delas quase dobrou. Acredito que, para quem faz açúcar, como nós, não há assunto de produtividade ou de competitividade, porque o mundo precisa do açúcar brasileiro. Para quem faz só etanol, há um desafio de competitividade contra o etanol de milho, que acaba sendo mais competitivo”, diz.

De toda a produção de cana-de-açúcar da Tereos, cerca de 70% é convertida em açúcar refinado e granulado, com grande parte tendo a indústria alimentícia como destino. Os outros 30% são destinados à produção de etanol.

“Estamos em um momento crítico, em que é preciso reconhecer a capacidade de descarbonização do etanol brasileiro nos esforços globais de descarbonização. O etanol brasileiro tem um papel muito importante dentro desses processos, porém, ele precisa ser reconhecido pelos outros mercados, e estamos puxando para isso”, afirmou o CEO.

Investimentos em sustentabilidade

O compromisso da Tereos com a sustentabilidade e a agenda “verde” é um pilar fundamental da estratégia da companhia no Brasil, abrangendo metas globais de descarbonização, práticas agrícolas regenerativas, rastreabilidade e inovações logísticas.

A empresa, que participará da COP30, assinou um compromisso com a SBTi (Science Based Targets initiative) em nível global, visando à redução pela metade da emissão de carbono de suas operações até 2033. A companhia assumiu o compromisso de zerar suas emissões de CO₂ até, no máximo, 2050. Além disso, firmou o compromisso de garantir 100% do fornecimento de matérias-primas agrícolas provenientes de áreas não desmatadas até o fim deste ano.

Fonte: IstoéDinheiro