
A guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, é um perde-perde para todo mundo, mas os americanos serão os maiores afetados pela política externa de seu líder, segundo projeções feitas pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) com base em dados oficiais.
Caso o anúncio de Trump se confirme e os produtos brasileiros sejam sobretaxados em 50%, a queda no PIB (Produto Interno Bruto) do país será de 0,16%, nos cálculos da confederação. A economia norte-americana, por outro lado, será a principal afetada com o tarifaço aplicado a vários países, perdendo 0,37% de sua produção, segundo o levantamento.
As projeções da CNI consideram os seguintes cenários:
- uma elevação das tarifas dos EUA sobre importações da China para 30%;
- a retaliação da China com acréscimo de 10% sobre o que for importado dos EUA;
- a elevação para 50% da tarifa sobre automóveis e aço nos EUA, de qualquer país;
- elevação em 50% das exportações brasileiras;
- taxação dos EUA sobre produtos de outros 14 países, como Coreia e Japão.
Ao impor tarifas mais altas sobre os países, os EUA sofrem em três frentes. Primeiro, no encarecimento de bens e insumos produtivos que são utilizados na fabricação de outros produtos, como maquinário, madeira e petróleo, por exemplo; segundo, sofre com medidas de retaliação de outros países, principalmente da China, prejudicando as exportações das empresas locais.
Existe ainda um terceiro impacto, causado diretamente no bolso dos consumidores americanos, levando a uma diminuição de demanda por produtos em geral e, por consequência, uma queda na atividade econômica interna.
Em valores reais, a queda de 0,16% no PIB brasileiro representa R$ 19,2 bilhões, cerca de R$ 52 bilhões nas exportações e R$ 33 bilhões nas importações. Além disso, 110 mil postos de trabalho serão cortados, sendo o setor agropecuário o mais sensível, com queda de 40 mil empregos.
Presidente da CNI, Ricardo Alban defende que a racionalidade deve prevalecer nas negociações entre os governos. Ele diz que é preciso sensibilizar a gestão Trump e mostrar a “complementariedade das nossas relações”.
No ano passado, os bens intermediários, que são produtos utilizados na produção de outros bens ou serviços fora do país, como madeira e minério de ferro, corresponderam a 54% do que foi exportado aos EUA, um equivalente a US$ 21,9 bilhões o Brasil importou US$ 24,7 bilhões neste segmento.
“Os números mostram que esta política é um perde-perde para todos, mas principalmente para os americanos. A indústria brasileira tem nos EUA seu principal mercado, por isso a situação é tão preocupante”, afirma em nota Alban.
Atualmente, os EUA são o 3° principal parceiro comercial do Brasil, responsáveis por comprar 16% dos produtos que enviamos ao exterior e 12% do que chega ao país sozinha, a indústria de transformação concentra 78,2% das remessas aos EUA.
O impacto brasileiro será semelhante ao da China, que também perderá 0,16% do PIB. No comércio mundial, a CNI considera dados de 16 grandes países que entraram na rota de colisão do governo norte-americano, como a Coreia do Sul e o Japão. Neste recorte, US$ 483 bilhões deixarão de circular caso o aumento das tarifas avance, causando uma retração de 2,1%.
Além do agronegócio, o setor industrial brasileiro também será prejudicado nas exportações e na queda de produção nacional. O levantamento da CNI aponta uma retração de 11,3% na exportação de tratores e máquinas agrícolas, 22,3% em aeronaves, embarcações e equipamentos de transporte, e 11,3% nas exportações de carne de aves.
A confederação classifica a aplicação da tarifa de 50% como “extremamente desproporcional”. Para se ter uma ideia, o Brasil aplicou uma tarifa real média de 2,7% aos produtos americanos em 2023, segundo dados da Receita Federal.
Entre os dez principais setores exportadores do Brasil, cinco têm os EUA como principal destino. É o caso da metalurgia, cuja participação norte-americana é de 31% nas exportações do setor, equipamentos de transporte (53,8% de participação), madeira (46,3% de participação) e máquinas e equipamentos (27,9%).
Considerando o valor bruto da produção (VBP), a CNI afirma que 4,5% da indústria extrativa e 2,6% da indústria de transformação dependem do capital dos EUA.
Fonte: FolhaPress