
O governo da ilha autônoma de Taiwan fará, a partir desta quarta (9), o maior exercício militar de sua história. Será simulada a tentativa de invasão por parte da China continental, que vem treinando para estar pronta para executar tal operação.
Os jogos de guerra Han Kuang (glória de han, a etnia prevalente na ilha, na língua local) são anuais, e ocorrem desde 1984, mas segundo seus planejadores nunca foram tão amplos. Serão ao menos 22 mil reservistas convocados, 7.000 a mais do que o usual, além de mobilização civil.
Serão testadas táticas para repelir desembarques, bloqueio e invasões aéreas. Novos mísseis americanos do sistema Himars, os mesmos doados à Ucrânia contra a Rússia, serão empregados com munição real nos dez dias de exercícios.
Pequim, que considera Taiwan um província rebelde, disse que a manobra é “nada além de um blefe”, nas palavras do porta-voz do Ministério da Defesa Jiang Bin. “Não importa que armas sejam usadas, Taiwan não pode resistir à espada afiada do Exército de Libertação Popular contra a independência”, disse nesta terça (8).
A tensão acompanha a relação entre ilha e continente desde que a liderança derrotada pelos comunistas em 1949 fugiu para Taipé. O atual presidente taiwanês, Lai Ching-te, chegou ao poder em 2024 com uma plataforma radicalmente contrária às ameaças de Pequim de retomada à força do território.
O líder chinês Xi Jinping determinou que a ditadura tem de estar pronta para fazê-lo, se necessário, em 2027. Ele aumentou a frequência e a intensidade dos exercícios militares simulando a invasão da ilha, que não seria algo simples de fazer devido à geografia e às defesa taiwanesas números brutos, como na Ucrânia, não dizem tanto, apesar de Pequim ter 2 milhões de soldados e Taipé, 160 mil.
Em abril, o chefe do Comando Indo-Pacífico dos EUA, almirante Samuel Paparo, havia dito a um comitê do Senado que houve no ano passado um aumento de 300% nas atividades chinesas ligadas à eventual invasão: exercícios, intrusões aéreas, construção de infraestrutura costeira, reforço de armamento.
Isso dito, há cálculo político, segundo adversários do presidente Lai. Ele quer apoio para tirar a maioria do Parlamento das mãos da oposição por meio de um “recall” eleitoral aprovado contra 26 dos seus 62 deputados o governo tem hoje 51 dos 113 assentos do chamado Yuan Legislativo.
A causa nacionalista é o centro da política taiwanesa, e Lai teme também a ambiguidade de Donald Trump, o principal fiador militar do país. Em seu primeiro mandato, o republicano apoiou com força Taipé, mas agora está mais envolvido na disputa comercial com os chineses.
Apesar de reconhecer a política de Pequim de “uma só China”, desde 1979 Washington se compromete à proteção de Taipé, o que sempre levou à especulação se iria à guerra em caso de invasão.
A crise transbordou da região e chegou à Europa, onde o aliado de Xi Vladimir Putin luta sua guerra contra Kiev.
No sábado (5), o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, disse ao jornal New York Times acreditar que a China pedirá à Rússia para que ataque algum país da aliança quando decidir invadir Taiwan.
“Há uma percepção crescente, e não sejamos ingênuos sobre isso: se Xi Jinping atacasse Taiwan, ele primeiro se certificaria de ligar para seu parceiro júnior, Vladimir Vladimirovitch Putin, que reside em Moscou, e dizer a ele: ‘Ei, vou fazer isso e preciso que você os mantenha ocupados na Europa, atacando o território da Otan'”, afirmou.
A fala foi denunciada como alarmista até por analistas ocidentais destacados e insuspeitos de russofilia. Um deles, o britânico Mark Galeotti, gravou um vídeo dizendo que a posição de Rutte não faz nenhum sentido militar e arrisca elevar a tensão europeia em nome da defesa que o holandês faz por mais gastos com defesa na aliança que aprovou uma meta de dispêndio de 5% do PIB de seus membros no setor.
Os chineses, por sua vez, denunciam a expansão da Otan no Indo-Pacífico, como no caso do trânsito de fragatas alemães pelo estreito de Taiwan, como provocações desestabilizadoras.
Os sinais de tensão se acumulam. Nesta terça, a chancelaria alemã convocou o embaixador chinês em Berlim para pedir explicações sobre um incidente no qual militares de Pequim alvejaram um avião da Força Aérea do país europeu com um marcador de laser.
Não foram divulgados detalhes do incidente, apenas que ele atrapalhou operações alemãs dentro da operação Aspides, uma força-tarefa da União Europeia que visa proteger rotas marítimas no mar Vermelho.
Lá, os houthis do Iêmen seguem sua campanha de ataques em apoio ao Irã e outros grupos, como os rebeldes, patrocinados por Teerã. A China é uma aliada do regime dos aiatolás, tendo condenado os ataques de Israel e dos EUA no mês passado.
Fonte: FolhaPress