No Mundo
Terça-feira, 1 de julho de 2025

Ataque ao Irã foi melhor que o esperado para Trump, mas temor de guerra persiste, dizem especialistas

Apesar das contradições sobre os danos causados pelos bombardeios dos Estados Unidos a três instalações nucleares no Irã, especialistas e uma nova pesquisa apontam que, por ora, a ação não provocou desgaste adicional à imagem do presidente Donald Trump -embora também não tenha revertido sua alta taxa de desaprovação.
Levantamento encomendado pelo site Axios e conduzido pelo Grupo Tyson entre os dias 25 e 26 de junho, com 1.027 eleitores americanos, mostra que o apoio à ofensiva aumenta quando os entrevistados são informados de que os ataques se concentraram em locais de enriquecimento de urânio. Nesse cenário, o número de pessoas que aprovam a operação sobe de 43% para 55%.
Entre os republicanos, 72% são favoráveis aos bombardeios -número que cresce para 82% quando sabem que os alvos foram restritos. Entre os eleitores independentes, o apoio vai de 32% a 42% com essa informação. Já entre os democratas, a concordância é o menor: 20% inicialmente, chegando a 33% após saberem do foco nos alvos específicos.
Para Eliott Morris, analistas de dados independente, a reação mostra que os apoiadores de Trump, que em tese seriam isolacionistas, abandonaram essa posição e ficaram ao lado do presidente.
“Quando os eleitores compreendem a lógica estratégica dos ataques, o apoio tende a crescer”, afirmou Ryan Tyson, diretor do instituto responsável pela pesquisa -o mesmo que recentemente atuou para um comitê político vinculado a Elon Musk, apoiador da reeleição de Trump. A pesquisa foi realizada online e tem margem de erro de 3,1 pontos percentuais, para mais ou para menos, com 95% de confiança. Para análise do eleitorado republicano, foi usada uma amostra adicional sem impacto nos resultados gerais.
Segundo os dados, 55% dos eleitores acreditam que o programa nuclear iraniano foi “aniquilado”, usando a expressão adotada por Trump, ou sofreu um grande retrocesso -um relatório preliminar das agências de inteligência americanas colocou em xeque falas do presidente nesse sentido. Apenas 25% dos entrevistados acham que as instalações foram pouco afetadas ou permaneceram intactas. Além disso, 62% disseram que os ataques terão valido a pena se levarem o Irã a parar o enriquecimento de urânio.
Outra pesquisa, essa da CBS/YouGov, conduzida um pouco antes, entre 22 e 24 de junho, mostrou que 44% da população aprova o ataque, contra 56% que desaprova. O índice de aprovação é puxado pelos republicanos, dos quais 85% aprovam e 15% desaprovam. Entre os eleitores trumpistas, o apoio é ainda maior: 94%. A mesma pesquisa mostra preocupação das pessoas com o temor de que a guerra seja ampliada e 63% são da opinião que Trump precisa de autorização do Congresso para atuar.
O especialista em segurança pública e professor da Universidade de Michigan Javed Ali, que integrou o Conselho de Segurança Nacional no primeiro governo Trump, avalia que o ex-presidente optou por uma ação militar restrita e sob medida.
“Permitiu responder a uma ameaça séria, sem ampliar o envolvimento militar dos EUA. Não houve operação terrestre nem tentativa de mudança de regime em Teerã”, disse. Para ele, a decisão foi alinhada com a filosofia de Trump, que sempre condenou o risco de um Irã nuclear, mas também prometeu manter os EUA fora de novas guerras.
Ali também pondera que, por fim, a resposta iraniana e dos demais países deve ter sido melhor do que o próprio presidente previu -isto é, o fato de o Irã não ter sido capaz de dar resposta mais contundente e não ter tido apoio militar de aliados.
Robert Shapiro, professor de ciência política da Universidade Columbia, aponta que relatórios posteriores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e da CIA indicaram danos significativos às instalações nucleares iranianas. “Elas parecem claramente fora de operação por algum tempo. Além disso, Israel não desmentiu essa avaliação. Por isso, a imagem pública de Trump não foi afetada”, afirmou. Ainda assim, o professor ressalta que o ataque não alterou a avaliação geral sobre o desempenho do ex-presidente, que segue com maioria de desaprovação.
Apesar do apoio majoritário ao ataque, a pesquisa do Grupo Tyson revelou preocupações relevantes sobre os riscos da escalada militar. Três em cada quatro eleitores (75%) acreditam que, mesmo com o cessar-fogo entre Israel e Irã, o conflito pode evoluir para uma guerra regional de maiores proporções. Além disso, 46% consideram provável algum tipo de ataque iraniano em solo americano. Para 45%, os bombardeios não tornaram os EUA mais seguros; apenas 36% veem mais segurança agora.
Mesmo assim, Trump colhe sinais de aprovação em relação ao modelo de operação adotado. Por uma margem de 50% a 33%, os eleitores dizem apoiar ataques aéreos semelhantes ao do último sábado. Dois terços dos entrevistados acreditam que novas ofensivas como essa devem ocorrer em breve. Além disso, 56% defendem o uso da força militar para impedir que o Irã obtenha armas nucleares.
O levantamento também apontou um desgaste crescente da imagem de Israel entre os americanos, motivado principalmente pela guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza. Pela primeira vez, a maioria dos eleitores se opõe à guerra, ainda que por uma margem apertada de 2 pontos percentuais. Além disso, 54% acreditam que Israel exerce influência excessiva sobre a política externa dos EUA, contra 27% que discordam.

Fonte: FolhaPress