
Apesar de ainda ser cedo para medir o impacto no preço dos combustíveis da crise entre Israel e Irã, o cenário externo deverá ser avaliado na reunião do comitê que começa nesta terça-feira, 17
O recém iniciado conflito bélico entre Israel e Irã adiciona riscos ainda incertos de pressões inflacionárias no mundo. No caso do Brasil, uma alta no preço de petróleo e do gás decorrente da crise no Oriente Médio se somaria, sobretudo, a uma inflação do setor de serviços acumulada em 12 meses que beira os 6%, sustentada por um mercado de trabalho aquecido e pelo aumento da massa salarial, apesar do choque de juros promovido pelo Banco Central desde o final de 2024.
No entanto, a avaliação dentro do governo é que ainda é cedo para tentar medir a extensão da crise e o impacto nas cotações do petróleo e do gás natural no mercado internacional. É certo, porém, que essas preocupações entrarão no radar dos diretores do Banco Central que se reúnem nesta terça, 17, e quarta-feira, 18, para mais um encontro do Copom (Comitê de Política Monetária). “A Petrobras não se movimenta para subir preços com dois dias de conflito”, afirma um técnico o governo.
O economista Sérvio Vale, sócio da MB Associados, concorda. “Não está claro como será o impacto dessa crise para a gasolina”, diz. Mas ele ressalta que a chance de o conflito entre Irã e Israel se estender existe e que é maior a cada dia.
De olho na meta de inflação de 3%, os diretores do BC miram o comportamento da economia nos próximos 18 meses, prazo estimado para os juros determinados este mês surtirem efeito pleno na economia real. Com isso, as atenções do Copom já estão voltadas para o IPCA, índice oficial de preços, no segundo semestre de 2026, quando as projeções do mercado apontam para uma inflação ainda elevada de 4,5%. Esse período coincide com a disputa eleitoral, onde o desempenho da economia e, sobretudo, dos preços nos supermercados terão um peso político nos embates entre governo e oposição.
Reservas de petróleo
Ocupando a terceira posição no ranking das maiores reservas de petróleo do mundo, atrás da Venezuela e da Arábia Saudita, segundo levantamento da World Atlas, o Irã é um player importante, também, pelo petróleo considerado leve, que possui um custo de extração mais barato e lhe garante vantagens competitivas no mercado internacional. Além disso, o país ameaça fechar o acesso ao Estreito de Ormuz, local de movimentação das petroleiras no Golfo Pérsico, onde estão mais de 60% das reservas mundiais do óleo. Com isso, um agravamento da crise com Israel tende a desequilibrar a oferta do produto no mundo, com impacto na inflação do planeta.
Antes do risco de uma crise externa entrar no radar dos economistas, as sinalizações mais recentes do presidente Gabriel Galípolo (BC) dividiram o mercado financeiro. Parte dos analistas acredita que, no Copom desta semana, haverá uma alta de 0,25 ponto, levando a Selic para 15% ao ano e encerrando o ciclo de alta.
Outros consideram que o BC encerrará as elevações e manterá a taxa no patamar de 14,75% ao ano por um período mais prolongado. Neste caso, pesariam o fato de a atividade econômica já começar a dar sinais de desaceleração, mesmo que ainda fracos. Além disso, o BC começará a contabilizar os efeitos positivos da super safra nos preços dos alimentos. O ponto fora da curva, porém, poderá vir dos combustíveis, caso a crise no Oriente Médio tome maiores proporções.
Fonte: PlatôBr