No Mundo
Terça-feira, 17 de junho de 2025

Trump descarta trégua com Irã; Israel mata chefe militar

Depois de ter dito para todos os moradores de Teerã deixarem a cidade, o presidente Donald Trump afirmou que não está trabalhando por um cessar-fogo entre o Irã e Israel, e sim pelo “fim da guerra” na forma de um ultimato.
A entrada ativa do presidente americano na guerra que eclodiu quando o Estado judeu atacou a teocracia islâmica na sexta passada (13) mudou o cenário político do conflito, que viu uma noite com uma troca um pouco menos intensa de ataques de lado a lado nem por isso menos mortífera, como as 24 vítimas iranianas relatadas comprovam.
Nesta manhã de terça (17), Trump deu continuidade a seu fluxo de pensamento algo caótico acerca do que pretende fazer. Ele escreveu na rede Truth Social que não procurou o Irã para discutir a paz de nenhuma forma.
Teerã “deveria ter aceitado o acordo enquanto ele estava na mesa”, disse, se referindo às rodadas de negociações abertas por ele para acha uma forma de reviver o arranjo no qual os aiatolás desistiriam da bomba atômica em troca do fim de sanções econômicas.
As conversas chegaram a um beco quando os EUA exigiram o fim de todo o programa nuclear do país persa, o que o líder supremo, Ali Khamenei, rechaçou. Haveria uma nova etapa de reuniões, mas Israel atropelou Trump e atacou.
Na segunda (16), Trump causou alarme quando deixou a reunião do G7 no Canadá e voltou para a Casa Branca, depois de postar a sugestão de evacuação da capital de 10 milhões de habitantes, uma impossibilidade prática.
Ao entrar no avião rumo aos EUA, Trump rebateu a sugestão do presidente francês, Emmanuel Macron, de que ele iria oferecer uma trégua. “Ele não tem ideia”, disse, “é muito maior” que um cessar-fogo, disse Trump, que acusou o colega de publicidade com seu nome.
“Quero um fim de verdade para a guerra”, disse, afirmando que os EUA exigem o fim completo do programa nuclear iraniano. Diversas instalações da iniciativa foram atacadas por Israel, sendo seu “casus belli” inicial do conflito, mas há a percepção de que uma erradicação total depende de bombas que penetram em bunkers que só os americanos têm.
Na segunda, Trump ordenou um reforço nas forças militares no Oriente Médio, inclusive enviando mais um grupo de porta-aviões para a região, onde já opera um. Em tom de ultimato, admitiu a possibilidade de enviar seu vice, JD Vance, e o negociador Steve Witkoff para falar com emissários iranianos.
Enquanto a etapa diplomática se desenrola de forma confusa, após um dia em que circularam rumores de que Teerã estava disposta a conversar, a guerra prossegue violenta, ainda que com uma relativa queda na intensidade.
Os israelenses voltaram a atacar bases militares no oeste do Irã e a capital, que viu um grande depósito de combustíveis amanhecer em chamas. Ao menos 24 pessoas morreram, segundo o governo local. As contas são imprecisas, mas os mortos chegam a cerca de 300 do lado iraniano.
As estradas saindo de Teerã estão lotadas, segundo relatos da mídia local e do jornal New York Times. Há muita fake news, também: imagens de congestionamentos quilométricos nas redes são de um feriado islâmico recente, por exemplo.
Tel Aviv disse ter matado Ali Shadmani, chefe militar mais próximo do aiatolá Khamenei. Ele era o líder do Estado-Maior iraniano em tempo de guerra, e havia sido o chefe das Forças Armadas e da Guarda Revolucionária, a unidade pretoriana do regime.
Com isso, Israel volta a se aproximar de Khamenei, de quem já tinha matado o braço-direito. O premiê Binyamin Netanyahu não descartou matar o líder, algo que a mídia americana disse ter sido descartado inicialmente por Trump, nas conversas sobre a guerra entre os líderes.
Nesta terça, o ministro Israel Katz (Defesa) sugeriu que o aiatolá pode ter o mesmo fim de Saddam Hussein, o ditador iraquiano derrubado pelos EUA em 2003, capturado escondido num buraco e enforcado três anos depois.
“Eu advirto o ditador iraniano contra continuar a cometer crimes de guerras e lançando mísseis em civis israelenses. Ele pode bem lembrar o destino do ditador de um país vizinho ao Irã que escolheu o mesmo caminho contra Israel”, afirmou. Na Guerra do Golfo de 1991, Saddam lançou mísseis contra o Estado judeu.
A forças de Netanyahu mudaram sua versão sobre o ataque a um prédio da TV estatal iraniana na véspera, que deixou três mortos e interrompeu a programação ao vivo. Antes, o Exército disse que o local escamoteava atividades militares. Agora, a justificativa é de que ele divulgava desinformação sobre Israel, escancarando o simbolismo da ação.
Já em Israel, as barragens de mísseis do Irã foram menos intensas, sugerindo que o regime pode estar com problemas de estoque ou simplesmente economizando armas estima-se que já tenham usado ou perdido quase metade dos 2.000 mísseis balísticos de longo alcance que analistas acreditavam haver em seu arsenal antes da guerra.
Até a véspera, os israelenses haviam dito ter acabado com um terço desse arsenal. Seja como for, houve três barragens na madrugada e uma no começo da manhã com cerca de 20 a 30 mísseis cada, menos do que o volume dos primeiros dias, na casa das centenas, e no de segunda, de 65.
Nesta terça, novos ataques miraram essa infraestrutura e outras capacidades militares iranianas. Sua já decrépita Força Aérea perdeu, segundo imagens divulgadas por Israel, alguns dos caças F-14 americanos que havia herdado do regime derrubado em 1979, dos quais talvez dez ainda voam.
A crise atual tem o estopim na questão nuclear, mas é um desenvolvimento das guerras a partir do ataque terrorista do Hamas palestino a Israel, em 7 de outubro de 2023. De lá para cá, Tel Aviv degradou a rede de aliados regionais do Irã, como o Hezbollah, e agora foi para o que os seus militares chamam de “cabeça da cobra”.

Fonte: FolhaPress