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Segunda-feira, 7 de abril de 2025

Operação entre Master e BRB mexe com a concorrência, diz Gustavo Loyola

O ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Loyola diz ver com naturalidade a repercussão no mercado sobre a compra de 58% do capital do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília). Em entrevista à CNN Brasil, Loyola diz que a movimentação “faz parte do jogo”.

“Mexe com a concorrência, então tem sempre opositores. Minha experiência no BC é que sempre existem terceiras instituições que demonstram interesse, querem interferir na negociação. Faz parte da regra do jogo. Nada de errado nisso. E acredito que a operação pode ser benéfica para todo mundo”, avalia.

Loyola, que esteve no comando do BC em dois períodos – 1992-1993 e 1995-1997 – disse ainda que, de acordo com sua leitura do fato relevante sobre a operação de compra divulgado ao mercado e de outras divulgações das duas instituições, tudo indica que “existem os cuidados que normalmente são tomados durante uma operação de aquisição de carteiras”. Ele cita, por exemplo, auditorias independentes envolvidas e, ainda, a possibilidade de o BRB poder escolher os ativos que não farão parte de uma eventual nova operação.

“E vamos dizer que o BRB busca ter acesso a um tipo de operação que é feita pelo Master e que aparentemente, pelo balanço, vê-se que tem rentabilidade bastante expressiva. Então ele procura ter acesso a essas operações. E, para o Master, a operação é vantajosa, no sentido que amplia a capacidade de funding, deixando de depender tanto do funding de CDB garantidos pel FGC [Fundo garantidor de Créditos]”

Para o executivo, hoje sócio-diretor da Tendências Consultoria, também é “interessante” para o próprio FGC. “Da parte do FGC, parece uma operação interessante, pois tenta desconcentrar o risco que o FGC tem em alguns poucos bancos médios. Sem adentrar muito na complexidade da operação, eu diria que [a operação] pode ser benéfica para todo mundo.

Participação do Banco Central

Gustavo Loyola diz ainda confiar no Banco Central de que a instituição vai decidir técnica e independentemente sobre a operação. “Fui funcionário de carreira do banco, lidei com esse tipo de tema. Confio que o BC vai examinar quais os benefícios que essa operação traz, e os eventuais malefícios. Vai pesar os dois lados.”

Segundo o ex-presidente do BC, a supervisão bancária atualmente evoluiu em relação ao que era no passado, quando era mais distante, e que ambas as instituições têm acompanhamento muito próximo do BC.  “O BC conhece bem as fortalezas e fraquezas dos dois bancos”, afirma.

Outro ponto de segurança estaria do balanço divulgado pelo Banco Master. Ele ressalta que o documento é auditado e essa auditoria costuma ser feita por uma das quatro grandes empresas do mercado. “O BC faz um acompanhamento desses balanços e, evidentemente, acho muito improvável que ele tenha aprovado, admitido, um ativo muito fora do preço”.

O economista volta a apontar que o BRB inclui, nas cláusulas contratuais, a possibilidade de colocar de lado os ativos que julgar mais arriscados ou inadequados à sua operação. “Ele [BRB] não está fazendo uma compra às cegas, comprando um banco de porteira fechada, sem fazer o mínimo de diligência que é comum em operações da espécie”.

Fonte: IstoéDinheiro