No ano passado, pela terceira vez seguida, a população da China diminuiu. Mas o dado surpreendente foi que, pela primeira vez em oito anos, o número de nascimentos voltou a crescer.
Nasceram no país 9,54 milhões de bebês, contra 9,02 milhões em 2023, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas. Analistas arriscaram possíveis explicações, por exemplo, ser um efeito do relaxamento das restrições a três filhos por casal, determinado três anos antes.
Outra, mais prosaica, é que mulheres chinesas teriam adiado a gravidez para coincidir com o Ano do Dragão, que traria sorte aos nascidos no período -de 10 de fevereiro de 2024 a 28 de janeiro de 2025.
Uma visão mais oficial foi acrescentada em mídia estatal por Yuan Xin, do Instituto de População e Desenvolvimento da Universidade Nankai. Segundo ele, o aumento de nascimentos se deve ao maior número de casamentos e às políticas governamentais.
Concretamente, casos bem-sucedidos como o da cidade de Tianmen, na província de Hubei, onde os nascimentos aumentaram 17% em relação a 2023, chamaram a atenção para as suas formas de apoio a casais.
A administração local em Tianmen havia oferecido às famílias com três filhos 120 mil yuans (R$ 95 mil) para aquisição de casa própria, subsídio mensal de mil yuans e um depósito à parte de 3 mil yuans. Grandes empresas da cidade também passaram a destinar 30 mil yuans aos casais com terceiro filho.
O resultado na cidade dada como modelo animou outras regiões chinesas que, desde o início deste ano, vêm discutindo e acrescentando ações de estímulo aos nascimentos, em relatórios e planos voltados às Duas Sessões locais.
A expressão se refere às reuniões legislativas e consultivas que cada província ou cidade de maior porte faz, abrindo o ano, com vistas às Duas Sessões que importam, de fato: os encontros em Pequim da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e do Congresso Nacional do Povo, marcados neste ano para 4 e 5 de março, respectivamente.
É nelas que vão desaguar as propostas levantadas ou testadas isoladamente pelo país todo. Províncias como Hubei e Zhejiang e cidades como Pequim e Tianjin já estão definindo o que fazer neste ano. No caso da capital, serão estabelecidos centros de cuidado infantil em toda a área urbana.
O processo de definir medidas e prioridades na administração central em Pequim começou em outubro.
O Conselho de Estado, equivalente ao gabinete de ministros brasileiro, anunciou que estava elaborando um plano nacional com medidas para construir uma “sociedade amiga do parto” a partir das medidas locais. A instituição financeira Nomura avaliou que o orçamento desse plano de incentivo poderia chegar a 500 bilhões de yuans, ou cerca de R$ 395 bilhões.
O esboço apresentado então pelo Conselho de Estado abrangia alívio tributário para os pais e mais tempo de licença-maternidade e paternidade, entre outras ações.
Pouco depois, na edição de 15 de novembro da Qiushi, revista teórica do Partido Comunista da China, o próprio líder Xi Jinping alertava que “o declínio da população pode trazer desafios como a redução da mão de obra e o impulso menor para o consumo”.
Orientou “desenvolver um sistema universal de serviços de creche e reduzir a carga de parto e educação sobre as famílias”, entre outras ações, chegando a detalhar que é preciso “eliminar práticas ultrapassadas, como preços exorbitantes para noivas”.
Na vizinha Coreia do Sul, país com a menor fertilidade no mundo, a expectativa é que o número de nascimentos, a partir de dados ainda parciais, também tenha crescido em 2024, pela primeira vez em nove anos. A explicação seria a mesma: mais casamentos.
Fonte: FolhaPress