Internacional
Terça-feira, 23 de julho de 2024

Em Dobrianka, norte da Ucrânia, moradores querem paz e desconfiam dos EUA

Quando a ucraniana Lidia Silina, uma aposentada de 87 anos que mora em Dobrianka, no norte do país e na fronteira com Belarus, é questionada sobre a presença dos tanques russos, ela expressa sua irritação com os Estados Unidos.

“Os ucranianos poderiam começar algo, e isso aconteceria por culpa dos americanos e dos britânicos, que trouxeram todas essas armas para cá”, afirma Silina.

“Para eles, a Ucrânia é um campo de batalha com a Rússia”, insiste ela, na porta de sua cabana, de onde olha para seu pomar coberto de neve, perto da fronteira com Belarus e a poucos quilômetros da fronteira com a Rússia.

Previstas para continuar até 20 de fevereiro, as manobras militares dos Exércitos russo e bielorrusso em Belarus acontecem relativamente perto de sua casa. Mas esta senhora não está preocupada com o que podem fazer o presidente russo, Vladimir Putin, e seu aliado bielorrusso, Alexander Lukashenko. Para ela, o problema é a Ucrânia.

“Lukashenko é um ditador, mas olha como vivem bem em Belarus. Muitos não gostam de Putin, mas pelo menos há uma aparência de ordem na Rússia”, afirma Silina.

“Os ucranianos, os bielorrussos e o povo russo não querem a guerra. Apenas o nosso governo deseja”, acrescenta, sem hesitar.

No pior cenário possível apresentado pelo serviço de Inteligência americano, a Rússia poderia iniciar uma guerra-relâmpago e tomar Kiev em apenas dois dias.

A rota mais curta para Kiev, que deixa de fora os campos radioativos ao redor da usina nuclear de Chernobyl, levaria os russos por uma estrada que começa nos arredores de Dobrianka.

Os moradores ouviram falar das manobras militares, mas parecem mais cansados do que assustados com o noticiário sobre uma possível guerra.

“Há um ano, tivemos a mesma situação”, recorda o caminhoneiro Ruslan Muratov.

“Talvez tenhamos nos acostumado. Estas escaladas acontecem o tempo todo”, acrescenta. “Mas, com certeza, queremos que acabe o mais rápido possível”, completa.

Em julho do ano passado, Belarus fechou a fronteira com a Ucrânia depois de acusar Kiev de canalizar armas ocidentais para a oposição que protestava contra a reeleição de Lukashenko, acusado de fraude nas urnas, em agosto de 2020.

O fechamento da fronteira rompeu os vínculos familiares, ou de amizade, que datavam da época em que Belarus, Ucrânia e Rússia, três países eslavos, integravam a então União Soviética.

Estes vínculos explicam o motivo pelo qual os ucranianos que moram na região de fronteira confiam mais, ao que parece, nos governantes russos e bielorrussos do que nos ocidentais.

“Assistimos aos telejornais, e afirmam que a Rússia ataca a Ucrânia. Isso é mentira! É uma provocação. Não haverá guerra, e não quero acreditar que vai haver”, afirma a aposentada Nadezha Bronfilova.

“Eles divulgam mentiras, que Putin invadirá a Ucrânia. Isso nunca poderia acontecer nesta vida. Por que nos atacaria?”, questiona Bronfilova.

Sua amiga Lidia Titova para uma bicicleta do lado de fora do principal mercado da cidade para participar da conversa.

“Ucrânia, Belarus e Rússia deveriam viver como três irmãs”, resume Titova.

Fonte: Reuters