Economia
Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Pausa ou fim do ciclo de cortes da Selic? O que esperar da reunião de hoje do Copom

O Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) divulga nesta quarta-feira, 19, sua decisão sobre a taxa de juros básico da economia, a Selic, após dois dias de deliberações entre os membros.

A Selic está hoje em 10,5% ao ano, e a expectativa do mercado é de que a decisão seja pela manutenção desse patamar, apesar das críticas do governo pressionando por mais cortes. O início do ciclo de cortes foi em julho de 2023, após quase um ano a 13,75%, e chegou ao patamar atual na última reunião em maio.

O que mudou de maio para cá

Especialistas que antes viam grandes chances de o ciclo de cortes seguir até o final do ano, agora apostam na pausa de reduções ou até mesmo do fim dos cortes para este ano, após novas projeções para a inflação e incertezas no cenário externo, principalmente na economia dos Estados Unidos.

“De lá [maio] para cá, a inflação implícita para este ano subiu de 4,0% para 4,35%, as taxas dos juros prefixados de longo prazo saíram da vizinhança dos 11,5% a.a. e estão próximas a 12,1% a.a., e o dólar, que estava ao redor de R$ 5,08, está em R$ 5,37. Assim, o mercado espera manutenção da taxa no patamar de 10,5% a.a., por decisão unânime, encerrando por ora o ciclo de queda”, aponta o Itaú BBA em relatório.

Também apoiado nos dados de inflação, o UBS BB não espera mudanças na Selic desta vez. “Após a deterioração das expectativas de inflação e das condições financeiras ao longo do das últimas semanas, acreditamos que o Copom fará uma pausa no seu ciclo de flexibilização”.

Mas o banco vê possibilidade de mudanças na última reunião do ano, em dezembro. “Esperamos agora que o BCB retomará os cortes apenas em dezembro, juntamente com o primeiro corte por parte do Fed [banco central dos Estados Unidos]. (…) Nossa expectativa da taxa permanece em 8,5% para o final de 2024”.

Pesa ainda no ambiente doméstico a preocupação com o cenário fiscal brasileiro. “O fiscal preocupa bastante e a gente pode ver isso nas falas do próprio Campos Neto”, diz Nicolas Gass, especialista e sócio da GT Capital.

Gass reforça a expectativa pela manutenção da taxa em 10,50%. “A previsão que tínhamos de fecharmos o ano aqui no Brasil em uma taxa terminal de 9% ou 9,5% dependia muito dos Estados Unidos diminuírem a taxa deles a partir de maio”, explicou o analista, destacando que o cenário atual é bem diferente e justifica a manutenção dos juros no patamar atual.

Em sua mais recente decisão sobre juros, o banco central americano manteve sua taxa no intervalo de 5,25%-5,50% ao ano.

De olho nos votos

As atenções do mercado estão voltadas também para o placar da decisão do Copom na reunião desta quarta.

“O placar dividido da última reunião foi, junto com a mudança de meta fiscal para 2025 e 2026, um dos estopins para a piora da percepção fiscal e o aumento da desancoragem das expectativas nas últimas semanas. Assim, o melhor cenário seria um placar unânime, independente da decisão”, afirma Helena Veronese, economista-chefe B.Side Investimentos.

Caso a decisão seja novamente dividida, como no encontro anterior, a expectativa é de nova pressão de alta para o dólar, em função dos receios de que, com a saída de Roberto Campos Neto da presidência do BC no fim de 2024, a instituição se torne mais tolerante com a inflação.

“As incertezas fiscais e as incertezas em relação ao BC estão prejudicando muito os preços de ativos financeiros. Inclusive, a moeda brasileira se desvaloriza mais do que a própria moeda argentina, sendo que a situação da economia argentina é infinitamente pior que a brasileira”, pontuou Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, em comentário enviado a clientes.

“Enquanto não vier uma luz da equação fiscal, sobre como o governo vai cumprir o arcabouço sem ficar apenas pressionando a arrecadação tributária, e sem uma luz sobre o que será o novo BC, quem será o presidente e qual será a linha que vai ser seguida, o mercado segue com esta incerteza”, diz Paulo Gala.

Outro ponto de atenção é a sinalização que o BC dará no comunicado.

“Eles sinalizarão um final de ciclo, ou apenas uma pausa? Do nosso lado, entendemos que a palavra pausa deverá aparecer, justamente para que as portas para que novos cortes ainda esse ano não se fechem. Mas é preciso lembrar que o mercado precifica um início de corte de juros nos Estados Unidos a partir de setembro. O ritmo destes cortes e as próprias sinalizações dadas pelo Fed podem influenciar decisões de política monetária no final deste ano, tanto no Brasil, quanto em outros emergentes”, diz Veronese.

Para Marcelo Bolzan, especialista e sócio da The Hill Capital, o comunicado do Copom deve adotar um tom mais hawkish, ou seja, mais duro. “Acredito que o comunicado terá um tom hawkish que o momento necessita, em função da piora do balanço de riscos”, afirmou, enfatizando que o Copom deve manter uma postura de deixar a porta aberta para futuros cortes de juros, dependendo dos dados econômicos subsequentes.

Pressão do governo

Na terça-feira, 18, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atacar Roberto Campos Neto, presidente do BC, sobre a Selic em patamar mais alto. Em entrevista à Rádio CBN, Lula acusou Campos Neto de trabalhar “para prejudicar o país”.

De acordo com o presidente, o comportamento da autoridade monetária é a única “coisa desajustada” no Brasil no momento e a taxa de juros não pode ser “proibitiva” para setores produtivos. “O presidente do Banco Central não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, tem lado político e, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar”, disse Lula.

Desde o início de seu mandato, Lula critica a Selic, acompanhado nas críticas por outros integrantes do governo, como o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro da Fazenda Fernando Haddad.

Fonte: IstoéDinheiro