Negócios
Quarta-feira, 24 de julho de 2024

Ele ajudou a trazer o Xbox ao Brasil. Agora, fatura R$ 50 milhões com game, marketing e diversidade

Nos planos futuros do grupo estão atingir receitas de R$ 250 milhões e expandir marcas internacionalmente

Quando o publicitário paulista Guilherme Camargo assumiu a área da Microsoft responsável por introduzir o Xbox no mercado brasileiro, ele enfrentou um desafio iminente: lidar com uma comunidade de consumidores extremamente apaixonados pelo produto, como é o caso dos gamers. Isso o levou a se aprofundar no assunto, estudando sobre jogos, o mercado e as tendências. Com o tempo, ele se tornou um especialista e um dos principais palestrantes do país sobre videogames. “Mais do que pelo videogame, me apaixonei pela paixão que as pessoas tinham pelos jogos”, afirma.

À medida que o console foi introduzido no Brasil, Camargo se deparou com outro desafio. “Era mais econômico para o consumidor comprar uma passagem para Miami e adquirir o videogame lá, em vez de comprar a versão nacional, que era importada”, explica. A solução? No início dos anos 2010, ele estabeleceu a primeira fábrica do Xbox fora da China, em Manaus, reduzindo os custos do produto, apesar de enfrentar algumas dificuldades logísticas.

A implantação da fábrica no Amazonas e sua imersão no mundo dos jogos foram o que Camargo considera como um “grande MBA” no setor. Essa experiência também foi fundamental para a criação da SX Group, uma empresa de marketing, gamificação e diversidade que prevê faturar R$ 50 milhões em 2023.

A Origem da SX Group

Depois de estabelecer a fábrica no Amazonas e começar a colher os primeiros frutos, Camargo começou a sentir uma inquietação. Com um filho pequeno e um pai doente, ele percebeu que era o momento de repensar sua carreira. “No mundo corporativo, 70% do tempo de trabalho é gasto resolvendo burocracias, em vez de se concentrar no que se planeja e deseja”, afirma.

“Eu estava realizando muitas reuniões que poderiam ser substituídas por e-mails, passando muito tempo longe da família, então decidi fazer uma mudança.”

Essa mudança envolveu sua saída da Microsoft, mas não do mundo dos jogos.

Na mesma época em que Camargo deixava a gigante global, seu amigo de infância, Philippe Capouillez, comandava a Sioux, uma empresa que desenvolvia jogos para computadores e videogames, inclusive como parte de campanhas de marketing, conhecidos como advergames. Esses são jogos eletrônicos criados em torno de uma marca específica e que funcionam como anúncios por si só.

Camargo começou a prestar consultoria para a empresa de Capouillez. Em 2013, essa consultoria evoluiu para uma parceria mais estruturada, e o ex-executivo da Microsoft não apenas se tornou sócio da empresa, mas também o novo CEO. Foi nesse momento que decidiu transformar a Sioux em uma empresa de marketing, com foco em gamificação. A mudança de nome para SX Group ocorreu em 2018. Essa transformação coincidiu com uma alteração na compreensão do negócio: além da Sioux, Camargo estava interessado em desenvolver e se tornar sócio de outras iniciativas. Nesse processo, a empresa se tornou uma venture builder, atuando no desenvolvimento de outras empresas inovadoras por meio do aporte de seus próprios recursos.

“Hoje, buscamos investir em projetos e nos aproximamos dos líderes desses projetos, com base em nossos valores, na hora de decidir em que apostar. Pode parecer clichê, mas a força dos valores é algo que levamos muito a sério”, diz Camargo.

Estrutura Atual da SX Group

Atualmente, a SX Group controla seis empresas diferentes em seu portfólio. A principal delas, em termos de faturamento, ainda é a Sioux, que representa 75% da receita do grupo. Aqui está a lista das empresas:

  • Sioux: uma agência digital de marketing e dados com clientes como Mastercard e Santander.
  • Go Gamers: focada no desenvolvimento estratégico de jogos eletrônicos e propriedades intelectuais, além de conduzir pesquisas de mercado sobre a indústria de jogos no Brasil e oferecer consultorias em gamificação e conteúdo para jogos.
  • Ludos Pro: uma plataforma destinada aos departamentos de recursos humanos das empresas, utilizando a gamificação para criar jogos que engajam, ensinam e aumentam a produtividade dos funcionários.
  • Diaspora Black: é um marketplace de serviços voltados para a cultura negra, oferecendo cursos e serviços específicos relacionados à comunidade negra.
  • Diversitera: uma empresa de consultoria de diversidade para outras empresas, que começa com uma pesquisa para avaliar a diversidade e a inclusão, incluindo análises de cargos, salários e etnia, e propõe treinamentos para melhorar a diversidade.
  • SX Colab: um laboratório de produtos em desenvolvimento, incluindo um aplicativo que tem sido apelidado de “Tinder de Bandas,” permitindo que grupos musicais encontrem músicos específicos para colaborar.

Com essas seis empresas em seu portfólio, a SX Group planeja alcançar uma receita de 50 milhões de reais já em 2023 e tem como objetivo internacionalizar suas marcas. A Sioux, por exemplo, está estabelecendo um escritório em Portugal, e a Diaspora Black está explorando a entrada nos Estados Unidos. A meta a longo prazo é alcançar uma receita de 250 milhões de reais em cinco anos.

O Caminho de Guilherme Camargo

Guilherme Camargo não se limita apenas a jogos e videogames. Na infância, seu verdadeiro hobby era a música, e por um tempo, ele foi um baterista profissional, gravando sete discos, incluindo um no Japão. “A música foi um hobby importante para mim, uma fuga do mundo corporativo”, afirma. “Mas eu não via isso como uma carreira viável.”

Em 1997, ele se formou em publicidade e trabalhou por algum tempo em uma empresa de bebidas americana chamada Heublein antes de ingressar na Microsoft. Em 2006, após três anos na multinacional de tecnologia, ele se candidatou internamente para a vaga que envolvia trazer o Xbox 360 para o Brasil e conseguiu o cargo. “Até 2006, não havia uma indústria formal de videogames no Brasil”, explica. “Eu fui o primeiro funcionário de Xbox no país.”

A partir dessa experiência, Camargo carrega várias lições que aplicou na SX Group. Talvez a mais importante delas seja a necessidade de encontrar parceiros e sócios alinhados com os mesmos objetivos e desejos. “Um sócio não precisa ser seu melhor amigo; você não precisa passar todos os fins de semana na casa dele. No entanto, é importante que ambos compartilhem os mesmos desejos e objetivos.”

Fonte: Exame