No Mundo
Sexta-feira, 26 de julho de 2024

Foto sugere que alguém deixou uma bomba nuclear cair e quebrar

Alguém deixou uma bomba nuclear dos Estados Unidos cair e quebrar em uma base na Holanda. O raro incidente foi sugerido nesta segunda (3) em um relatório publicado por um dos maiores especialistas em armas atômicas do mundo, Hans Kristensen.
O dinamarquês é o diretor do Projeto de Informação Nuclear da FAS (Federação dos Cientistas Americanos, na sigla inglesa), referência na área. Ele abordou o episódio com cautela, como o título de seu relatório evidencia: “Houve um acidente com arma nuclear dos EUA numa base na Holanda?”.
Ele conta que um texto de pesquisa do Laboratório de Los Alamos, centro americano de pesquisa nuclear, de 2022 trazia a foto de quatro pessoas examinando uma bomba nuclear B61, ou ao menos uma cópia exata do armamento.
Por meio de geolocalização, checando detalhes do ambiente com outros imagens do local, tudo indica que a foto foi tirada dentro do chamado cofre nuclear da base aérea holandesa de Volkel, 1 das 6 em que os EUA guardam cerca de cem bombas atômicas na Europa as outras ficam na Turquia, Alemanha, Bélgica e Itália (dois locais).
“O pessoal na imagem também conta uma história”, diz Kristensen, apontando para dois militares abaixados inspecionando a bomba que tinham nos ombros a insígnia EOD, a sigla inglesa para Disposição de Munição Explosiva, a seção da Força Aérea que trata de remoção de armamentos não explodidos.
Um outro militar segura papéis com o mesmo padrão aplicado a documentos secretos americanos, e um homem em trajes civis presente provavelmente é de um dos laboratórios nucleares que fabricam partes da bomba, Los Alamos e Sandia.
Kristensen diz que não pode ter certeza absoluta da natureza do fato, e nem tampouco poderia dizer quando ele ocorreu. A imagem é bem clara, contudo, acerca dos danos sofridos: a bomba entortou, teve danos no sua parte posterior e 1 das 4 aletas de estabilização está faltando.
A Força Aérea dos EUA, que opera o armamento, não considera esse tipo de episódio um acidente, o classificando de “incidente de lança entortada”. Até aqui, não houve comentário oficial do Pentágono sobre a revelação.
Ela ocorre no momento em que especialistas como Kristensen consideram iminente a chegada de novas armas nucleares no continente, uma cortesia da tensão internacional na região devido à Guerra da Ucrânia.
Trata-se da B61-12, a versão modernizada da B61, bomba nuclear tática desenhada para ser lançada de aviões pequenos, como o caça europeu Tornado ou o americano F-35. Já foram feitas mais de 3.000 delas, e a nova versão custa cerca de US$ 28 milhões (R$ 141 milhões hoje).
Ela tem potência variável, indo de 0,3 quilotons (50 vezes menos poderosa do que a bomba de Hiroshima) a 50 quilotons (3,3 vezes mais potente que a jogada na cidade japonesa pelos americanos). Armas táticas são aquelas empregadas em alvos militares pontuais, em oposição às estratégicas, que visam destruir grandes áreas e encerrar guerras.
Tem havido grande debate acerca da hipótese de Vladimir Putin usar uma arma tática na Ucrânia, e na semana passada o presidente russo alarmou políticos e especialistas ao confirmar que irá colocar mísseis com essas ogivas em Belarus, ditadura aliada que faz fronteira com países da Otan (aliança militar do Ocidente).

Fonte: FolhaPress