No Mundo
Terça-feira, 23 de julho de 2024

China tem menor número de casamentos desde 1986 e vê risco de crise populacional

Taxa de registros de matrimônios teve queda de 6,1% em 2021 em relação ao ano anterior e segue em queda pelo oitavo ano consecutivo; natalidade também reduziu

China registrou no ano passado o menor número de casamentos desde que seus registros públicos iniciaram há mais de três décadas –aumentando as preocupações de que o país enfrenta uma crise demográfica iminente.

Houve 7,6 milhões de registros de casamentos em 2021, segundo dados divulgados pelo Ministério de Assuntos Civis da China na semana passada.

Esse é o menor número desde 1986, quando o ministério começou a divulgar publicamente os números, de acordo com o tabloide estatal “Global Times”. Isso representa uma queda de 6,1% em relação ao ano anterior e oitavo ano consecutivo em que as taxas de casamento reduziram.

Ao mesmo tempo, a idade média dos recém-casados está aumentando: quase metade dos casados no ano passado tinha 30 anos ou mais.

Os números refletem uma tendência que preocupa cada vez mais as autoridades do país mais populoso do mundo, com 1,4 bilhão de habitantes: os jovens, especialmente a geração dos millennials, estão cada vez mais optando por não se casar ou ter filhos –e mesmo quando o fazem, tende a acontecer mais tarde na vida.

Especialistas dizem que o efeito indireto sobre o que já é uma força de trabalho em declínio pode ter um impacto severo na economia e na estabilidade social do país.

Em apenas seis anos, o número de chineses que se casaram pela primeira vez caiu 41%, de 23,8 milhões em 2013 para 13,9 milhões em 2019, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas da China.

O declínio se deve em parte a décadas de políticas destinadas a limitar o crescimento populacional da China, o que significa que há menos jovens em idade de casar, segundo autoridades e sociólogos chineses.

Mas também é resultado da mudança de atitudes em relação ao casamento, especialmente entre as mulheres jovens que estão se tornando mais instruídas e financeiramente independentes.

Wujiang Zhu, da China, ficou em segundo lugar na categoria Casamento com esta imagem de um casal recém-casado em um jardim em Dafeng, Jiangsu / Prêmio Wujiang Zhu / Drone de 2021

Diante da discriminação generalizada no local de trabalho e das tradições patriarcais –como a expectativa de que as mulheres sejam responsáveis pelos cuidados com os filhos e pelo trabalho doméstico– algumas mulheres estão ficando desiludidas com a ideia do casamento.

As estatísticas mostram que ambos os sexos estão atrasando o período de se casarem. De 1990 a 2016, a idade média para o primeiro casamento aumentou de 22 para 25 para as mulheres chinesas e de 24 para 27 para os homens chineses, segundo a Academia Chinesa de Ciências Sociais.

O “Global Times” também apontou para as crescentes pressões de trabalho para os jovens, que enfrentam salários estagnados, um mercado de trabalho competitivo e custos de vida cada vez mais altos.

O declínio no número de casamentos aumenta as preocupações com a iminente crise demográfica da China, que luta para fazer subir a taxa de natalidade em queda.

Em 2014, a população em idade ativa do país começou a diminuir pela primeira vez em mais de três décadas.

No ano seguinte, o governo chinês anunciou o fim de sua política de filho único, permitindo que os casais tenham dois filhos, e depois aumentou para três filhos em 2021 –mas as taxas de casamento e natalidade continuaram a cair.

A China não é o único país que luta contra esse problema. O Japão e a Coreia do Sul também têm enfrentado taxas de natalidade em queda e populações cada vez menores nos últimos anos.

Os governos dos três países introduziram medidas para incentivar os nascimentos –como incentivos financeiros, vales em dinheiro, subsídios à habitação e mais apoio aos cuidados infantis–, mas obtiveram sucesso limitado.

Fonte: CNN