
Grandes bancos devem ser beneficiados por aversão a risco no curto prazo, projetam especialistas
A liquidação extrajudicial do Banco Master terá forte impacto no mercado brasileiro. O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) será acionado para fazer o maior ressarcimento de sua história aos clientes que detinham CDBs do banco de investimentos. A instituição calculou em cerca de R$ 41 bilhões em garantias, mas o valor pode chegar a R$ 49 bilhões, segundo o presidente do FGC, Daniel Lima.
Como a liquidação do Master não foi surpresa para o mercado, o reembolso não deve demorar. Em entrevista à CNN, Lima disse que os ressarcimentos devem começar ainda em 2025. Agora, boa parte desse montante entre R$ 41 bilhões e R$ 49 bilhões devem voltar ao mercado financeiro e têm potencial para impactar as taxas dos CDBs, projetam especialistas entrevistados pelo InfoMoney.
CDBs vão pagar menos?
“Uma parte relevante (do montante ressarcido) tende a ser reinvestida, a maioria dos investidores que já utilizavam plataformas e estavam habituados a produtos de renda fixa deve realocar o dinheiro no mercado”, diz Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital. Ele pondera que uma parcela do dinheiro pode ficar temporariamente parada, ser usada para reorganização financeira ou migrar para produtos mais conservadores, mas a renda fixa bancária ainda deve ser o principal destino do dinheiro.
Para Belitardo, a demanda adicional pode pressionar as taxas para baixo se concentrada em grandes emissores. Ao mesmo tempo, os bancos médios e pequenos “devem enfrentar maior exigência de prêmio por parte dos investidores, porque a percepção de risco aumenta”.
Leandro Zanetti, economista e sócio da Forum Investimentos, concorda e diz que “como o montante é relevante para o sistema, a demanda por alocação dos recursos deve pressionar as taxas, especialmente em uma conjuntura em que os bancos estão receosos na oferta de crédito, demandando menos capital”.
Apesar da projeção de impacto, não há expectativa para uma mudança estrutural nos preços. Belitardo lembra que R$ 50 bilhões representam aproximadamente 2% do estoque total de CDBs no Brasil. Além disso, as consequências devem ser vistas apenas no curto prazo.
“O evento pode levar a uma reprecificação temporária das curvas de emissores similares (ao Banco Master), mas não altera a lógica estrutural do mercado, que já opera sob o regime de garantia do FGC para pequenos aplicadores”, diz Ageval Rodrigues, membro do Clube de Investidores do Instituto Empresa.
Como mitigar riscos na realocação?
Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa, destaca que o erro dos investidores do Banco Master está no investimento em CBDs, mas no emissor. “O foco agora deve estar na análise de risco, não só na taxa”.
Quem aplicou nos papéis do Master se acostumou com taxas altas, geralmente de 120% do CDI, algo que geralmente não é praticado pelo mercado. Por isso a recomendação está em não focar apenas nas taxas.
“Quando o investidor que tinha Master realocar em um título seguro pagando 105% do CDI, ele vai sentir queda na rentabilidade mensal. Passado o susto, se a taxa Selic cair ou se a inflação subir, a ganância por taxas maiores pode voltar”, alerta Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos.
Para ele, o investidor que quer fugir de “novas aventuras perigosas” pode alocar em títulos públicos, enquanto os mais arrojados podem procurar títulos de crédito privado, com foco no longo prazo. “Nos fundos de crédito privado high grade (que investe em títulos com alta nota de crédito), você entrega o dinheiro a um gestor profissional que compra uma cesta com 30 a 100 empresas de alta qualidade em vez de escolher um único banco e correr um risco concentrado”, avalia Patzlaff.
Já Zanetti acredita que pós-fixados (atrelados à Selic ou ao CDI) e isentos de Imposto de Renda, como LCIs e LCAs, têm boa relação entre risco e retorno atualmente “e devem continuar performando bem nas janelas de 12 a 24 meses pela frente”. Ele ainda diz que um “simples” Tesouro Selic também é uma “ótima” opção para os mais conservadores.
Fonte: InfoMoney
