
Autoridades de Tóquio defendem redução da carga horária, mas Sanae Takaichi, a nova líder, dorme só 2 horas por noite
Quando se trata do futuro do trabalho, o Japão está preso em uma disputa.
Autoridades de Tóquio estão defendendo uma semana de trabalho de quatro dias, na esperança de que uma carga horária menor alivie a famosa cultura laboral exaustiva do país e reduza o “karoshi” — termo que significa morte por excesso de trabalho.
Com a queda na taxa de natalidade e o aumento do esgotamento profissional, muitos veem essa mudança não como um benefício, mas como uma necessidade para a sobrevivência econômica do Japão.
Mas a nova primeira-ministra do país, Sanae Takaichi, sinaliza uma abordagem bem diferente. A líder de 64 anos foi criticada este mês por convocar sua equipe para uma reunião às 3 da manhã — não devido a uma crise de segurança nacional, mas simplesmente para se antecipar à sua participação no parlamento.
Embora ela tenha posteriormente admitido que o início tão cedo “causou transtornos” à sua equipe, defendeu a decisão como necessária para responder às perguntas dos legisladores, segundo The New York Times. Mas não foi a primeira vez em que Takaichi demonstrou conforto com um ritmo intenso de trabalho.
Após ser eleita, Takaichi declarou que pretendia trabalhar muito. “Quero descartar o termo ‘equilíbrio entre vida pessoal e trabalho’ para mim mesma. Eu vou trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar e trabalhar.”
Na prática, isso significa que ela dorme aproximadamente apenas duas horas por noite — às vezes até quatro — um hábito que admitiu aos legisladores ser provavelmente “ruim” para sua pele.
Ainda assim, enquanto o Japão tenta impulsionar o crescimento econômico aliviando a pressão no ambiente de trabalho, Takaichi insiste que apoia mudanças de políticas que protejam a saúde dos trabalhadores — mesmo sem dar o exemplo.
“De fato, se conseguirmos criar uma situação em que as pessoas possam equilibrar adequadamente responsabilidades com filhos e cuidados familiares de acordo com sua vontade, e também possam trabalhar, aproveitar o lazer e descansar — isso seria o ideal”, disse Takaichi, segundo a AFP.
Semana de trabalho reduzida pode estar próxima
As taxas de natalidade no Japão atingiram níveis recordes de baixa no início deste ano: entre janeiro e junho, foram registrados cerca de 339 mil nascimentos — aproximadamente 10 mil a menos que no mesmo período do ano anterior, segundo o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar.
A queda representa uma grande ameaça especialmente para setores voltados ao consumidor, que dependem de demanda crescente.
Defensores da semana de quatro dias dizem que ela pode reverter a tendência de queda da natalidade ao dar aos pais mais tempo para criar filhos e dividir responsabilidades domésticas.
Segundo o FMI, metade das mulheres japonesas que decidiram ter menos filhos relatam que o fizeram, em parte, por conta do aumento da carga doméstica que mais uma criança traria.
Mudanças na jornada também podem ampliar a divisão justa de tarefas: um teste de semana de quatro dias realizado em seis países pela organização 4 Day Week Global mostrou que homens passaram 22% mais tempo cuidando dos filhos e 23% mais tempo com tarefas domésticas.
“O lado positivo desses experimentos tem sido menos estresse, menos esgotamento, melhor descanso, melhor sono, menor custo para o funcionário, níveis mais altos de foco e concentração durante o horário de trabalho — e, em alguns casos, maior comprometimento com a empresa”, afirmou Peter Miscovich, líder global de futuro do trabalho na empresa de serviços imobiliários JLL, em uma entrevista anterior à Fortune.
Com a inteligência artificial revolucionando o ambiente profissional à sua maneira, especialistas em tecnologia sugerem que jornadas reduzidas podem chegar antes do esperado.
“Como serão os empregos?”, questionou Bill Gates ao apresentador Jimmy Fallon no programa The Tonight Show, em fevereiro. “Será que deveríamos trabalhar apenas dois ou três dias por semana?”
Fonte: Fortune
