No Mundo
Segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Milei tem desempenho surpreendente em legislativa, e governo pode levar bastião peronista, aponta apuração

Quatro meses antes das eleições legislativas deste domingo (26), Javier Milei prometeu uma consagração nas urnas, como um sinal de apoio popular ao seu governo, continuidade da política econômica e pavimentando o caminho para uma reeleição em 2027. Apesar de a Casa Rosada ter enfrentado uma sucessão de escândalos que ameaçaram a popularidade do governo antes de um pleito crucial, os argentinos decidiram dar uma vitória surpreendente ao presidente.
Os resultados preliminares mostram que o mileísmo conseguiu se impor como a principal força política do país. Às 21h17, com 90,9% das mesas apuradas, o ministro da Casa Civil, Guillermo Francos anunciou que A Liberdade Avança obteve 40,84% do total de votos e 64 bancas de deputados; o peronismo, pelo Força Pátria, 24,5%, com 31 bancas; Províncias Unidas, com 5,12% ou cinco bancas; a Frente de Esquerda, 2,71%, com três bancas.
O governo agora disputa a província de Buenos Aires, bastião dos peronistas.
Foram renovados um terço do Senado (24 de 72 vagas) e metade da Câmara (127 de 257 cadeiras).
O partido do presidente se reuniu em um hotel no centro de Buenos Aires, o mesmo em que Milei esperou a apuração nas eleições de 2023. No fim da noite, antes que os resultados começassem a ser divulgados, o clima já era de euforia entre os apoiadores do presidente.
O partido de Milei e o PRO (do ex-presidente Mauricio Macri), que este ano foram unidos às urnas e disputaram em todas as províncias, detinham 74 cadeiras na Câmara dos Deputados e 13 no Senado. O governo vai conseguir ir além das 86 vagas necessárias para um terço na Câmara e cresce no Senado, onde não precisava renovar cadeiras.
Em 2023, quando concorria à Casa Rosada, Milei chegou ao seu local de votação, cercado por apoiadores e disposto a discursar. Neste domingo, optou por uma postura mais austera: entrou sem falar com os eleitores e esperou por cinco minutos antes de depositar seu voto. Na saída, tirou fotos com militantes, ouviu aplausos e algumas vaias, evitou perguntas dos jornalistas e foi escoltado até um carro da comitiva presidencial.
A vitória expressiva de Milei coloca mais pressão sobre o peronismo, desarticulado desde o fracasso o governo de Alberto Fernández (2019-2023). O governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, votou em La Plata. Principal oponente de Milei, ele chegou cerca de 20 minutos antes com sua mulher, Soledad Quereilhac, e foi parado por apoiadores, que pediram para tirar fotos. Em seguida, falou aos jornalistas.
“Definimos uma agenda importante para a vida nacional”, disse o governador bonaerense. “Todos os dias, desde que assumi como governador, me coloco à disposição para dialogar com a autoridade nacional. Eles têm o meu telefone”, queixou-se Kicillof, ao responder sobre a falta de diálogo com o governo nacional.
Em prisão domiciliar, a ex-presidente Cristina Kirchner foi impedida de votar por uma decisão da Câmara Nacional Eleitoral. Após ter tido sua sentença de seis anos de detenção confirmada pela Corte Suprema de Justiça, por administração fraudulenta em prejuízo do Estado, a autoridade eleitoral ordenou a sua exclusão do registro de votantes.
Milei estava preocupado, após amargar uma derrota de mais de 13 pontos em setembro, na disputa legislativa local na província de Buenos Aires. Na próxima composição do Congresso, a partir de 10 de dezembro, porém, a aliança governista poderá ter o mínimo para evitar que os vetos do presidente sejam derrubados e terá mais folga para dar passos maiores, como fazer reformas e aprovar cortes de gastos para defender o plano de austeridade de Milei.
Com menos cadeiras em disputa do que seus opositores, ele conseguiu manter os deputados próprios que precisavam renovar os seus mandatos em 2025 e ainda aumentar a bancada governista. As últimas pesquisas antes da abertura das urnas já apontavam que seria um resultado equilibrado em nível nacional, com o governismo ampliando sua presença no Legislativo, mas sem alcançar a maioria.
Em uma votação que faz um balanço da primeira metade do mandato, Milei conseguiu colher os frutos da desaceleração da inflação, após o duro ajuste que o governo promoveu em quase dois anos. O argentino teve de apelar ao presidente dos EUA, Donald Trump, para evitar uma crise cambial no mês passado, e recebeu um forte respaldo da Casa Branca.
A estratégia de aproximação com o governo Trump, que tinha condicionado seu apoio ao desempenho eleitoral de Milei, foi concretizada com compras de moeda pelo Tesouro dos EUA e um acordo de troca de divisas entre os países, o que conseguiu evitar uma crise cambial antes das eleições.
Mesmo assim, a Casa Rosada precisará recompor parte do gabinete, com a saída do chanceler Gerardo Werthein, ainda antes das eleições, e uma troca na Justiça, após o ministro Mariano Cúneo Libarona anunciar que deixará a pasta. Patricia Bullrich (Segurança) e Luis Petri (Defesa), que eram favoritos em seus distritos para conquistar uma vaga no Senado e uma na Câmara, respectivamente, também deixam o governo.
PARTICIPAÇÃO EM PLEITO É A MENOR DESDE 1983
Mais de 12 milhões de pessoas, ou 34% dos eleitores, não votaram neste domingo, de acordo com a autoridade eleitoral. A taxa de participação de 66% é a menor desde 1983, com a volta da democracia ao país. Até então, a participação mais baixa em uma outra eleição legislativa tinha sido em 2021 (no contexto da pandemia), com 71%. Já nas presidenciais de 2023, quando Milei foi eleito, o comparecimento foi de 74%. O voto é obrigatório na Argentina, com multa para quem não justificar a ausência.
Pela primeira vez, foi utilizado o sistema de cédula única de papel, com o objetivo de reduzir custos e agilizar a contagem dos votos. A mudança aumentou o tempo de espera em alguns locais de votação, mas sem incidentes.

Fonte: FolhaPress