
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, rejeitou de forma contundente nesta quarta-feira (22) a ideia de que seu país seja um “Estado cliente” dos Estados Unidos, classificando essa interpretação de besteira, de acordo com o jornal The Times of Israel. A declaração foi feita ao lado do vice-presidente americano, J.D. Vance, após uma reunião com o republicano em Jerusalém.
“Numa semana, dizem que Israel controla os EUA. Na semana seguinte, dizem que os EUA controlam Israel. Isso é besteira. Temos uma aliança entre parceiros que compartilham valores comuns. Podemos ter divergências aqui e ali, mas, no último ano, tivemos um acordo não só sobre os objetivos, mas também sobre como alcançá-los”, disse Bibi, como o premiê é conhecido, ainda segundo a publicação.
Os EUA são os maiores aliados e os principais fornecedores de armas e equipamentos militares de Israel. Netanyahu elogiou o papel americano na região e destacou que a cooperação com Washington tem sido essencial para o avanço dos objetivos de segurança e diplomacia de seu país. “Conseguimos colocar a faca na garganta do Hamas”, afirmou.
“O outro esforço foi isolar o Hamas no mundo árabe e muçulmano, o que acho que o presidente [americano] fez brilhantemente com sua equipe.”
Vance fez coro a Netanyahu. Ele reafirmou que os EUA não veem Israel como um Estado subordinado, mas como um aliado estratégico. “Não queremos um Estado vassalo, e isso não é o que Israel é. Não queremos um Estado cliente, e isso não é o que Israel é. Queremos uma parceria, um aliado aqui”, disse.
O vice-presidente afirmou que Washington acredita no papel central de Israel, ao lado de países árabes do Golfo, na construção de uma nova ordem regional. “Isso não significa que não tenhamos interesses aqui”, disse Vance. Segundo o republicano, o pacto para o cessar-fogo em Gaza pode se tornar peça-chave para fortalecer os Acordos de Abraão e criar “uma estrutura de aliança no Oriente Médio que perdure”.
Analistas dizem que os Acordos de Abraão foram a melhor conquista internacional do primeiro mandato de Trump. Os tratados normalizaram as relações entre Tel Aviv e os Emirados Árabes Unidos e Bahrein, os primeiros países árabes a reconhecer Israel em um quarto de século.
Vance visita Israel para pressionar o governo de Netanyahu a manter de pé o cessar-fogo após dias de violações e bombardeios contra o território palestino. Na véspera, o americano disse que Washington não definiu uma data final para o desarmamento do Hamas, uma das questões mais delicadas das negociações e que ameaça derrubar o acordo. O grupo terrorista sinaliza que não aceitará entregar todas as armas.
O americano afirmou ainda que ambos os governos trabalham em um “plano de paz para Gaza”, que inclui a reconstrução e a melhoria das condições de vida da população local, além do desarmamento do Hamas, descrito por ele como uma “tarefa muito difícil pela frente”. Segundo Vance, países árabes estão se voluntariando para “desempenhar um papel positivo” no processo.
O plano de Trump prevê a criação de um comitê palestino tecnocrático supervisionado por um conselho internacional, sem que o Hamas tenha papel algum no governo. Críticos acusam a estratégia de uma forma de tutela inspirada em regimes coloniais do passado. Nesta quinta (23), o chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, também viajará a Israel como parte da ofensiva diplomática de Washington.
Na semana passada, Mohammed Nazzal, dirigente do Hamas, disse à agência Reuters que o grupo esperava desempenhar algum papel de segurança em Gaza durante um período de transição indefinido.
Na mesma semana, a facção entrou em confronto com gangues rivais nas ruas de Gaza e assassinou homens acusados de colaborar com Israel. O comando militar dos EUA no Oriente Médio pediu ao Hamas que encerrasse a violência de forma imediata.
De acordo com o americano Wall Street Journal, o Hamas disse que vai interromper os assassinatos. A decisão ocorreu após mediadores do acordo para cessar-fogo em Gaza afirmarem que Israel poderia usar a violência como justificativa para novos ataques contra o território palestino.
Também nesta quarta, as forças israelenses voltaram a bombardear o Líbano. Issa Ahmad Karbala, comandante de uma unidade de elite do Hezbollah, foi morto na ação, de acordo com Tel Aviv. Ele era acusado de transportar armas e de planejar ataques contra Israel.
Fonte: FolhaPress