
O porta-voz do presidente publicou uma ordem que proíbe a distribuição dos áudios gravados dentro da Casa Rosada
Um juiz federal da Argentina proibiu, nesta segunda-feira (1°), a mídia de publicar gravações de áudio feitas dentro do palácio presidencial, supostamente da irmã do presidente Javier Milei, enquanto o governo enfrenta uma onda de alegações de corrupção antes das eleições.
O porta-voz do presidente, Manuel Adorni, publicou nas redes sociais uma ordem judicial que proíbe a distribuição dos áudios gravados dentro da Casa Rosada por veículos de comunicação ou plataformas de mídia social.
O governo havia apresentado uma queixa na justiça federal contra uma “operação de inteligência ilegal com o objetivo de desestabilizar o país em plena campanha eleitoral”, disse Adorni.
As gravações incluíam conversas privadas de autoridades, incluindo a irmã do presidente, Karina Milei, que também é chefe de gabinete, disse Adorni.
Entenda o escândalo envolvendo a irmã de Milei
O governo argentino vive sobre tensão após a irmã do presidente e secretária-geral da Presidência, Karina Milei, ser apontada como suposta beneficiária direta de um possível esquema de corrupção envolvendo a devolução de verbas por meio da Andis (Agência Nacional para a Deficiência).
A investigação, que está sendo conduzida sob sigilo pela Justiça Federal, ocorre após uma reportagem do canal de streaming local Carnaval revelar gravações de áudio nas quais Diego Spagnuolo, ex-diretor da Andis, teria sido ouvido discutindo um esquema de propina em uma conversa privada que supostamente envolve Karina Milei e um de seus colaboradores mais próximos, o subsecretário de Gestão Institucional, Eduardo “Lule” Menem, parente do falecido ex-presidente Carlos Menem.
A CNN não conseguiu verificar as gravações de áudio de forma independente.
Esta não é a primeira controvérsia sobre possível fraude a atingir Milei em menos de dois anos de governo.
Em fevereiro, a ascensão da criptomoeda $LIBRA, que disparou e despencou em poucas horas, levou a múltiplas acusações criminais contra ele, inclusive nos Estados Unidos, que ainda estão pendentes. Na época, Milei negou ter promovido o ativo digital.
Mas essa nova acusação surge em meio à campanha eleitoral, poucos dias antes das eleições legislativas na província de Buenos Aires, marcadas para domingo, 7 de setembro, e dois meses antes das eleições nacionais, que serão realizadas em 26 de outubro.
As acusações atingem um dos pontos fortes de Milei. O autoproclamado “melhor amigo” de Donald Trump na América Latina se apresenta como um outsider, disposto a romper com os negócios sujos da política e os gastos estatais perdulários.
No entanto, de acordo com o relato de Spagnuolo nas gravações de áudio — cujo conteúdo é reproduzido em uma denúncia criminal obtida pela CNN —, por meio da farmácia Suizo Argentina, o governo teria executado um esquema de suborno relacionado à compra e fornecimento de medicamentos da Andis, gerando um acréscimo de 8%, dos quais 3% foram enviados à secretaria-geral da Presidência, Karina Milei.
A denúncia criminal, elaborada por Gregorio Dalbón, também advogado da ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner, acusa o presidente Javier Milei, sua irmã, Eduardo “Lule” Menem, e o proprietário da farmácia, Eduardo Kovalivker.
“O que se revela nas gravações de áudio confirma o circuito estruturado de corrupção que envolve a mais alta hierarquia política e operadores estratégicos do país. Javier e Karina Milei são identificados como beneficiários diretos da devolução dos fundos desviados, Eduardo ‘Lule’ Menem e Diego Spagnuolo são identificados como intermediários no esquema corrupto, e a farmácia Suizo Argentina – de Eduardo Kovalivker – serve como um canal indispensável para a coleta e distribuição de propinas, consolidando assim um triângulo de poder entre o Poder Executivo, a Secretaria-Geral e o setor privado”, afirma a denúncia.
De acordo com as declarações de Spagnuolo nas supostas gravações de áudio, o ex-funcionário teria alertado o presidente sobre o ocorrido: “Falei com o presidente; tenho todas as mensagens de WhatsApp da Karina.”
Fonte: CNN