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Terça-feira, 22 de julho de 2025

‘Não nos posicionamos politicamente, mas socialmente’, diz dono da Chico Rei

Ao terminar a faculdade de arte, Bruno Imbrizi buscava uma forma de empreender e colocar a sua criatividade para fora. Filhos de pais ligados ao mundo da moda, logo veio a ideia de fundar a Chico Rei, uma loja virtual especializada em camisetas com estampas que valorizassem a cultura nacional. 

No mês em que a marca completa 17 anos, o empresário falou com IstoÉ Dinheiro sobre responsabilidade social e como é ser uma empresa que, em um país polarizado, celebra em suas camisetas personalidades como Paulo Freire e Eduardo Galeano.  

“Não nos posicionamos politicamente, mas socialmente. Defendemos valores inegociáveis, como a ressocialização dos presos, e não vamos abrir mão disso. Uma pessoa que acha que ‘bandido bom é bandido morto’ nunca vai comprar da gente, e eu não faço questão”, explicou Bruno. 

Parte da produção é feita dentro de presídio

Foto: Divulgação/ Chico Rei

Desde 2020 a companhia realiza um projeto onde detentos da Penitenciária Professor Ariosvaldo Campos Pires são responsáveis pela produção de 15% das camisetas da marca antes delas irem para a fábrica da marca, em Juiz de Fora. Bruno explica que os presos que participam do projeto ganham 1 dia a menos de pena a cada três dias trabalhados, além do salário. 

“A gente ensina os presos a costurar e eles já passam por um processo de contratação dentro da da unidade prisional. Depois, no regime semiaberto, a gente dá a carta de emprego e ele vem trabalhar na nossa fábrica aqui fora. Ou seja, a gente cria um ciclo completo de liberdade”, contou Imbrizi. 

O projeto permite que detentos gerem renda, seguindo o modelo de remuneração conforme a legislação: 25% do salário depositado em poupança judicial, 50% destinado à assistência familiar/pessoal e 25% revertido ao Estado. 

Desde o início do projeto, a companhia investiu mais de R$ 370 mil na unidade, incluindo 240 mil na estrutura da célula, 90 mil na capacitação dos detentos e 40 mil na reforma de celas para melhorar as condições de moradia de 110 internos.

Algodão do nordeste e tingimento em SC

Na contramão da onda do “fast fashion” e dos marketplaces chineses, a marca concentra 100% de sua produção no Brasil: o algodão vem do Nordeste, a fiação e a malharia são feitas em em São Paulo e o tingimento é em Santa Catarina. A conclusão da fabricação é feita na fábrica da companhia, em Juiz de Fora.

Plano de primeiras lojas no Rio e em SP

Inicialmente lançado somente de forma virtual, a companhia ainda engatinha no lançamento de lojas físicas, mas esse processo deve ser acelerado até 2026. Atualmente com três pontos físicos, todos os Minas Gerais, em Juiz de Fora, Belo Horizonte e Tiradentes, a Chico Rei pretende lançar sua primeira loja fora do estado ainda este ano, em Copacabana, no Rio de Janeiro, e outra em São Paulo. No ano que vem, a intenção é lançar de três a cinco novas lojas. 

“A estratégia para abrir lojas físicas é uma combinação de testes de comportamento de consumo e análise de dados geográficos dos clientes do site, com o objetivo principal de reforçar a conexão com o público e saber o que ele deseja”, reforçou Imbrizi. 

A projeção da empresa é faturar entre R$ 30 milhões e R$ 35 milhões em 2025, crescendo cerca de 30% em relação a 2024. A produção deve somar 600 mil camisetas, 32 mil outros produtos e totalizar 180 mil pedidos em 2025. O principal canal de venda ainda é o on-line, onde mais de 1 milhão de clientes já efetuaram compras.

‘Aberto’ para propostas

O empresário também afirmou que não descarta aceitar um investimento de alguma grande rede varejista, mas que ele teria que vir respeitando os processos criativos e de produção da marca mineira.  

“A gente tá aberto, mas com um alinhamento claro sobre essa liberdade criativa da marca. Esse é um ponto que a gente não abre mão. Quando a gente olha especialmente essas aquisições, a gente vê muitos casos que a marca, a construção criativa do que é realizado, é engolida por esses grandes grupos”, apontou. 

Aposta no futebol

Foto: Divulgação/ Chico Rei

A nova aposta da marca é o futebol. A empresa lançou uma camisa no estilo das de jogo de futebol, com “patrocínio” e tecido especial. Aproveitando o sucesso de vendas, a Chico Rei também está ampliando parcerias para lançar camisetas licenciadas de clubes de futebol brasileiro.

Depois de Vasco e Sport Recife, a marca lançou, neste mês de julho, sua linha em parceria com o Fortaleza e deve lançar produtos do Bahia até o final do ano. 

“Não dá pra falar de cultura brasileira sem falar de futebol. Começamos com Vasco e Sport e agora, temos Fortaleza e Bahia até o final do ano. A ideia é trabalhar com todos os grandes clubes brasileiros nos nossos moldes, o que significa ter liberdade criativa para desenvolver aquelas coleções. Nós não estamos buscando um produto simplesmente oficial com o escudo do clube. A gente tá buscando uma sinergia entre o nosso potencial criativo”, completou.

Fonte: IstoéDinheiro