
Movimento de bancos centrais, a partir da tensão na economia global, é apontado como um dos motivos por trás da disparada no preço do metal. Sob Trump, há temores com a exposição excessiva ao dólar e a títulos do governo dos Estados Unidos
A volatilidade que tomou conta do mundo desde que o presidente Donald Trump assumiu o comando dos Estados Unidos, uma das maiores economias do mundo, colocou em pauta uma situação fora de discussão até então: o dólar como um ativo de risco para os bancos centrais. E, paralelamente ao crescimento dessa percepção, vem aumentando, também, o valor do ouro negociado no mercado financeiro.
Considerado universalmente uma reserva de valor segura, nas últimas décadas o ouro perdeu espaço nos BCs do mundo, que buscaram diversificar suas reservas internacionais com moedas fortes e títulos do governo dos Estados Unidos, que oferecem também juros e dividendos.
No entanto, recentemente, o preço do ouro segue uma tendência de alta: somente em 2025, subiu 28%. No período de doze meses, o aumento foi de 39%, batendo o fortalecimento registrado por moedas de alta liquidez e referência no mercado mundial, como o euro, que se valorizou cerca de 8% em doze meses e 13% neste ano. Apesar dos problemas fiscais do Reino Unido, a libra apreciou 7,8% em 2025 e 4,5% em doze meses. O franco suíço teve ganho de 14% e 12,5%, respectivamente.
“Grandes movimentos no preço do ouro ocorreram na década de 1970 por causa de inflação no mundo. Entre 1976 e 1989, o preço subiu 440% e, depois, entre 2000 e 2009, teve outro salto, de 587%, refletindo questões fiscais de inflação”, avalia o diretor de um grande banco americano com sede em Nova York. “Agora, vemos um movimento de alta que ainda não dá para separar o que é especulação e o que é movimento exclusivo dos BCs”, diz.
As ameaças e chantagens comerciais deflagradas por Donald Trump nos últimos meses fizeram a comunidade financeira internacional ressuscitar o que se chama no mercado de “Acordo de Mar-a-Lago”, uma referência ao resort de luxo na Flórida onde Donald Trump costuma receber políticos e empresários.
Apesar de não haver registro oficial, esse acordo resumiria o pensamento da gestão Trump: oferecer segurança militar e acesso dos países ao mercado americano e receber investimentos no setor industrial doméstico, que seria fortalecido, enquanto o dólar desvalorizaria para ajudar nas exportações. Além disso, haveria a troca da dívida de curto prazo dos Estados Unidos por papéis que venceriam entre 50 e 100 anos.
‘Calote’
“Isso é simplesmente um calote em cima dos BCs do resto do mundo”, observa a diretora de um grande banco na Europa. Segundo ela, a luz amarela acendeu e os banqueiros centrais se deram conta de que não é conveniente estar completamente expostos a títulos do Tesouro americano. Assim, o ouro surge como opção na estratégia de diversificação das reservas diante do risco de prejuízo no balanço, caso a gestão Trump busque qualquer tipo de reestruturação do país. “Por isso, os BCs estão comprando ouro como se não houvesse amanhã. É o vale tudo do Trump”, afirma.
Essa corrente de pensamento da gestão Trump seria uma forma de o governo americano reduzir o déficit comercial, constantemente classificado pelo presidente como um roubo da riqueza americana por outras economias. A valorização do dólar seria um dos motivos dessa situação potencializada justamente pela demanda da moeda americana como reserva de valor segura e com liquidez. Isso é considerado um cenário insustentável pelo presidente dos Estados Unidos.
Fonte: PlâtoBR