
Favorito neste domingo (6) na eleição interna para o comando nacional do PT, Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara (SP), é um sobrevivente político de investigações e processos abertos na esteira da Operação Lava Jato.
Tendo sido coordenador financeiro da campanha presidencial do partido em 2014, período intensamente visado pelos investigadores, foi denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) junto com o presidente Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff em 2017.
A acusação era a de integrar uma organização criminosa. Ele também foi alvo de buscas em uma operação da Polícia Federal sobre as atividades do grupo J&F (dono da JBS).
Diferentemente do que ocorreu com outros petistas envolvidos no escândalo, conseguiu superar o desgaste gerado pelas investigações e permaneceu com projeção dentro do partido. As pendências judiciais, porém, se arrastaram.
Em 2024, Edinho conseguiu o trancamento, na Justiça Eleitoral do Distrito Federal, de investigação que apurava doações para o partido feitas pela empreiteira UTC. O procedimento durou oito anos, sem chegar a uma conclusão contra o ex-prefeito.
A defesa citou, à época, a “violação aos princípios da duração razoável do processo” e disse que a tramitação “por quase uma década causa evidentes danos à vida de qualquer pessoa”.
Antes, em 2022, o STF mandou arquivar investigação que mirava, além dele, também o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), em outro desdobramento da delação dos donos da JBS.
Em 2018, Edinho foi alvo de buscas na chamada Operação Capitu, que apurou suposto esquema de corrupção envolvendo a JBS no Ministério da Agricultura. O movimento público mais recente aponta que o caso foi enviado para a Justiça Eleitoral em Minas Gerais em 2022.
Procurada, a defesa disse que todas as investigações que apuraram a conduta de Edinho “foram arquivadas com relação a ele”. “Após anos de apuração, nenhuma delas resultou em qualquer acusação.”
Em 2016 e 2017, Edinho prestou extensos depoimentos ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) como testemunha no processo que pedia a cassação da chapa Dilma-Michel Temer na eleição de 2014.
Nessas audiências, expôs detalhes de sua atuação na época e falou da relação com empresários em busca de financiamento eleitoral.
Naqueles anos, as doações de empresas a campanhas políticas eram legais, e os partidos dependiam dos grandes conglomerados empresariais para financiar suas campanhas.
Em 2014, ano da reeleição de Dilma, a função cabia a Edinho, que disse que era “o único ordenador de despesas” da candidatura.
“Eu disse a ela [Dilma] que eu nunca tinha cumprido tarefa semelhante, mas que eu, até pela vivência partidária que tinha, eu tinha uma proposta de administração da campanha”, disse o ex-prefeito em audiência na Justiça Eleitoral, em 2017.
Nos anos seguintes, a relação do PT com esses grandes doadores foi esmiuçada em investigações, que lançaram suspeitas de corrupção nas tratativas feitas. “Todas as grandes empresas brasileiras eu procurei”, disse Edinho à Justiça Eleitoral, citando de bancos a “empresas da área de alimentos e farmacêuticas”.
Edinho afirmou que agendou “reuniões com a Odebrecht, como agendei com outras empresas, com o objetivo de arrecadar fundos para a campanha da presidenta”. Ele sempre frisou que as contribuições eram legalizadas e que não houve pedidos de pagamentos via caixa dois, tendo agido “com a maior correção possível”.
“Você marcava a primeira conversa, você abria o processo de negociação, e as doações ocorriam dentro desse processo, às vezes com mais facilidade, às vezes com mais dificuldade, mas sempre eram um processo de você estar agendando constantemente diálogos, estar cobrando os compromissos das doações, enfim.”
Exemplo das dificuldades foi exposta em troca de mensagens com o então presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, em agosto daquele ano.
Diálogo obtido pela Polícia Federal em quebra de sigilo mostrou Edinho questionando o empresário sobre a falta de doações e chamando a situação financeira de “drástica”.
“Repassei o problema da não contribuição e estão pedindo para vc fazer ao menos 10 até amanhã para não paralisar setores importantes da campanha. Aguardo retorno”, disse o petista, segundo relatório da investigação.
Para a PF, “10” possivelmente se referia a um pedido de R$ 10 milhões de contribuição.
A proximidade com empresários que acabariam alvos da Lava Jato acabou causando dores de cabeça por anos para o dirigente partidário.
A acusação de organização criminosa foi cindida em relação a ele e enviada, por causa do foro especial, ao TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região). Em 2016, Edinho se elegeu prefeito, cargo para o qual foi reeleito quatro anos depois.
Na denúncia, depoimentos de delatores levaram o então procurador-geral Rodrigo Janot a chamá-lo de um dos “cobradores de propina” de empresários. O caso não tramitou em Curitiba nem sob jurisdição do ex-juiz Sergio Moro.
A denúncia também afirmava que o ex-prefeito foi acionado pela Odebrecht em meio a esforços dos executivos para frear as investigações no primeiro ano da Lava Jato, em 2014.
A defesa dele, na época, disse que a denúncia estava toda “calcada em depoimentos de delatores, sem que aos acusados tenha sido sequer oportunizada a possibilidade de prestar esclarecimentos”.
Posteriormente, empresários delatores passaram a renegar seus acordos de colaboração. Marcelo Odebrecht, por exemplo, conseguiu a anulação de sentenças depois de argumentar que foi pressionado a delatar.
A advogada do ex-prefeito, Maíra Salomi, afirma que hoje “Edinho segue sua atuação na vida pública e política sem qualquer processo criminal instaurado contra si”.
“Durante a campanha [de 2014], todos os processos de arrecadação de recursos e contratação de serviços foram conduzidos com transparência, submetidos à auditoria interna e à fiscalização externa. Todas as contas foram aprovadas por duas vezes pelo TSE, sem qualquer indício de irregularidade.”
Fonte: FolhaPress