No Mundo
Quarta-feira, 25 de junho de 2025

ITA chinês abre centro para estudantes e professores do Brasil

Em Hangzhou, cidade próxima a Xangai que concentra os avanços mais recentes da China em tecnologia, o campus da Universidade Beihang acaba de abrir as primeiras onze salas para professores, pesquisadores e estudantes brasileiros.
O físico Diao Xungang, professor que está à frente da criação do Centro Beihang Brasil, entrou em seu próprio escritório pela primeira vez na visita solicitada pela reportagem. Dias depois, viajou ao Brasil, onde deve permanecer nos próximos três meses.
“Os professores estão vindo e vamos acomodá-los, trabalhar juntos em engenharia, especialmente a parte de aviação, mecânica, inteligência artificial e big data”, disse, destrancando as portas e descrevendo as instalações recém-mobiliadas.
Antes chamada de Universidade Aeronáutica e Aeroespacial, a Beihang é “equivalente ao ITA”, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica brasileiro, mas sem o currículo e o comando militar, afirmou Diao. É vinculada ao Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação e ex-alunos seus se destacam em startups como Deepseek.
Há outras universidades hoje voltadas à aviação, pelo país, mas a Beihang é a principal, disputando a ponta em Stem (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Participou, por exemplo, do desenvolvimento de conquistas chinesas como o avião comercial C919 e a estação espacial, destaques em seu museu em Hangzhou.
De acordo com Diao, diversos professores do ITA já estão colaborando no projeto, mas a relação institucional é com a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e a USP (Universidade de São Paulo), que devem ser visitadas em julho pelo reitor da Beihang, Wang Yunpeng.
“Como é uma universidade aeronáutica, teremos uma colaboração muito próxima com a USP, cujo departamento de aeronáutica em São Carlos eu conheço bastante bem”, disse o professor, que morou dois anos e passou outras temporadas no Brasil, inclusive como professor visitante da USP.
“Estamos apenas começando, mas seguindo uma grande estratégia, baseada na relação entre a China e o Brasil”, acrescenta. Comentou que o centro foi lançado no campus de Pequim em meio à visita do presidente Lula (PT), em maio, após a ideia surgir durante a visita do líder Xi Jinping ao Brasil, em novembro.
Segundo o diretor do Centro USP-China, Ricardo Trindade, disse ao site da universidade paulista, o entendimento com a Beihang prevê um centro comum e o lançamento de editais no segundo semestre, para escolher os estudantes brasileiros e chineses que vão participar do intercâmbio, em graduação e pós. Segundo o professor Diao Xungang, será um “laboratório conjunto”, sem detalhar.
Tanto o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, como o da UFRJ, Roberto de Andrade Medronho, estiveram na China para encaminhar os acordos, nos últimos meses. No caso de Carlotti, foi fechado convênio também com a Huawei ICT Academy (academia de tecnologia da informação e de comunicações da empresa chinesa).
Medronho descreveu a criação do centro em Hangzhou e do Instituto de Pesquisa de Inovação Beihang Brasil, segundo o site da universidade carioca, como uma mostra da “profunda integração e confiança mútua, entre a China e o Brasil, nas áreas de educação, ciência e tecnologia”.
O projeto inclui o estabelecimento de um Instituto Confúcio na UFRJ, com apoio do Ministério da Educação chinês. Segundo Diao, será o 14º no Brasil e voltado a intercâmbio cultural, tanto de língua chinesa como portuguesa.
O movimento da Beihang é parte de um projeto de aproximação acadêmica com a América Latina. Há um mês, Xi anunciou 3.500 bolsas de estudo para a região, entre outras ações.
Uma feira de universidades e escolas chinesas passou por São Paulo e outras cidades latino-americanas há duas semanas. Na capital paulista, conseguiu atrair 800 pessoas, inclusive representantes dos governos estadual e municipal.
Diao lembra que chegou a ser discutido se o centro em Hangzhou levaria América Latina no nome. “Mas o Brasil é tão importante. São países grandes, China, Brasil. E o Brasil é um país abrangente, tem todas as indústrias, todas as tecnologias, muitas universidades.”

Fonte: FolhaPress