
Santander revisa projeções e aponta avanços operacionais, liderança no e-commerce e potencial de valorização das ações das principais varejistas de moda do Brasil
Após forte recuperação das ações do setor de moda no Brasil, o Santander revisou suas estimativas e reforçou visão positiva para as principais varejistas listadas na Bolsa brasileira. No acumulado deste ano, os papéis da C&A (CEAB3) sobem 119%, da Lojas Renner (LREN3) avançam 55% e da Guararapes (GUAR3) têm alta de 30%, enquanto o Ibovespa acumula 14% no mesmo período.
O motivo da revisão, segundo relatório dos analistas do banco, é que os ajustes operacionais e estratégicos realizados pelas empresas começaram a gerar resultados visíveis, sustentando a expectativa de crescimento dos lucros para este ano e 2026.
A Lojas Renner assume a primeira posição na preferência dos analistas, apoiada no forte crescimento projetado dos lucros, valuation considerado atrativo, com múltiplo de preço sobre lucro (P/L) de aproximadamente 10 vezes para 2026, o que representa um desconto de 30% em relação à média dos últimos três anos, e elevada liquidez.
Em seguida, aparece a C&A, que mantém uma trajetória de ganhos de produtividade com o programa Energia e negocia a cerca de 9 vezes o P/L estimado para 2026, ainda abaixo do múltiplo da Renner. A Guararapes, por sua vez, mantém recomendação neutra, enquanto o Santander aguarda mais evidências da sustentabilidade da recuperação.
Após enfrentar forte concorrência de varejistas estrangeiras e plataformas de comércio eletrônico entre 2023 e 2024, o mercado brasileiro de moda vive um ambiente mais equilibrado. O aumento de impostos sobre produtos importados e o reajuste de preços promovido pelas varejistas locais contribuíram para que Renner, C&A e Guararapes ampliassem sua participação de mercado em 2024.
Dados preliminares do primeiro trimestre deste ano indicam que essa tendência continua, o que sustenta a projeção de crescimento das vendas nas mesmas lojas (SSS, sigla em inglês para same store sales) acima da inflação até 2026.
No quesito produtividade, a Lojas Renner permanece na liderança. Atualmente, as lojas da C&A operam com um gap de produtividade de 27% em relação à Renner, enquanto o gap da Guararapes é de 37%. O Santander projeta que a C&A deve reduzir essa diferença para 23% até 2027, apoiada pelos avanços do programa Energia.
A Guararapes também deve apresentar melhora, embora em ritmo mais moderado. Um dos diferenciais da Renner, dizem os analistas, está no comércio eletrônico, que já representa 15% das vendas totais em 2024, mais que o dobro das concorrentes. Segundo a companhia, esse canal já opera com margem superior às lojas físicas, o que não ocorre com as rivais.
A análise de rentabilidade também favorece a Renner, que deve apresentar a maior expansão de margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) entre este ano e 2027, com alta de 2,2 pontos percentuais (p.p.) no período.
Na sequência aparecem C&A, com avanço de 1,2 p.p., e Guararapes, com 0,8 p.p. Segundo o Santander, a diluição das despesas operacionais será um dos principais vetores para esse ganho, principalmente no caso da Renner, que entra em uma fase de menores investimentos operacionais após anos de aportes em logística e tecnologia.
A geração de caixa livre (FCF, sigla em inglês para Free Cash Flow) também posiciona a Renner como a empresa mais eficiente do setor, com estimativa de FCF equivalente a 48% do Ebitda em 2026, graças à sua posição líquida de caixa e margens mais elevadas.
Recomendação e riscos
Entre as empresas avaliadas, a C&A teve o preço-alvo ajustado de R$ 14,70 para R$ 23,30, o que representa uma alta potencial de 59%, mantendo recomendação de outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra). Para chegar a esse valor, o Santander adotou um custo médio ponderado de capital (Wacc, na sigla em inglês) de 14,8% e uma taxa de crescimento perpétuo de 4,0%.
O banco aponta como principais riscos a operação da divisão financeira própria, C&A Pay, a recuperação mais lenta da margem bruta na linha de eletrônicos e possíveis efeitos negativos de um ambiente macroeconômico menos favorável.
O preço-alvo da Guararapes, controladora da Riachuelo, passou de R$ 8 para R$ 10, com recomendação neutra e potencial de valorização de 25%.
Para as ações da Lojas Renner, o preço-alvo foi revisado de R$ 18 para R$ 24,30, com recomendação de outperform e expectativa de valorização de 35%. O modelo de avaliação considera um Wacc de 13,0% e uma taxa de crescimento perpétuo de 4,5%.
Entre os riscos mapeados estão crescimento das vendas nas mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês para same store sales) abaixo do esperado, aumento da competição, piora na operação financeira da Realize, com inadimplência (NPL, do inglês non-performing loans) em alta, e dificuldades na gestão logística, que podem gerar ruptura de estoques.
O relatório também atualizou as estimativas para outras empresas do setor. O Grupo SBF (SBFG3), dono da Centauro, teve o preço-alvo definido para o final de 2026 para R$ 10, ante R$ 8 para 2025.
No caso da Vivara (VIVA3), especializada em joias, o preço-alvo foi projetado para o final de 2025, para R$ 28.
A Azzas 2154 (AZZA3), que atua no segmento de vestuário feminino e lifestyle, teve o preço-alvo calculado para o final de 2025 de R$ 51.
Fonte: InfoMoney