
Mesmo sem um modelo regulado, o uso do Pix no exterior já é possível em situações específicas
Comodidade, previsibilidade e segurança ajudam a explicar por que o Pix conquistou os brasileiros. Tanto que, ao planejar viagens internacionais, muitos já querem levar esse recurso na bagagem digital. Além disso, outros países já contam com os seus próprios sistemas de pagamentos instantâneos.
Embora o Banco Central ainda não tenha regulamentado um “Pix internacional”, iniciativas privadas têm viabilizado o uso em outros países, por meio de soluções intermediárias. É o que explica a economista Carla Beni, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) e integrante do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP).
“O que temos são acordos pontuais entre instituições para permitir que estabelecimentos em outros países recebam pagamentos via Pix de brasileiros”, aponta. Segundo ela, isso acontece em alguns comércios específicos em Lisboa, Buenos Aires ou Miami, por exemplo, mas não de forma ampla.
Uma expansão mais estruturada do Pix depende da implementação do sistema Nexus, iniciativa do Banco de Compensações Internacionais (BIS) para integrar pagamentos instantâneos de diferentes países. Quando estiver em pleno funcionamento, os brasileiros conseguirão enviar e receber valores pelo Pix fora do país com mais facilidade e clareza sobre taxas e cotações.
“A previsão é que seja possível a interligação de mais de 60 países, com conversão de moedas em tempo real dentro do próprio aplicativo bancário”, reforça Carla.
Como o Pix funciona em outros países?
Mesmo sem um modelo regulado, o uso do Pix no exterior já é possível em situações específicas. O Braza Bank, por exemplo, atua como intermediário entre o consumidor brasileiro e estabelecimentos parceiros em Portugal, Estados Unidos e Paraguai.
Em terras lusitanas, a fintech permite que o turista brasileiro pague em real. Nesse caso, o valor é convertido para euros, sendo repassado à loja local por meio de parcerias com adquirentes como a UniCre.

“Temos dois modelos de atuação: em alguns casos, repassamos o valor direto para a conta da loja. Em outros, fazemos a transferência para o credenciador local, que então liquida com o lojista”, explica Marcelo Sá, diretor de Negócios do Braza Bank.
Quanto à cobrança de taxas, o executivo frisa que a tarifa não está sobre o Pix em si, que continua gratuito e sem tarifas. “Mas há cobrança no serviço de câmbio e liquidação internacional”, completa.
Mesmo com a incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que inclusive passou por mudanças recentes, ele afirma que o modelo ainda é competitivo frente ao cartão de crédito, que costuma embutir spreads cambiais (diferença entre o preço de compra e venda de uma moeda estrangeira) de cerca de 5%.
Quando usar o Pix no exterior?
O planejador financeiro Jeff Patzlaff destaca que o Pix é mais vantajoso em situações em que o viajante deseja previsibilidade no gasto. “No cartão de crédito, a cotação do dólar pode variar entre o momento da compra e o fechamento da fatura. No Pix, a conversão é imediata, e o valor em reais já é conhecido.”
Ele recomenda observar o contexto da viagem, comparar custos totais e considerar também a conveniência. “Ter mais de uma opção de pagamento é sempre interessante. Se o cartão não funcionar ou o dinheiro acabar, o Pix pode ser um plano B eficaz”, afirma Patzlaff.
Além disso, o planejador reforça que antes de realizar uma transação, o turista brasileiro deve verificar a taxa de câmbio aplicada e o valor do imposto sobre as operações financeiras no momento da compra, a fim de evitar surpresas depois.
“Com a nova regra do IOF, o Pix feito no exterior também tem a incidência de 3,5%, aumentando um pouco o valor das compras internacionais. Mas, mesmo assim, continua sendo uma forma segura e prática para compras no exterior.”
Pagamentos instantâneos ao redor do mundo
A ideia de pagamentos instantâneos não é exclusividade brasileira. Diversos países já contam com sistemas semelhantes ao Pix, desenvolvidos com o objetivo de facilitar transações rápidas e seguras entre contas bancárias.
Esses modelos, embora distintos em nomenclatura e abrangência, seguem a mesma lógica de operação imediata e vêm ganhando espaço ao redor do mundo. Veja abaixo:
– Reino Unido: o Faster Payments System permite transferências em segundos entre contas, 24 horas por dia; |
– União Europeia: o sistema SEPA Instant Credit Transfer (SCT Inst) possibilita transferências em euros em até 10 segundos; |
– Estados Unidos: o FedNow, lançado em 2023, é uma iniciativa do Federal Reserve para agilizar transferências entre bancos; |
– Índia: o UPI (Unified Payments Interface) é um dos sistemas mais avançados, permitindo transferências entre diferentes bancos e carteiras digitais; |
– Austrália: o NPP (New Payments Platform) também permite pagamentos instantâneos e opera 24 horas por dia. |
Apesar das similaridades, os especialistas frisam que o diferencial do sistema brasileiro está na ampla adesão da população e no desenvolvimento de funcionalidades acessórias, como Pix Agendado, Pix Cobrança e, a partir da próxima semana, o Pix Automático.
Fonte: InfoMoney