Economia
Terça-feira, 13 de maio de 2025

Ser ministro da Fazenda não é o pior emprego do mundo, é fascinante, diz Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou que seu atual cargo seja “o pior emprego do mundo”. “Eu não considero, é muito fascinante”, disse em entrevista ao Uol nesta segunda-feira, 12. Ele complementou destacando, porém, que considera o trabalho mais difícil do que o desempenhado na prefeitura de São Paulo.

A fala ocorre em um contexto de diferentes pressões sobre o ministério, com a taxa básica de juros, a Selic, em seu patamar mais alto de 2006, inflação fora do teto da meta e projeções de que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) desacelere para cerca de 2% segundo a última edição do Boletim Focus.

A expressão “pior emprego do mundo” foi cunhada pelo jornalista e consultor Thomas Traumann, autor do livro “O Pior Emprego do Mundo”, que reúne narrativas de 14 ex-ministros da Fazenda sobre suas passagens pelo cargo.

Na mesma entrevista, Haddad disse discordar das projeções do mercado financeiro. Para o ministro, o governo deverá entregar um crescimento econômico de 2,5% neste ano, e Lula fechará seu mandato com uma taxa média do PIB acima dos 3%.

“Eu acredito que a economia brasileira tem condições de crescer de forma equilibrada a uma taxa próxima da média mundial. Não vejo razão para o Brasil crescer menos”, afirmou.

“O presidente Lula vai entregar um país muito melhor do que recebeu”, defendeu o ministro. Entre as conquistas mencionadas, Haddad destacou a reforma tributária como o “maior legado” que seu trabalho na Fazenda deixará e citou a unificação de diversos impostos no IVA (Imposto sobre Valor Agregado) como a “modernização” do sistema brasileiro de tributos.

Haddad quer reforma ‘global’ do IR

Haddad comentou também o projeto de isenção do Imposto de Renda (IR) para pessoas com renda mensal inferior a R$ 5 mil. Atualmente, a proposta encontra-se na Câmara dos Deputados, onde será avaliada por uma comissão especial sob comando do relator Arthur Lira (PP-AL).

“É a primeira vez que um governo muito progressista apresenta uma proposta para fazer o mínimo de justiça e tem gente reclamando. Essa proposta tinha que ser aprovada em 15 dias”, disse o ministro.

Haddad disse que não saber os pensamentos de Lira sobre o projeto, porém elogiou a habilidade do deputado de negociação. “Penso que o deputado Arthur Lira está dedicado a reforma da renda, e a reforma da renda começa com esse projeto. Nós temos um grande capítulo a enfrentar, a reforma global da renda, que tem muitas distorções.”

Meta fiscal

Questionado sobre como o ministério planeja conduzir a inflação para a meta, Haddad defendeu que o governo cumpra as regras estabelecidas pelo atual arcabouço fiscal. “A Fazenda não está pensando em nada, do ponto de vista fiscal, além de cumprir as metas estabelecidas, não há outro plano de voo que não seja esse”, disse.

Haddad afirmou também que o governo está “pagando a conta” por conta de gastos contratados antes do atual governo, e numerou como exemplos a ampliação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), o crescimento das emendas parlamentares, o adiamento do pagamento de precatórios e a “tese do século”, decisão do Supremo que excluiu o ICMS da base do PIS/Cofins.

Em 2025, o ministério da Fazenda busca perseguir o déficit zero. Já em 2026, terá de conquistar um superávit primário de 0,25% do PIB para que seja cumprida a meta fiscal.

No ano passado, o governo federal tinha a meta de um déficit que não ultrapassasse 0,25% do PIB. Sem contabilizar os gastos com o Rio Grande do Sul e outras despesas excluídas do cálculo através do estabelecimento de créditos extraordinários, o rombo ficou em R$ 11,032 bilhões, correspondente a 0,09% do indicador. Ao contabilizar todas as despesas e receitas, a diferença ficou negativa em R$ 43,004 bilhões, equivalentes a 0,36% do PIB.

Fonte: IstoéDinheiro