
A intensidade do crescimento econômico brasileiro este ano é o debate do momento e, também, motivo de divergências entre o Banco Central e parte do mercado financeiro. Com o choque de juros promovido desde o segundo semestre de 2024, existe consenso de que o ritmo do nível de atividade econômica será menor. A dúvida é de quanto será a queda. E o dado tem relevância para as expectativas de inflação dos agentes econômicos que ainda permanecem elevadas e preocupam o Banco Central.
Depois do crescimento de 3,4% no ano passado, a equipe do ministro Fernando Haddad (Fazenda) estima que o PIB subirá 2,3% este ano, o Banco Central, projeta 1,9% e o boletim Focus, que consolida projeções do mercado financeiro, aponta para 2%. Mas essas projeções ainda não incorporam o efeito do tarifaço da gestão Donald Trump, que tem forte reflexo nas transações comerciais no mundo.
Em conversas recentes com o mercado financeiro, segundo apurou o PlatôBR, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, avaliou que economistas e analistas financeiros estão subestimando o impacto da crise mundial deflagrada pela política protecionista do governo Donald Trump. Nesta quarta-feira, 30, o Departamento de Comércio americano divulgou uma retração de 0,3% na economia do país. É um primeiro sinal em direção à recessão esperada para os Estados Unidos. Não elimina, porém, as incertezas sobre o desempenho de uma das maiores economias do planeta, com reflexos internacionais generalizados.
No Brasil, Galípolo soma ao impacto de uma desaceleração mundial o esforço dos diretores do BC para segurar os aumentos de preços, que inclui um choque de juros nada desprezível. A taxa Selic, referência para economia, estava em 10,5% ao ano até meados de setembro, e passou para 14,25% ao ano em março de 2025, com indicativo de nova alta na reunião do Copom da semana que vem. O mercado aposta que os juros podem chegar a 15% ao ano em 2025. Ainda assim, analistas projetam inflação de 5,5% este ano, acima do teto de 4,5% previsto para o governo. O número também segue elevado também para 2026: 4,51%;
Esta semana, os dados do comportamento do crédito no país divulgados pelo BC mostram, na avalição de especialistas, uma resistência desproporcional ao tamanho do aumento do custo do crédito promovido pelos diretores do banco, o que realimenta o debate no mercado financeiro. “O mercado de crédito é o principal canal de transmissão da política monetária e os sinais ainda são fracos do impacto da alta dos juros”, diz o economista Roberto Padovani (Banco Votorantim). Para ele, as condições de renda também ainda são favoráveis e há impulsos do governo ao consumo com programas sociais e estímulo ao crédito. “Além disso, o crescimento da economia no primeiro semestre será impactado pela safra agrícola que deverá ser recorde. Somente no segundo semestre, teremos maior condições de avaliar com maior clareza as variáveis importantes para o crescimento”, diz.
Pelos dados do BC, o estoque de crédito para pessoas físicas e empresas subiu 0,65% em março, bem como as concessões no mês (2,7%). Além disso, dados do Ministério do Trabalho apontam que a taxa de desemprego subiu de 6,2% em dezembro de 2024 para 7% no primeiro trimestre do ano. No entanto, ainda é o menor patamar desde 2012 para o período. A renda média também bateu recorde da série histórica: R$ 3,410 mil. Os dados corroboram o modelo de crescimento adotado pelo governo e que se ancora no consumo e em investimentos produtivos privados.
Fonte: PlatôBR