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Terça-feira, 29 de abril de 2025

Retorno da 99Food ao Brasil alimenta guerra de preço no mercado de delivery de comida

O retorno da 99Food ao Brasil, serviço de delivery de refeições da 99, deve alimentar uma guerra de preços em um mercado dominado pelo gigante iFood.
A empresa vai anunciar nesta terça-feira (29) a estratégia que pretende adotar para ganhar mercado no país, e a primeira aposta é a redução de taxas sobre os restaurantes.
A companhia promete passar dois anos sem cobrar mensalidade nem comissão dos estabelecimentos que se cadastrarem na plataforma. Haverá apenas o custo referente à entrega do produto para o consumidor, que varia conforme fatores como distância, tempo, oferta e demanda, segundo a 99.
Para o consumidor final, o lançamento está previsto para os próximos meses. Para os restaurantes, o cadastro já será aberto nesta terça-feira em todos os estados do país, mas o início das operações vai acontecer em etapas. Segundo a empresa, os estabelecimentos serão avisados com 30 dias de antecedência do início da operação em cada região.
Especialistas no setor avaliam que a chegada agressiva da 99Food estimula as concorrentes iFood e Rappi a reagir com promoções. Um outro ingrediente que tem sensibilizado o setor são as expectativas de que a gigante chinesa do delivery Meituan também esteja interessada em ingressar no país derrubando preços para ganhar participação de mercado.
A partir de segunda-feira (5), a Rappi também vai zerar suas taxas de intermediação, segundo Felipe Criniti, CEO da empresa no Brasil. O executivo nega que a medida seja uma reação à chegada da 99Food e afirma que se trata de um plano elaborado desde o fim do ano passado para expandir a participação da Rappi no mercado brasileiro de delivery de comida, que hoje gira em torno de 8%.
Para Bruno Rossini, diretor sênior da 99, além de ajudar a reduzir a concentração do mercado brasileiro de entrega de comida, o retorno da 99Food deve contribuir para baixar os preços dos cardápios para o consumidor final.
Segundo o executivo, em muitos restaurantes, o produto do delivery é mais caro do que o do estabelecimento físico porque precisa cobrir os custos impostos pelos aplicativos de entrega.
De acordo com simulações calculadas pela 99Food com base em médias praticadas pelo mercado, em um pedido de R$ 100, o comerciante perde R$ 26,20, que são pagos com 12% de comissão, 11% de taxa de delivery e 3,2% de transação de pagamento, ficando com menos de R$ 74. A empresa promete que no modelo da 99Food, sem pagar comissão, o comerciante terá um custo de apenas R$ 7,70 em um mesmo pedido de R$ 100, sendo 4,5% de taxa de delivery e 3,2% pela transação de pagamento, ficando com mais de R$ 92.
Para Rossini, em seu retorno ao país, a companhia tem potencial de movimentar a concorrência porque já chega com uma base de clientes de mais de 55 milhões de usuários da 99, aos quais os restaurantes terão acesso.
Braço de entrega de comida da 99, empresa controlada pela chinesa Didi, a 99Food operou no Brasil por um curto período, entre 2019 e 2023, mas desistiu em meio aos dilemas concorrenciais discutidos no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Antes da saída da 99Food, o mercado brasileiro de delivery já dava sinais de estresse. No ano anterior, a Uber anunciou o fim de seus serviços de entrega de refeições de restaurantes pelo Uber Eats no Brasil. A marca era a segunda colocada no mercado, atrás do iFood.
O presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Paulo Solmucci, afirma que o delivey de comida no Brasil vem evoluindo nas questões concorrenciais, com medidas como a proibição em contratos de exclusividade pelo iFood, mas ainda enfrenta alta concentração.
“Temos sempre que celebrar a chegada de novas empresas para elevar a competição, mas não podemos perder a vigilância sob o ponto de vista de garantir um mercado mais competitivo. Por isso, continuamos em interlocução com o Cade para garantir um ambiente saudável de competição no país”, afirma Solmucci.
Procurado pela reportagem, o iFood afirmou que oferece “diferentes modelos de parceria, com mensalidades que variam entre R$ 110 (para estabelecimentos do plano básico) e R$ 150 (para quem opta pelo plano entrega, o que inclui todas as vantagens do plano básico mais o serviço de entregadores conectados ao app), aplicadas apenas para restaurantes que ultrapassam R$ 1.800 em vendas no mês.

Fonte: FolhaPress