
Metal sobe em meio à fuga de ativos dos EUA e incertezas sobre independência do Fed; mercado falar em narrativa de “venda da América”.
O ouro ultrapassou os US$ 3.500 por onça pela primeira vez nesta terça-feira (22), em meio à forte demanda por ativos de proteção diante dos rumores de que o presidente Donald Trump poderia demitir o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. O temor gerou uma onda de vendas em ações, títulos e no dólar.
O metal chegou a subir 2,2% no dia, antes de perder força com a realização de lucros. Iene, franco suíço e ouro têm liderado os ganhos entre os ativos considerados seguros, impulsionados pelos apelos de Trump para que o Fed corte os juros imediatamente — um gesto visto como ameaça à autonomia do banco central, que levou o dólar ao menor nível desde 2023.
“A alta acelerada do ouro neste ano mostra que os mercados têm menos confiança nos EUA do que nunca”, afirmou Lee Liang Le, analista da Kallanish Index Services. “A narrativa do ‘Trump Trade’ virou uma narrativa de ‘venda da América´.
Trump retomou argumento de que “praticamente não há inflação” no país, em publicação divulgada nesta manhã na Truth SocialTrump volta a pedir corte de juros e chama Powell de “Sr. Tarde Demais”Na rede Truth Social, Trump alerta que pode haver uma desaceleração da economia, “a menos que o Sr. Tarde Demais, um grande perdedor, reduza as taxas de juros”
O ouro acumula valorização de um terço em 2025, beneficiado pelas tensões comerciais que abalaram os mercados e corroeram a confiança nos ativos atrelados ao dólar. A demanda por ETFs lastreados em ouro e a compra por bancos centrais têm sustentado o movimento, com ganhos registrados em todos os meses do ano.
“A valorização do ouro mostra que há uma busca por diversificação fora dos ativos em dólar em direção a uma gama mais ampla de portos seguros”, disse Kamakshya Trivedi, chefe de estratégia global de câmbio, juros e emergentes do Goldman Sachs, à Bloomberg TV.
Os bancos têm elevado suas projeções para o metal à medida que o rali se fortalece. O Goldman Sachs prevê que o ouro pode alcançar US$ 4.000 por onça até meados do próximo ano. Segundo o Jefferies, o ouro pode ser “o único verdadeiro ativo de proteção que resta”, num momento em que investidores questionam até mesmo a segurança dos Treasuries.
Apesar disso, a disparada recente elevou indicadores técnicos que sugerem uma possível pausa no movimento. O índice de força relativa de 14 dias — que mede ritmo e intensidade de variações — passou de 78, acima do nível de 70, que indica sobrecompra.
“O ouro está extremamente sobrecomprado no curto prazo, o que o torna vulnerável a uma correção. Isso, no entanto, não deve ser confundido com sua trajetória de médio prazo: o ouro se comporta melhor em momentos de estresse econômico global, e a escala da incerteza atual é imensa”, avalia Ven Ram, estrategista macro da Bloomberg.
O ouro à vista operava em alta de 0,9%, a US$ 3.454,88 por onça, às 6h37 de Brasília, após ter renovado a máxima histórica. O índice Bloomberg Dollar seguia estável, a prata recuava, enquanto paládio e platina subiam.
A disparada do ouro também impulsionou ações de mineradoras. Em Hong Kong, os papéis da chinesa Zijin Mining Group chegaram a subir mais de 6% no dia e acumulam alta superior a 25% no ano.
Fonte: InfoMoney