Economia
Domingo, 30 de março de 2025

Impacto do consignado CLT ainda não entrou nas projeções do BC, diz Gabriel Galípolo

O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou que possíveis impactos da expansão do crédito consignado privado no Brasil não foram contabilizados nas últimas projeções da autarquia. A fala ocorreu durante a coletiva de imprensa de apresentação do Relatório de Política Monetária divulgado nesta quinta-feira, 27.

“A gente tem visto desde o lançamento do consignado privado estimativas que variam muito em magnitude sobre qual deveria ser o impacto”, explicou Galípolo.

“Inicialmente estimativas maiores, agora menores. Há muita dúvida sobre quanto isso representa um fluxo novo de crédito ou uma substituição de dívida antiga por nova, e sobre como isso vai se desdobrar no tempo. Há uma série de dúvidas e a resposta é: não, não consideramos ainda em nossas projeções”, seguiu.

O programa de crédito consignado para trabalhadores CLT registra mais de 55 mil contratos firmados que somam R$ 340 milhões em empréstimos, segundo último balanço divulgado pelo governo na terça-fera, 25. Seu lançamento oficial foi na última sexta-feira, 21.

O Relatório de Política Monetária reúne dados e projeções realizadas pelo BC para diferentes indicadores econômicos como inflação, PIB, crédito, preços das commodities e situação fiscal.

Galípolo afirmou que tampouco foram considerados impactos de uma possível ampliação da isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil. “É um projeto de lei ainda”, disse.

Segundo o presidente do BC, no entanto, já entraram nos cálculos a liberação de recursos do FGTS para quem optou pela modalidade saque-aniversário durante o período entre 2020 e fevereiro de 2025. Ao todo, a Caixa irá realizar o pagamento de cerca de R$ 12 bilhões para aproximadamente 12,2 milhões de trabalhadores.

Galípolo: indicadores econômicos estão ‘incômodos’

Gabriel Galípolo prepara-se para escrever em junho sua segunda carta de justificativa do descumprimento das metas de inflação. A primeira foi publicada em janeiro e refere-se ao ano de 2024, quando a autarquia estava sob gestão do presidente anterior do BC, Roberto Campos Neto.

Sob a nova regulamentação em vigor a partir de 2025, o presidente do BC deve apresentar sua carta se a alta dos preços permanecer por seis meses consecutivos fora da meta. As atuais projeções do órgão indicam que a inflação não convergirá para a meta antes da metade do ano.

Ainda assim, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que em sua próxima reunião promoverá uma alta de menor magnitude na taxa básica de juros, a Selic. No dia 19 de março, o órgão elevou em um ponto percentual a taxa, de 13,25% para 14,25% ao ano.

Galípolo afirmou que a desaceleração da alta busca garantr maior liberdade em um cenário de incertezas. “O BC entende como funciona esse mecanismo de transmissão. Você dá o remédio agora, o remédio vai ter um efeito ao longo do tempo. A percepção de que esse remédio está funcionando ou não vai vir ao longo do tempo”, explicou.

“O BC tem consciência que esse é um momento mais incômodo do ponto de vista de indicadores econômicos, com uma taxa de juros caminhando para um patamar elevado do ponto de vista de contração e uma inflação rodando em cima da meta. A gente espera que isso vai começar a bater na atividade”, disse Galípolo.

O Relatório de Política Monetária indica que, no atual cenário, a meta de inflação só seria alcançada em 2027. Questionado sobre um plano para antecipar este objetivo, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Abry Guillen, afirmou que esta informação deverá constar na carta a ser apresentada em junho.

Fonte: IstoéDinheiro