
Aposentados do Banco do Brasil ouvidos pela CNN avaliam que auditoria do TCU ajudará a melhorar gestão do fundo
Aposentados da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ) ouvidos pela CNN temem que seus direitos estejam em risco com os desdobramentos recentes em torno do fundo de pensão.
Na esteira da auditoria, o fundo buscou se defender, afirmando que seus planos estão em equilíbrio e que não há “risco de equacionamento, nem de pagamento de contribuições extraordinárias pelos associados ou pelo Banco do Brasil (BB)”.
Ainda assim, Edvaldo Sebastião de Souza, aposentado da Previ de 65 anos, vê o cenário com preocupação.
“Pode ser uma evidência de más decisões de investimentos e de influência externa na gestão da Previ, a exemplo do passado”, disse Edvaldo à CNN.
Ele é uma das lideranças dos aposentados da Previ, sendo um dos signatários de manifesto organizado por pensionistas de diversos fundos em defesa da auditoria do TCU.
“Todo controle externo que possa auxiliar a aperfeiçoar a gestão da Previ, é ou deveria ser sempre bem-vinda pelos participantes. Entendemos que o ministro Walton Alencar Rodrigues acertou em sua decisão. Tenho certeza que a grande maioria dos participantes aplaudiu essa iniciativa do TCU.”
Francisco Reinoldo Schwarz, que contribuiu com a Previ desde 1974 e está aposentado desde 2015, aponta para uma desconfiança quanto ao futuro da Previ, mesmo que o fundo afirme que os planos estão estáveis.
“Esses fatos acenderam a luz vermelha para o risco de um Plano de Equacionamento de Déficit [PED]”, observou, relembrando de episódios de crise em outros fundos de previdência.
Em nota à CNN, a Previ reiterou que não há risco de suspensão de pagamento ou de necessidade de se colher contribuições extraordinárias para garantir sua sustentabilidade.
“Em 120 anos de história, a Previ nunca precisou acionar planos de equacionamento. Ao contrário: a Previ teve sucessivos superávits, que permitiram a distribuição, entre 2006 e 2013, de R$ 25 bilhões – em valores da época que, atualizados, ultrapassariam os R$ 45 bilhões – na forma de benefícios aos associados”, citou o fundo em nota.
A situação da Previ traz à tona histórias de outros fundos de pensão que passaram por dificuldades.
Postalis (Correios), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal) passaram por momentos em que seus beneficiários e a União tiveram de entrar com recursos extras para suprir rombos e assim garantir a continuidade.
“Efeito cascata” no mercado
“[Me senti] muito mal [com os equacionamentos], não só pelo prejuízo e pela redução do valor da complementação da aposentadoria, mas também por saber que estava pagando por um rombo que não fui eu que causei”, apontou Paulo Édison Tocchetto, contribuinte do Postalis desde 1981.
“A situação atual na Previ, com a nomeação de representante partidário e não técnico para presidência, já antevia o que iria acontecer, ou seja o mesmo que aconteceu nas gestões anteriores dessa linha partidária. Só com eles que os fundos dão prejuízo”, complementa Tocchetto.
O aposentado dos Correios teme que esse cenário continuará se repetindo em outros fundos se indicações de gestores “sem compromisso nem capacidade para o cargo” continuarem ocorrendo por vontade política.
Rafael Zattar, professor de finanças e fundador da Carteira Z, ressalta que o rombo da Previ não afeta diretamente outros fundos de pensão, já que cada um tem sua própria carteira de investimentos e gestão independente.
“Esse rombo da Previ pode mexer bastante com o setor de previdência complementar porque um buraco desse tamanho num dos maiores fundos do país acende um alerta para todo o sistema”, aponta o analista financeiro”, afirma.
Para ele, primeiramente, “o mercado pode ficar mais preocupado com a gestão dos fundos de pensão em geral. Outra consequência pode ser um impacto na confiança dos participantes dos fundos de pensão. Muitos aposentados e trabalhadores que contribuem para esses fundos podem ficar inseguros ao ver um rombo desse tamanho na Previ”.
Celso Pinto Mangueira, 78 anos, aposentado dos Correios e pensionista do Postalis, também se preocupa com a repercussão que o caso pode gerar para outros fundos.
“Em razão dos modus operandi serem os mesmos e o comando dos fundos de pensões estar na mão de pessoas sem qualquer vínculo com as entidades, sem princípios de moralidade e são cooptadas pelos responsáveis pela sua indicação para agir de modo contrário aos reais interesses dos fundos”, reclama Celso.
O Plano de Benefício Definido (PBD) do Postalis vem apresentado problemas desde o começo dos anos 2010. Em 2015, foi iniciado um equacionamento do déficit do PBD saldado.
Em nota à CNN, o Postalis reforça que sua diretoria “segue empenhada na busca de alternativas viáveis que atendam às exigências legais e financeiras do PBD, sempre conciliando a sustentabilidade do plano com as necessidades dos participantes, assistidos e pensionistas”.
Em nota, o fundo afirma que “atual gestão do Postalis tem como prioridade a sustentabilidade dos planos de benefícios e a segurança dos participantes, assistidos e pensionistas”.
Fonte: CNN