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É no início do ano que desembarcam em Aspen os “brazilionaires”, apelido que que os moradores dão aos brasileiros endinheirados que desfrutam o luxo da famosa estação de esqui nas montanhas do Colorado, região central dos Estados Unidos.
Depois dos americanos e dos australianos, os brasileiros e os mexicanos são os principais responsáveis por quadruplicar o número de pessoas na cidadezinha de 7.000 habitantes durante a temporada de inverno, de 23 de novembro a 20 de abril.
Frequentada por famílias e celebridades em SUVs gigantes, Aspen é um símbolo de status para diferentes públicos. Seja para esquiar nas quase cem trilhas distribuídas em quatro montanhas (Aspen, Snowmass, Buttermilk e Highlands), fazer compras em lojas de grife mundiais, conhecer o museu de arte contemporânea e diversas galerias, comer em bons restaurantes, relaxar em spas e piscinas aquecidas ou só admirar a paisagem coberta de neve, o pressuposto é ter muito dinheiro.
Quem já esquia com desenvoltura aproveita a praticidade de acessar pistas de diferentes níveis das quatro montanhas com um só ticket -que chega a US$ 254 (R$ 1.470) por dia ou US$ 1.568 (R$ 9.095) para sete dias.
Mas Aspen também é ideal para quem esquia pela primeira vez, já que as aulas não ocorrem na base da montanha, como na maioria das estações, mas sim no topo de Snowmass, a mais indicada para iniciantes, o que permite ao novato o prazer de andar de gôndola e teleférico.
Quem é brasileiro pode pedir por instrutores que falam português, time que inclui ninguém menos do que Isabel Clark, atleta que representou o Brasil no snowboard em três Olimpíadas de inverno. A aula privada para até cinco pessoas custa a partir de US$ 1.100 (US$ 6.380) por dia (das 9h às 15h). Já a aula em grupos de cinco varia entre US$ 300 (R$ 1.740) e US$ 400 (R$ 2.320).
Antes de se submeterem a inevitáveis quedas até ganharem confiança para deslizar, os marinheiros de primeira viagem podem alugar capacete, bota e esqui em uma das lojas do complexo, a Four Mountain Sports (até US$ 100 a diária ou R$ 580) ou sua irmã premium, a Aspen Collection (US$ 150 a diária ou R$ 870), que tem botas com aquecimento eletrônico e serve de café a vinho.
Palavra de ordem em Aspen, exclusividade significa não ter que enfrentar longas filas para os teleféricos mesmo no pico da temporada, além de usufruir de mimos e comodidades, como corredores de ônibus gratuitos entre as montanhas para evitar o trânsito ou funcionários que colocam seu esqui na gôndola para você.
Aspen não quer se democratizar, pelo contrário. Além dos preços, a localização a mantém isolada do turismo de massa. São cerca de quatro horas de carro a partir de Denver -quem pretende apenas passar o dia acaba lotando outras estações mais próximas.
Isso deixa Aspen livre para quem se locomove em jatinhos, que chegam a congestionar o pequeno aeroporto de madeira a 10 minutos da cidade. Voos comerciais domésticos também aterrissam ali -deixando a estação a uma escala do Brasil.
“Algumas pessoas se sentem intimidadas em vir aqui por causa do nome Aspen, mas é muito acolhedor. Se você é um bilionário, pode vir no seu jatinho, ótimo. Mas se você economizou para essas férias, será tratado da mesma forma”, diz Rose Abello, ex-diretora de turismo da vila de Snowmass e ex-diretora de comunicação da Aspen Skiing Company, empresa que opera o complexo.
Frequentar uma estação de esqui exige, porém, adquirir um novo vocabulário. O “aprés-ski”, do francês depois, é o happy hour regado a drinques que toma conta de restaurantes e hotéis após as 15h, quando as pistas de esqui fecham e dão lugar às do DJ.
Já “ski-in ski-out” caracteriza hotéis e condomínios a passos de distância das gôndolas, em que a ideia é sair esquiando e não precisar de carro. Além de Aspen, é possível se hospedar na vila de Snowmass, mais tranquila e menor, onde 95% das propriedades são “ski-in ski-out” e onde crianças patinam na pista de gelo e assam marshmallows distribuídos diariamente às 15h30.
Mas Aspen não foi sempre badalação. Habitada originalmente pelos indígenas ute, viveu da mineração e acabou abandonada após o declínio da atividade no final do século 19. Nos anos 1940, foram fundadas a estação de esqui e o Instituto Aspen sob o slogan de renovar “corpo, mente e espírito”.
Se tem um lugar onde a natureza e a cultura se sobrepõem à ostentação é no campus do instituto. Com estilo Bauhaus, foi desenhado pelo modernista Herbert Bayer e abriga um museu imperdível e o hotel Aspen Meadows -onde pensadores se reúnem todo ano durante o verão no festival Aspen Ideas.
“Aspen não é fabricada, é autêntica e está aqui há muito tempo. A cultura da montanha acaba se manifestando de alguma forma”, diz Geoff Buchheister, CEO da Aspen Skiing Company, a respeito da cidade que conserva seu charme em predinhos históricos de tijolos e chega a parecer um cenário de estúdio.
O hotel mais caro de Aspen, o The Little Nell, um cinco estrelas “ski-in ski-out”, oferece as melhores opções em dois clichês do inverno -vinho e chocolate quente. Para ser paparicado por funcionários extremamente solícitos, a diária na próxima temporada custa US$ 1.800 (R$ 10.440).
“Você vai sentir a pessoa te pegando no colo e te levando, esse é o atendimento aqui”, diz a brasileira Isabela Pires, que trabalha na Aspen Collection. Pressionados pela concentração de super-ricos, os moradores sofrem para pagar aluguel ou se mudam para cidades vizinhas. “Dá para fazer dinheiro aqui se você for safo, tem que ter um emprego que te ofereça moradia e comissão.”
Para quem apenas visita Aspen, permanece a dúvida se a essência da comunidade sucumbiu à pompa. Connie Powers, diretora do Aspen Meadows e cuja família está na cidade há cinco gerações, busca uma conciliação: “Não podemos negar que existem os bilionários e toda essa abundância, mas existe um motivo pelo qual as pessoas com dinheiro para morar em qualquer lugar escolhem Aspen”.
Fonte: FolhaPress